Nota 7 Antes para um público mais adulto, trama foi reescrita para jovens e destacar estrela teen
Um dos gêneros que mais movimentam os cofres de Hollywood é o da comédia que acabou sendo dividido em diversas subcategorias para agradar a públicos específicos. Até mesmo dentro destes subgêneros acabam surgindo novos rótulos. Classificar um filme como comédia adolescente, por exemplo, já não faz mais tanto sentido. Dependendo do conteúdo e da forma como ele é apresentado, involuntariamente a própria produção trata de se auto intitular como destinada a certos nichos. Sabemos que o humor pastelão e o que investe em piadas de duplo sentido ou até mesmo explícitas fazem mais a cabeça dos teens do sexo masculino. Já as meninas preferem cultivar o sonho de encontrar um príncipe encantado e até seus vinte e poucos anos (talvez até um pouco mais) apreciam as narrativas repetitivas do casal que passa o filme todo se desentendendo ou lutando contra empecilhos até que tenham direito ao seu final feliz. A fórmula pode sofrer variações, mas a conclusão dificilmente pode ser alterada. É isso o que acontece com Monte Carlo, uma comédia romântica que não tem apenas uma mocinha sonhadora e sim três! Aqui não há um vilão declarado e maquiavélico, mas existem certos obstáculos a serem vencidos para chegar a um clímax previsível, mas ainda assim aguardado.
Grace (Selena Gomez) é uma jovem que sempre sonhou conhecer Paris e a chance chegou como um presente de formatura. Ela já está com tudo certo para viajar na companhia de Emma (Katie Cassidy), sua melhor amiga, mas terá que levar a tiracolo a sua quase irmã Meg (Leighton Meester), a filha de seu padrasto com quem obviamente não se dá muito bem. O trajeto pelos pontos turísticos da cidade-luz não é tão agradável quanto elas imaginavam e as próprias não se entendem muito bem inicialmente, mas algo inesperado está para acontecer e forçá-las a se unirem. Elas se perdem do grupo e Grace é confundida com uma rica socialite chamada Cordelia (também interpretada por Gomez), esta que deveria ir a um evento beneficente na cidade de Monte Carlo, em Mônaco, para entregar um valioso colar para ser leiloado e de quebra ter um tempo de trégua das constantes perseguições de sua família que não suporta seu jeito rebelde de ser. Assim, o trio de garotas acaba fazendo a tal viagem, se hospedando em lugares luxuosos e comendo e se vestindo com tudo que há de bom e de melhor. Cada uma das garotas também encontra alguém para amar em meio as belas paisagens da cidade-título, mas a vida boa está por um fio. O tal colar a ser leiloado desaparece e a verdadeira milionária não tarda a aparecer.
Além da narrativa esculpida para agradar as adolescentes, o longa se beneficia por uma das protagonistas ser Gomez, na época um ídolo teen. Ela atua, canta e já participou de diversos seriados de televisão, seguindo os mesmo passos de jovens estrelas de um passado recente como Vanessa Hudgens e Hilary Duff... Oi? Quem? Sim, elas bombaram nos primeiros anos da década de 2000, mas não dá para fazer comédia adolescente para sempre. Aí é hora de provar o real talento e o bicho pega, talvez por isso as estrelinhas citadas acabaram perdendo seu brilho com o passar do tempo. Aliás, o roteiro escrito por April Blair, Maria Maggenti e por Thomas Bezucha, este que também assina a direção, tem em sua essência um quê de Lizzie McGuire - Um Sonho Popstar, um dos maiores sucessos de Duff. Contudo, aqui temos um trabalho um pouco mais apurado na construção e relação dos personagens, não é um mero veículo para turbinar a carreira musical de uma cantora pop. Embora Gomez seja o chamariz da produção, o enredo é atencioso com suas coestrelas tratando-as com a mesma importância e dando a suas personagens momentos de destaque em pé de igualdade.
Livremente inspirado no romance de Jules Bass, os roteiristas optaram por fazer diversas modificações. No original, três mulheres de meia idade fingiam serem herdeiras de fortunas enquanto estavam à procura de maridos pertencentes a classe alta de Mônaco, mas acabam encontrando parceiros que também fingem serem milionários. O livro foi lançado originalmente em 2002, porém, três anos antes os direitos de sua adaptação cinematográfica já haviam sido negociados. Todos sabem que da ideia inicial para um filme até seu lançamento concreto muita coisa pode acontecer, assim Julia Roberts e Nicole Kidman, esta também produtora do longa, acabaram perdendo as vagas de protagonistas e o projeto foi realinhado para agradar a um público mais jovem. A versão mais adulta poderia ser muito melhor e quem sabe um dia até seja reaproveitada, afinal argumentos reciclados é o que não falta no mundo do cinema. Contudo, a adaptação adolescente também é eficiente e está até um pouco acima da média do que é oferecido ao seu público-alvo normalmente.
Apesar de previsível cada minuto, a trama é bem feitinha e consegue agradar não só as adolescentes, mas também o público feminino mais crescidinho com facilidade, até porque a opção em utilizar cenários reais de países europeus cai como uma luva ao gênero, acentua o romantismo e o prazer. Já o público masculino deve ter um pouco mais de dificuldades em se entreter com algo tão açucarado. Todavia, investe-se menos nas piadinhas sem graça e infantis e destaca-se a união das protagonistas a medida que os problemas da viagem se intensificam. Dá até para tirar lições de moral como que a mentira não compensa ou que o importante na vida é ser feliz sendo você mesmo. Monte Carlo se resume a uma inofensiva opção para ocupar o tempo livre e, felizmente, passa longe de ser o desastre que aparenta visto que foi lançado praticamente sem divulgação no Brasil. Nem tudo que carece de publicidade deve ser classificado como lixo que as distribuidoras tentam empurrar. Algumas merecem uma chance, sem muitas expectativas é claro.
Comédia romântica - 109 min - 2011
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