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sábado, 30 de dezembro de 2017

MINHA TERRA, MINHA VIDA

Nota 8,0 Embora envelhecido, longa ainda traz uma contundente crítica ao sistema capitalista

Contemporâneo à sua época, o longínquo ano de 1984, Minha Terra, Minha Vida ganhou ares de nostalgia e assumiu o caráter de um registro histórico de um difícil período vivido pelas famílias rurais norte-americanas em tempos de crise econômica, provavelmente um retrato muito próximo a situações vivenciadas em tantos outros países por pessoas cujas sobrevivências também dependiam dos rendimentos de suas plantações e criações. O casal Jewell (Jessica Lange) e Gil Ivy (Sam Shepard) administra uma pequena fazenda que já garantiu o sustento de muitas gerações da família dela e eles pretendem dar continuidade ao legado que será deixado por Otis (Wilford Brimley) que vive com eles e acompanha com tristeza a má fase vivida pela economia rural. Eles trabalham incansavelmente com o reforço do filho mais velho Carlisle (Levi L. Knebel), mas as condições climáticas não iriam garantir uma boa colheita naquele ano. Um inesperado tornado causa um grande prejuízo ao clã que contava com as vendas da safra para quitar suas dívidas com um órgão do governo cuja missão seria incentivar os esforços agrícolas por meios de empréstimos facilitados, contudo, justamente nesse momento difícil, passaram a exigir os pagamentos a prazos apertados e sob rígidas regras, caso contrário os bens dos beneficiários seriam penhorados, incluindo suas próprias fazendas. O mesmo drama é vivido por vizinhos dos Ivy, como Arlon Brewer (Jim Haynie) que chega a pedir emprestada as terras deles durante a entressafra para poder dar continuidade a sua criação de ovelhas que, invariavelmente, mais cedo ou mais tarde também são apreendidas como forma de pagamento de suas dívidas. Toda essa tensão acaba refletindo não só nas finanças dessas pessoas, mas também em seus lados emocionais e psicológicos. Com mais duas filhas para criar, a pequena Marlene (Theresa Graham) e a bebê Missy (as gêmeas Stephanie e Stacy Poyner revezando-se), Gil acaba entregando-se ao vício da bebida e tornado-se agressivo, entrando em constantes atritos com o filho adolescente e com a esposa, esta que assume a posição de ativista dedicando-se a lutar pelos direitos dos agricultores incentivando outros membros do setor a não baixarem suas cabeças e lutar contra os abusos do capitalismo selvagem.

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

ENQUANTO VOCÊ DORMIA

NOTA 8,0

Longa que ajudou Sandra Bullock
a se tornar símbolo de comédia
romântica mantém seu frescor,
doçura e simplicidade intactos
Pode ser coincidência ou não. Quando Sandra Bullock se livrou do ônibus desgovernado de Velocidade Máxima, filme que alavancou sua carreira, não demorou muito e um outro meio de transporte viria a cruzar seu caminho, só que desta vez de forma mais leve, sem tanta adrenalina. Na comédia romântica Enquanto Você Dormia ela interpreta Lucy Moderatz, uma solitária funcionário do metrô de Chicago que fantasia uma possível relação amorosa com um passageiro que diariamente e no mesmo horário passa por lá, todavia, eles nunca trocaram uma palavra sequer. Ele é Peter Callaghan (Peter Gallagher), um jovem bem-sucedido que na véspera de Natal finalmente cumprimenta a moça ao comprar seu bilhete, mas poucos minutos depois acaba sendo abordado por um grupo de criminosos, se desequilibra e cai nos trilhos do metrô. Lucy imediatamente o socorre e o acompanha até o hospital onde, em um de seus devaneios, deixa escapar na frente dos familiares do rapaz que está em coma seu desejo de se casar com ele. A partir de então ela passa a ser considerada a noiva que ele tanto falava, mas jamais havia apresentado, o que traz certo conforto à família neste momento difícil. Assim Lucy assume tal papel e ganha a chance única de poder transformar seu amor platônico em algo real e de quebra ser acolhida pelos parentes do acidentado suprindo sua solidão. A farsa ia de vento em popa mesmo quando Peter recobra a consciência e ela o faz acreditar que está sofrendo de amnésia e por isso não a reconhece, mas as coisas saem do controle quando ela conhece Jack (Bill Pullman), o irmão mais velho de seu noivo, por sinal bem mais divertido e agradável que o esnobe caçula. Lucy se apaixona de imediato e tem seu sentimento plenamente correspondido, mas como viver esse amor sem machucar os demais membros do clã dos Callaghan, inclusive o próprio noivo supostamente desmemoriado?

domingo, 24 de dezembro de 2017

KRAMPUS - O TERROR DO NATAL

Nota 7,0 Apesar do título, longa não assusta, mas prende atenção com seu exercício de estilo

Natal é época de reunir a família, trocar presentes e plantar a discórdia. É isso mesmo! Todos sabemos que desavenças fazem parte das relações entre parentes o ano todo, mas parece que o estresse causado pelos preparativos dos festejos de fim de ano acentuam os problemas e quando todos estão reunidos fica difícil manter a pose e as desavenças vem a tona. O resultado é que cada vez mais o espírito natalino está em decadência e Krampus - O Terror do Natal tira proveito disso. O casal Sarah (Toni Collette) e Tom Engel (Adam Scott), embora esteja passando por uma crise, recebe alguns parentes para passarem o Natal juntos, todavia, Max (Emjay Anthony), o filho caçula, se desilude com as tantas alfinetadas entre os parentes e o desrespeito com os símbolos natalinos. Seus tios Linda (Allison Tolman) e Howard (David Koechner), acompanhados de nada menos que quatro filhos, só ajudam a aumentar a tensão com seus comentários desagradáveis e fora de hora. Já a tia Dorothy (Conchata Farrell) ferve o sangue de qualquer um com seu jeito inconveniente de ser e agir enquanto a calada vovó Omi (Krista Stadler) parece a mais sensata de todos, mas a maior parte do tempo parece alheia ao que acontece à sua volta. Irritado, o menino acaba rasgando a cartinha que havia escrito para o Papai Noel pedindo que os festejos voltassem a ser agradáveis como antigamente e jogando os pedaços para o céu deixando explícita sua ira e decepção. Seu pessimismo, no entanto, acaba despertando uma força demoníaca materializada na forma do Krampus, uma criatura que representa o espírito maligno que ataca as pessoas desacreditadas no Natal. Como a sombra do bom velhinho, ele não vem para presentear e sim para punir e sua primeira vítima é Beth (Stephanie LaVie Owen), a irmã mais velha de Max, que preocupada que o namorado não atende o telefone decide enfrentar uma forte nevasca para ir à sua casa e desaparece misteriosamente, assim como parece ter acontecido com toda a vizinhança.

sábado, 23 de dezembro de 2017

ENQUANTO ELA ESTÁ FORA

Nota 4,0 Suspense poderia ir além, mas opta pelo caminho seguro dos sustos e perseguições

Fim de ano é época de alegrias, energias positivas, renovação, bons sentimentos e ... loucos à solta! É isso que vai descobrir a protagonista do suspense Enquanto Ela Está Fora. É véspera de Natal quando a apática dona de casa Della (Kim Basinger) resolve fazer umas últimas comprinhas. Na realidade ela só queria ter uma desculpa para ficar longe do marido Kenneth (Craig Sheffer), um grosseirão que a despreza e maltrata. Antes tivesse escolhido ficar em casa. Quando busca uma vaga para estacionar no shopping na tarde chuvosa e fria (a ambientação é um ponto alto da fita), ela fica furiosa ao perceber que duas delas estavam sendo ocupadas por um mesmo veículo de forma proposital e resolve deixar um recado no para-brisas do mesmo alertando o motorista sobre a atitude egoísta. Todos sabem que não se deve mexer com estranhos, assim já dá para imaginar o que vai acontecer, mas antes do suspense engrenar o início do filme é bem chatinho. Da dúvida entre tomar uma bebida quente ou comer um cookie, passando pela desistência da compra de uma camisola até o encontro com uma antiga amiga da faculdade que parece levar uma vida plenamente feliz, os primeiros minutos da fita são dedicados a mostrar a passividade de Della, uma mulher incapaz de tomar simples decisões. Quando impulsivamente resolve ter alguma atitude diante de um problema acaba não medindo as consequências e se mete em uma grande encrenca. Ao voltar ao estacionamento ela é surpreendida por quatro rapazes que a ameaçam. Um segurança tenta intervir, mas é assassinado pelo grupo e na confusão Della consegue entrar em seu carro e fugir, começando assim uma intensa perseguição cujo longo e intenso clímax se dá em uma densa e escura floresta.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

A MENINA QUE ROUBAVA LIVROS

NOTA 8,0

Embora suavize o quanto pode as
feridas do nazismo, drama consegue
emocionar e divertir de forma equilibrada
e conta com elenco afiado e cativante
O nazismo é uma das temáticas de época mais exploradas pelo cinema. A intensa e controversa ditadura do alemão Adolf Hitler já rendeu diversos filmes, cada qual abordando um viés diferente seja por meio de um acontecimento específico, consequências de algum fato ou a maneira como um grupo de pessoas ou até mesmo um único indivíduo vivenciou tal período. Baseado no best-seller de Markus Zusak, em A Menina Que Roubava Livros temos um modesto retrato da época pelos olhos da esperta e sensível Liesel Meminger (Sophie Nélisse), ou melhor, a história da garota está inerentemente atrelada às atrocidades do regime alemão e curiosamente nos é contada por ninguém menos que a própria Morte (que se faz presente pela voz soturna de Roger Allam no original). Sim, o espectro que tantas boas almas levou por conta da guerra se interessou pela menina quando veio buscar seu irmão mais novo durante a viagem que faziam rumo a um subúrbio da Alemanha para serem adotados por uma nova família depois que a mãe fora acusada e perseguida por comunismo. A popularmente chamada de "ceifadora de almas" poupou a jovem certamente por ter sua curiosidade aguçada já que ela surrupia durante o sepultamento do irmão um livro que o coveiro deixou cair, uma espécie de manual para rituais funerários. Por que uma criança se interessaria por tal leitura? A Morte então passa a acompanhar a trajetória de Liesel desde sua chegada à rua Paraíso, de fato um local que parece transpirar tranquilidade, mas seus moradores apenam tentam levar uma rotina normal, no fundo vivem em constante clima de tensão já que nunca se sabe quando haverá uma batida policial ou uma bomba pode ser lançada por lá. Em troca de dinheiro um casal de meia-idade, adoradores do nazismo apenas de fachada, aceita dar asilo à Liesel que curiosamente aos dez anos de idade ainda era analfabeta, porém, demonstrava uma enorme vontade de saborear a descoberta das palavras. Essa é a deixa para que Hans Hubermann (Geoffrey Rush), seu afetuoso pai adotivo, possa estreitar laços com ela ensinando-a a ler e a escrever.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

LADO A LADO

NOTA 9,0

Com dois papéis femininos de
peso, drama sobre tolerância,
amizade e relações familiares
é uma opção excelente até hoje
Já faz algum tempo que as sociedades de todos os países em geral estão sofrendo reformulações. O conceito da família unida e feliz hoje em dia já não é mais uma unanimidade. Embora muitos núcleos familiares em ruínas ainda prefiram viver uma felicidade de fachada, outros clãs preferem assumir a separação. Ou melhor, os pais decidem pela ruptura quando os desentendimentos começam a ser mais constantes que os momentos de alegria, mas os filhos são um elo para sempre entre eles. O pai e a mãe têm o direito de tocarem suas vidas como bem entenderem, podendo manter relações cordiais ou não, mas e se caso eles encontrem um novo amor? Tal pessoa deve ser incorporada como um novo membro da família? Muitos anos já se passaram desde o lançamento de Lado a Lado, mas ele ainda continua um bom exemplo de filme para colocar em discussão tais relações. Perdoar e compreender o outro são algumas das mais importantes e difíceis tarefas que o ser humano tem e uns dos temas mais comentados talvez desde os primórdios das civilizações, o que implica intimamente no aprendizado de conviver com seus semelhantes em harmonia. São justamente esses itens que conduzem a narrativa escrita por Ron Bass que soube lapidá-los e escrever um texto que equilibra com perfeição situações dramáticas e outras de humor sutil protagonizadas por mulheres que irradiam veracidade, um convite e tanto para unir duas grandes estrelas de Hollywood. A trama gira em torno da rivalidade existente entre Jackie (Susan Sarandon) e Isabel (Julia Roberts). A primeira é a ex-esposa de Luke (Ed Harris), com quem teve dois filhos, Anna (Jena Malone) e Ben (Liam Aiken). Já a segunda é a atual namorada deste chefe de família que se encontra em uma complicada situação. Mantém uma relação amigável com a antiga mulher, mas esta não tolera a sua nova companheira e não perde a chance de criticá-la e envenenar a relação. O filho caçula até aceita a nova união do pai, mas sua irmã é uma adolescente que se revolta, pois ainda deseja a reconciliação dos pais. Luke por sua vez tenta de tudo para que sua namorada seja aceita por todos. Entre discussões e fofocas, a trégua entre Jackie e Isabel acaba por acontecer de uma maneira inesperada. A mãe das crianças revela que está com um grave câncer e agora precisa aceitar o fato que sua então inimiga mais cedo ou mais tarde tomará conta de seus filhos. Só que até as duas entrarem em um acordo muita coisa pode acontecer.

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

AS AVENTURAS DE BOBBY

NOTA 7,0

Apesar do título e inocência do
enredo, longa é baseado em uma
tocante história real e propõe
reflexões e fatos históricos
Um cachorrinho meigo e um garotinho estampam a capa do DVD cujo título é o sugestivo As Aventuras de Bobby. Eis aí mais um típico filme para divertir a criançada e dar um pouco de sossego aos adultos enquanto elas estão entretidas. Bem, na realidade ta aí um produto que vem para desmitificar preconceitos. Sem falar uma palavra sequer, felizmente, o cãozinho é a arma para fisgar o público infantil, porém, a essência da história pode ser tediosa aos pequenos, principalmente por não ter muito humor ou aventura. A base do roteiro de Richard Mathews e Neville Watchurst traz certos pontos mais comuns ao universo dos adultos, tais como poder e dinheiro, mas por outro lado o filme pode ser inocente demais para o público mais velho, ainda que traga mensagens universais como fidelidade e solidariedade. De qualquer forma, o diretor John Henderson, também co-roteirista, consegue equilibrar de maneira satisfatória elementos que conjugam bem com estes dois universos distintos, resultando em um agradável filme-família. Logo no início acompanhamos o cachorrinho Bobby salvando seu dono, o vigia noturno John Gray (Thomas Lockyer), do ataque de um touro e sendo aplaudido pelos populares que elogiam a coragem e a força de um bichinho tão pequeno e aparentemente frágil. Ele é o xodó também de Ewan Adams (Oliver Golding), garotinho que, embora muito inteligente, está desperdiçando sua infância trabalhando no moinho do arrogante Sr. Duncan Smithie (Sean Pertwee), um empresário mau caráter que quer lucrar explorando seus funcionários com jornadas e condições de trabalho proibitivas. Gray gostaria muito de ajudar o menino a mudar os rumos de sua vida, assim como o Reverendo Lee (Greg Wise) que há tempos tenta com seus sermões mudar os pensamentos provincianos da população de Edimburgo, na Escócia, também conhecida como a Cidade Velha. Gray estava com a saúde debilitada e veio a falecer antes de ver qualquer tipo de mudança, mas conseguiu ter tempo para dar à Ewan um livro sobre homens que ajudaram a mudar a História do mundo, um incentivo para o menino procurar fazer o que ele não conseguiu. Bobby sentiu muito a perda do dono e diariamente, inclusive a noite, fugia para o cemitério e permanecia próximo ao túmulo. James Brown (James Cosmo), o zelador do local que se encontra nas terras da igreja, bem que tentava afastá-lo seguindo as normas de que animais eram proibidos, mas o cãozinho sempre voltava.

domingo, 17 de dezembro de 2017

DUPLEX

Nota 9,0 Humor negro e piadas escrachadas pontuam comédia em que veterana dá um show

Quem não tem ao menos uma história engraçada ou irritante envolvendo um velhinho sem noção ou literalmente pentelho que atire a primeira pedra. É fato que conforme a idade avança o idoso acaba perdendo um nível considerável de sua capacidade intelectual e bom senso, mas alguns representantes dessa faixa etária muito bem de saúde acabam se aproveitando da generalizada condição para se dar bem e tirar o melhor proveito da situação. É mais ou menos nisso que provavelmente pensou Danny DeVito ao aceitar dirigir Duplex extraindo o máximo de humor de situações anárquicas do início ao fim. A direção não poderia ser de outra pessoa que não uma experiente no campo do humor. Aos politicamente corretos, que fique claro que a índole da personagem idosa do filme não deve ser encarada como uma ofensa as pessoas acima dos 60 anos, até porque no final existe uma justificativa hilária para seu comportamento no ágil e eficiente roteiro de Larry Doyle. Quem é ela? A senhora Connelly (Eileen Essel) é a inquilina de Alex Rose (Ben Stiller) e Nancy Kendricks (Drew Barrymore), um jovem casal que tinha um sonho de consumo: ter um belo duplex no famoso bairro do Brooklyn, na cidade de Nova York. Quando eles enfim encontram o apartamento dos seus sonhos, precisam enfrentar um problema que pouco a pouco torna-se um perturbador pesadelo. A antiga e simpática moradora do segundo andar se recusa a deixar o local e pelas leis do inquilinato americano ela não pode ser despejada. O casal tenta viver pacificamente com a vizinha, mas a senhora apronta tudo que pode e mais um pouco para deixá-los irritados 24 horas por dia literalmente. Até mesmo quando eles tentam dormir a velhinha está com todo pique para aprontar algo. Assim, o casal passa a perceber o real preço de seus sonhos, mesmo com o acréscimo do dinheiro do aluguel que recebem dela. No limite da situação, para conseguirem finalmente o imóvel só para eles, Alex e Nancy começam a planejar várias tentativas de tirá-la do local e pensam até mesmo em matar a aparente doce velhinha.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

LONGE DELA

NOTA 9,0

Atriz estréia na direção e
assina roteiro de drama
com tema difícil, mas de
leve digestão neste caso
Um casal que consegue manter ao menos o carinho e o respeito desde a juventude até a velhice é algo digno de admiração em tempos em que a instituição do casamento já não é levada mais a sério e muitos compromissos são desfeitos até mesmo na hora de dizer o tão esperado sim diante das famílias e amigos. Infelizmente os relacionamentos duradouros uma hora precisam ser encerrados e nesses casos é a própria vida que se encarrega de cortar os laços. É nessa ruptura que está a força dramática de Longe Dela, elogiado trabalho de estréia como diretora da atriz canadense Sarah Polley que também assina o roteiro. Ela não tem nenhum grande sucesso de público em seu currículo, sendo mais conhecida por sua atuação no terror Madrugada dos Mortos, porém, ela já participou de bons títulos independentes e foi dirigida por cineastas de renome, acumulando assim experiências diferenciadas sobre o ato de filmar, preferindo muito mais destacar uma troca de olhares sinceros a um texto rebuscado que poderia não exprimir tudo o que ela gostaria de dizer. É seguindo esse método que Sarah conseguiu cativar a crítica que certamente colaborou para que seu primeiro trabalho atrás das câmeras viesse a participar de festivais e premiações, chegando a festa do Oscar concorrendo nas categorias de Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Atriz para a veterana Julie Christie que também conquistou merecidamente o Globo de Ouro de atriz dramática pelo papel de Fiona Anderson, uma senhora que vive um casamento feliz há mais de quatro décadas com Grant (Gordon Pinsent), responsável pela visão que temos dos fatos que levou este casal a se afastar. Suas vidas tranquilas são drasticamente alteradas quando sua esposa passa a apresentar sintomas constantes de perda de memória. Grant desconfia que ela está sofrendo do mal de Alzheimer, mas Fiona não acredita até o momento em que passa a se informar mais sobre a doença e percebe que aos poucos o seu problema não tiraria apenas a sua qualidade de vida, mas também a do companheiro de tantos anos. Sendo assim, ela decide ser internada em uma clínica para pessoas com problemas degenerativos. Uma das regras do local é que os pacientes não podem receber visitas durante o primeiro mês para facilitar a sua adaptação, mas quando Grant finalmente consegue reencontrá-la vem a decepção, pois ela já não o reconhece mais. Fiona está agora muito próxima de Aubrey (Michael Murphy), outro paciente da instituição, o que faz com que Grant tenha que se contentar com sua nova condição de amigo ao mesmo tempo em que tenta ajudá-la a se lembrar do passado e de quem ele realmente é. A chance de se reaproximar de seu grande amor é quando a esposa de Aubrey, Marian (Olympia Dukakis), o retira subitamente da instituição também temendo a aproximação do marido e de Fiona.

domingo, 10 de dezembro de 2017

UM MONSTRO EM PARIS

Nota 7,0 Apesar de problemas narrativos, animação francesa conquista com visual refinado

Já faz algum tempo que filmes de animação deixaram de ser uma opção exclusiva para a criançada, assim aumentou a pressão dos estúdios em cima dos realizadores. Não basta contar com a bilheteria dos pais ou responsáveis que levam as crianças aos cinemas. É preciso também chamar a atenção de quem não tem a desculpa de ter um pimpolho para acompanhar. Talvez a maturidade mínima exigida dos enredos para se alcançar tal objetivo tenha colaborado para desenhos animados fora do eixo Hollywood ganharem mais visibilidade. Não é só uma trama mais elaborada o chamariz, mas a própria origem diferenciada das produções pode ser um convite para adultos. Sim, ainda há quem ache coisa de intelectual ou chique gostar de filmes franceses, por exemplo, ainda mais se for uma animação que ousa brigar por espaço com os gigantes norte-americanos. No entanto, mesmo amparado por elogios da crítica especializada, Um Monstro em Paris não caiu no gosto popular. A trama escrita por Stephane Kazand Jian e Bibo Bergeron, este também autor da história original e responsável pela direção, se passa na bela Paris de meados da década de 1910. O jovem Emile é apaixonado por filmes e sonha em viver um romance de cinema com Maud, a moça que trabalha na bilheteria das salas de exibição, no entanto, sua timidez o impede de se declarar e ele acaba se contentando em viver um amor platônico. Como projecionista, o rapaz a vê diariamente no trabalho e alimenta o sonho de poder fazer seus próprios filmes, o que poderia ser possível com uma câmera que seu amigo Raoul lhe dá. Metido a galã e vendendo animação, esse homem inventa engenhocas quando tem folga de seu trabalho como entregador de mercadorias, mas uma de suas missões irá acabar em desastre. Certa noite, Raoul e Emile vão deixar uma encomenda na estufa de um professor de botânica, mas na ausência dele deveriam procurar seu macaco-assistente, o esperto Charles. Tudo muito simples, mas a dupla quis se divertir com a tal câmera dentro do laboratório e acabaram criando um gigantesco girassol que não aguentou o próprio peso e tombou sobre as prateleiras de produtos químicos.

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

O DIA EM QUE A TERRA PAROU (2008)

NOTA 3,0

Refilmagem de clássico de
ficção científica traz mensagem
ambiental, mas ela se perde entre
trama enfadonha e efeitos visuais 
Existem muitos títulos de sucesso do passado que para as novas gerações são motivos de muita curiosidade, principalmente aqueles que marcaram época e cujo conteúdo tinha algum tipo de ligação com a realidade ou mensagem necessária para aquele momento. Guerra dos Mundos, por exemplo, foi uma bem sucedida ficção científica que usou o conflito entre os humanos e os extraterrestres como uma alusão a um conflito bélico (quando o conto foi redigido) e posteriormente como uma metáfora ao comportamento dos humanos que diante de uma ameaça abandona qualquer tipo de princípio visando seu bem estar. Steven Spielberg resolveu refazer o clássico em 2005 e acabou colhendo muito mais comentários negativos que o esperado, mas em compensação engordou em bons punhados de milhões de dólares sua conta bancária e a de sua produtora. Já o diretor Scott Derrickson, de O Exorcismo de Emily Rose, se deu mal tanto em bilheterias quanto em repercussão com o seu O Dia em que a Terra Parou, refilmagem da ficção homônima datada de 1951 na qual um alienígena vinha para a Terra com as melhores intenções, impedir que a violência humana se espalhasse pela galáxia (era o tempo das famosas bombas atômicas e a exploração do espaço avançava a passos largos), porém, é óbvio que sua recepção não foi nada amigável. Mais de meio século separa a obra assinada por Robert Wise e sua refilmagem e embora a violência só tenha se intensificado, a nova versão optou por levantar a bandeira do ambientalismo, mas sem deixar de criticar a conduta dos seres humanos com seu inerente ar superior, o que inevitavelmente gera conflitos nos mais variados campos. Sim, por trás de todo o verniz de blockbuster made in Hollywood existe um conteúdo a ser amplamente discutido, mas infelizmente ele acaba sendo sucumbido pelos efeitos especiais que, diga-se de passagem, neste caso parecem um tanto exagerados em vários momentos. Keanu Reeves é o cabeça do elenco interpretando Klaatu, o alienígena que aterrissa em pleno Central Park, em Nova York, junto com um gigantesco robô, batizado pelos americanos de Gort, ambos saídos de uma estranha esfera colorida. Na realidade, logo de cara não vemos o astro, mas nos deparamos com uma criatura envolta em uma espécie de gordura protetora, algo que mais a frente é comparado a um material que se assemelha a placenta de um bebê. Faz sentido afinal é essa camada nojenta que está protegendo o extraterrestre que para surpresa de todos se apresenta como um humano comum. A explicação, bem criativa, é de que os seres de outros planetas já estavam de olho nos terrestres há muito tempo e provavelmente já estiveram entre nós e realizando experimentos. Assim conseguiram recolher DNA humano para criar uma “armadura” para Klaatu, o que também justificaria sua rápida adaptação a nossa atmosfera e o poder de se comunicar normalmente em idioma local.

sábado, 2 de dezembro de 2017

PASSAGEM SECRETA

Nota 6,5 Drama aborda como judeus tentavam sobreviver na Europa durante a Santa Inquisição

Costumamos ligar a perseguição aos judeus ao período do Holocausto, mas tal situação vergonhosa já vem de longa data, de tempos em que nem o Brasil havia sido descoberto. E quem pensa que os alemães são os únicos grandes vilões desse triste capítulo fique sabendo que antes deles outros povos também demonstraram cruelmente sua aversão ao judaísmo, como os espanhóis. O drama Passagem Secreta especula através de um pequeno grupo de personagens como parte da Europa estava reagindo aos tempos da inquisição. Em 1492, a Espanha decretou que todos os judeus que não se convertessem ao catolicismo seriam conduzidos ao exílio ou até mesmo julgados, podendo ser levados à execução em praça pública ou não. Representantes do governo invadiam as casas para confiscar dinheiro, joias e bens materiais de valor e quem contestasse a ação era eliminado imediatamente. As irmãs Judith e Sara viram ainda pequenas muitas atrocidades, mas foram salvas por seus pais que aceitaram que elas se tornassem cristãs. Rebatizadas respectivamente de Isabel (Katherine Borowitz) e Clara (Tara Fitzgerald), elas se separaram da família e foram viver na cidade de Antuérpia onde, embora ainda tendo que esconder suas origens, as irmãs tiveram alguns anos de felicidade. Isabel, a mais velha, nunca se casou, mas conseguiu para Clara um casamento arranjado com outro judeu convertido que morreu quinze anos depois tentando ajudar membros de sua religião. A inquisição voltava a assombrar os “hereges” e o testamento do falecido guardava surpresas. Deixando a dúvida de que poderia ter tido um caso com a cunhada, algo não explorado no roteiro, ele deixa todos os seus bens para Isabel e a tutela da única filha, Victoria (Hanna Taylor Gordon). Em comum acordo elas decidem ir viver em uma das propriedades da família em Veneza, na Itália, cidade rica em cultura e tolerância e também um importante ponto comercial devido as facilidades de acesso pelo mar, porém, ainda teriam que bancar as católicas e adorando ídolos falsos. Todavia, a mudança coincide com uma brusca ruptura na harmonia do clã. Até então as irmãs nunca tinham tido problemas de convivência, nem mesmo por conta da tal herança.