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quinta-feira, 3 de março de 2022

O CASAMENTO DOS MEUS SONHOS


Nota 3 Além de previsível, longa comete os pecados de não ser divertido e tampouco emocionar


Sonia Braga há anos sobrevive nos EUA às custas de papeis para lá de secundários sempre que surge a necessidade de alguma personagem latina, afinal seus traços étnicos denunciam suas origens. Contudo, algumas intérpretes tem mais sorte e transitam nos mais variados perfis sem que suas características físicas tornem-se empecilhos como é o caso da atriz porto-riquenha Jennifer Lopez. Dar vida a uma descendente de italianos é um pouco duvidoso, mas seu carisma, entusiasmo e beleza acabam nos cegando para esse detalhe quando a vemos livre, leve e solta em O Casamento dos Meus Sonhos, mais uma comédia romântica previsível e que acaba tornando-se tediosa pelo fato do conflito não cativar o espectador e nem dar a chance de coadjuvantes roubarem a cena. Não temos nem mesmo o clássico amigo gay e super afetado da protagonista para dar pinta e animar as coisas. Ainda assim, Lopez chama a atenção para si num papel que acostumou a interpretar.

Na trama escrita por Pamela Falk e Michael Ellis (duas cabeças para escrever algo tão simples e ainda com falhas?), Lopez vive Mary Fiore, uma organizadora de festas de casamento extremamente profissional e que sabe captar exatamente a personalidade de seus clientes, assim proporcionando todos os fricotes sonhados para suas festas, desde as toalhas de mesa até os discursos redigidos por ela mesma e ditados aos noivos por ponto eletrônico. Não é a toa que seus serviços já foram requisitados até por celebridades. Tanta dedicação ao trabalho lhe proporciona total independência financeira, contudo, não sobra nem tempo para gastar seu suado dinheirinho. Acostumada a planejar o casamento dos outros, ela não demonstra sonhar com o seu, mas seu pai, o entusiasmado Salvatore (Alex Rocco) vive tentando lhe arranjar pretendentes. O último é Massimo (Justin Chambers), um rapaz bobalhão e ingênuo que era seu amigo de infância e que acredita que um simples encontro seria sinônimo de noivado. 


A grande preocupação de Mary no momento não é acabar com sua solidão, mas sim tornar-se sócia da empresa para a qual trabalha. Para tanto, ela precisa fechar um contrato com a milionária Fran Donoly (Bridgette Wilson-Sampras) e lhe oferecer o casamento dos seus sonhos, incluindo até aulas de dança para os noivos não fazerem feio na festa. O contrato é fechado e para sua felicidade ser completa só faltava um homem ao seu lado. Eis que um dia Mary tem um problema com seu salto alto na rua e é salva de ser atropelada por Steven Edison (Matthew McConaughey), um médico que a leva para o hospital em que trabalha e depois a convida para sair. Cinema, baladinha, passeio no parque e a casamenteira tem pela primeira vez na vida a sensação de estar realmente apaixonada e acredita que seu sentimento é correspondido. O problema é que pouco tempo depois ela descobre que seu príncipe encantado tem dona e é justamente a sua milionária cliente que insiste em tratá-la como se fosse sua melhor amiga de infância e faz questão que o noivo se de bem com ela. 

Como sempre viveu para o trabalho, a workaholic decide deixar sentimentos de lado e fazer a razão falar mais alto, afinal sua tão sonhada sociedade estava em jogo, e adota uma postura extremamente profissional para levar a situação. Ou quase isso. O que vem a seguir é previsível. Diálogos inflamados com trocas de acusações entre os quase namorados, saias justas com a noiva alegrinha, um pequeno detalhe adiante vai aproximar ainda mais Mary e Edison que então vão repensar seus sentimentos... O problema de O Casamento dos Meus Sonhos não é apenas a sua previsibilidade, mas também a maneira frágil como é conduzido. Não há momentos de romance genuínos e o conflito principal, a mulher bem sucedida na profissão, mas carente na vida pessoal, também não convence. Como agravante, a produção ainda deixa a desejar no quesito humor, justamente a especialidade do diretor Adam Shankman, de A Casa Caiu e Operação Babá, por exemplo.


No conjunto, o pior é que o casal principal também não tem química e os atores parecem desconfortáveis em seus papeis. McConaughey faz o noivo certinho que só ensaia trair a noiva, mas recua.  Lopez, em uma de suas primeiras comédias românticas, se sai razoavelmente bem, mas é nítido que nem ela mesma compreende como alguém que vive de casamentos pode não sonhar com o seu próprio, algo justificado de maneira tola lá pela metade. Para completar o xoxo pacote, Massimo persegue a protagonista como uma criança que corre atrás da mãe. E lá vem mais clichês. Constrangedor vê-lo medindo forças com seu rival nos equipamentos de ginástica. Nem é preciso perguntar quem vai ficar com Mary.

Comédia romântica - 102 min - 2001 

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