Nota 4 Jovem introspectiva sai de seu mundo reservado com a ajuda de uma criança e um paquera
O título é bem simpático, poderia ser uma alusão a algo do tipo quando um não quer dois não brigam, mas na realidade o filme em si é estranhíssimo. As operações matemáticas já estiveram presentes em alguns filmes como os premiados Gênio Indomável e Uma Mente Brilhante, mas a diretora Marilyn Agrelo se perdeu entre os números e a poesia em Matemática do Amor. Baseado no livro "An Invisible Signo f My Own", de Aimee Bender, o longa é mais um a explorar o filão dos filmes sobre professores que inspiram e transformam a vida de alunos, todavia, está longe de ser comparado aos grandes trabalhos do gênero, interessando mesmo (com esforço) a apenas aficionados por draminhas românticos. O roteiro criado por Pam Falk e Mike Ellis apresenta uma inversão narrativa sendo a professora no caso quem precisa de ajuda. O filme narra a história de Mona Gray (Jessica Alba), uma jovem que desde a infância demonstrava uma grande capacidade para lidar com números, algo que aprendeu com seu pai (John Shea), a quem idolatrava e o seguia na paixão pela matemática e pelas corridas ao ar livre. Certo dia, durante uma das práticas do esporte, seu pai acabou sentindo-se mal e tal episódio transformou a vida da garota completamente. Debilitado por uma espécie de colapso nervoso e afetado por um distúrbio mental, o matemático fica submetido aos cuidados de sua esposa (Sonia Braga) e Mona acaba sentindo-se desmotivada e sem rumo a seguir na vida.
A jovem simplesmente abdica de tudo o que gostava de fazer, restando-lhe apenas os números como companhia e distração, como se fosse um pacto com o universo ou uma promessa a algum santo em troca da recuperação da saúde de seu pai, mas infelizmente tudo é em vão. Tal ideia estapafúrdia surgiu das memórias que ela tinha sobre um conto de fadas que seu pai costumava lhe contar. Aliás, a sequência que abre a obra é justamente uma animação que ilustra tal história, uma fábula sombria na qual um rei ordena que cada família tenha um de seus membros executados como forma de sacrifício para o bem de todo o reino que sofria com a falta de espaço e o excesso de habitantes, mas uma em especial consegue abrandar a exigência, assim cada pessoa do clã perdeu apenas uma parte do corpo. Bizarro demais? Ao menos a introdução já dá mais ou menos ideia do que vem por aí. Mona então cresceu levando adiante a mensagem do conto, assim acabou se tornando uma mulher infeliz que se sente culpada toda vez que recobra a esperança ou o prazer da vida, afinal ela não deve ter se sacrificado o suficiente pelo seu pai. A situação chegou a um ponto insustentável que até sua mãe não aguentou e expulsou a filha de casa, mas tal ato não foi por maldade, apenas uma maneira forçada de fazê-la entender que ela não poderia parar sua vida em função de outra pessoa e que precisava se abrir para o mundo e novas oportunidades.
Realmente o empurrãozinho foi benéfico. Aos poucos Mona mudou sua personalidade, passou a encarar o amadurecimento de frente e acabou se tornando uma professora de matemática para crianças mesmo não sendo graduada na área, apenas contando com o voto de confiança da diretora da escola que é muito amiga de sua mãe (ai se a moda pega). Contudo, a obsessão da moça por algarismos e contas não passou e ela usa seus conhecimentos para lidar com um mundo que para ela é imprevisível e no qual ela se sente um número estranho em meio a uma grande equação em que somatórias e subtrações acontecem a todo o momento. Quando se sente nervosa ela costuma bater na madeira compulsivamente e a imaginar numerais, praticamente um exercício alternativo de relaxamento. Apesar das dificuldades , é justamente dando aulas que a vida de Mona vai ganhar novas emoções. Vai descobrir, por exemplo, que lidar com o sofrimento de alguém não significa necessariamente precisar mergulhar em um estado emocional semelhante e curiosamente tal lição quem lhe dará será uma de suas alunas, a meiga Lisa (Sophie Nyweide), cuja mãe está prestes a falecer por conta de um câncer e se apega a nova professora em busca de apoio, mas a situação acaba colocando as duas no mesmo barco tendo que ligar com suas fragilidades, consequentemente uma ajudando a outra nessa tarefa. Mona também experimentará emoções positivas como o carinho que passa nutrir por um colega de trabalho, o professor de ciências Ben Smith (Chris Messina) que corresponde às expectativas, mas obviamente ela também terá receios de levar essa relação adiante.
Se cabem alguns elogios à produção eles devem ser feitos justamente por esse gancho de autoajuda, tramas paralelas que mostram que é necessário sair da clausura para as coisas mudarem, nada cai do céu. É preciso experimentar algo diferente antes de sentir repulsa. A boa premissa, embora desenvolvida de maneira estranha, poderia resultar em um bom produto, mas a diretora acabou realizando uma obra por vezes confusa e enfadonha. A introdução atípica, os transtornos diferenciados da protagonista, uma relação amorosa meia boca e na reta final um gancho dramático forçado, tudo regado a diálogos que não raramente soam tolos ou mal encaixados. Ainda assim, a proposta de longa de autoajuda pesa na hora de muitos avaliarem a obra, embora existam outras bem superiores para oferecer mensagens ao público, e também pode ser interessante para alguns, talvez pedagogos e afins, a forma como Mona encontra para se virar em sala de aula. Sem experiência e tampouco estudo específico, ela encontra técnicas alternativas para ensinar matemática aos pequenos, uma forma lúdica, criativa e divertida de ensinar como, por exemplo, enxergar os numerais em objetos, mas infelizmente tem a infeliz ideia de levar um machado para a turminha visualizar a forma do número 7. Objeto cortante mais crianças levadas resulta em... Pois é, a matemática racional da professora não carrega conceitos importantes da matemática da vida, mas sempre é tempo de aprender.
Alba aparece aqui despida de vaidades, mas, se capricha no visual para tornar crível sua personagem introvertida, por vezes sua interpretação torna-se carregada demais de inocência, o que compromete um pouco o desenvolvimento da trama que poderia ser um pouco mais curta. Para quem procura descobrir como Braga, nossa conterrânea, conseguiu se estabelecer em solo americano, mais uma vez a chance é perdida. Para variar ela tem pouco tempo de cena e não demonstra todo seu potencial, ainda que garanta um dos poucos momentos divertidos da obra na cena em que ela comemora o aniversário da filha em um local público e causa uma confusão previsível com a aparição repentina de Ben. Como de costume, quem rouba a cena é a pequena Nyweide com um personagem melhor construído e uma interpretação natural e espontânea. Difícil dizer se nos emocionamos ou nos divertimos na sequência em que ela revela à professora que a mãe está doente. Embora saiba da gravidade do problema, a garota ainda nutre certa inocência em relação a esse fato. Matemática do Amor poderia ser um projeto ambicioso e com material para tanto, mas acabou sendo uma obra superficial cujos resquícios de qualquer tipo de mensagem positiva ficaram perdidos em meio a melancolia que impregna a narrativa.
Romance - 95 min - 2010
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