Nota 1 Longa enfadonho recicla, e de forma péssima, os clichês manjados acerca de possessões
É curioso o fascínio que o gênero terror exerce sobre seu público aficionado e principalmente nas plateias adolescentes. Chama ainda mais a atenção a quantidade de filmes medíocres do tipo que são lançados anualmente, mas ao que tudo indica os trashs movies nunca saíram de moda e quanto mais toscas as produções melhor para agradar os espectadores cativos. Só assim para explicar a existência de fitas como Demônios e os seus diversos comentários razoavelmente positivos de populares que pipocam em sites e blogs especializados. A julgar pelo título, não é preciso ser gênio para descobrir que o filme escrito e dirigido por Warren P. Sonoda foi buscar inspiração em questões religiosas e ainda procurou abordar o tema bruxaria na mesma receita. A trama se passa na soturna escola católica para meninas St. Marks, local onde no passado a jovem aluna Elizabeth (Krysta Carter) foi possuída por uma entidade demoníaca e desapareceu.
Por causa do escândalo durante anos a instituição ficou fechada, mas reabriu suas portas para agora servir como uma espécie de reformatório para moças desencaminhadas na vida. Sob a tutela do padre Drake (Ron Perlman) e da diretora Anne (Amy Ciupak) as novas alunas Alex (Jennifer Miller), Mara (Jordan Madley), Connie (Tasha May Currie), Leah (Barbara Mabolo) e Cecília (Terra Vnesa) vão viver dias terríveis sendo forçadas a orar, ter lições em latim, sofrerem castigos perversos além de viverem trancadas na escola. Seus pais as enviaram à instituição por já estarem cansados de seus comportamentos desvirtuados, como o uso de drogas e constantes rompantes de fúria, mas parece que tais rebeldias eram requisitos básicos para elas entrarem em St. Marks, além do fato em comum de todas serem virgens, apesar da vida desregrada que levavam. Esses são detalhes que começam a fazer sentido quando estranhos acontecimentos passam a colocar em risco a vida e a sanidade das garotas.
Explorando as dependências proibidas do prédio, as estudantes descobrem a história de Elizabeth que se suicidou para se defender da Legião, maneira como o demônio se apresenta afirmando que ele não é apenas uma entidade, mas sim a reunião de muitos espíritos maus. A jovem que se matou era uma alma muito boa, portanto, não servia para propósitos maléficos. Por essa breve sinopse já dá para perceber que o longa é uma colcha de retalhos de outros tantos filmes da temática, mas com o detalhe de que Sonoda absorveu o que havia de pior neles. O filme não traz absolutamente nada de novo ao gênero, tampouco consegue copiar os acertos de outras produções do tipo, preferindo repetir os erros comuns. O diretor é incapaz de criar um clima satisfatório de tensão e os problemas já começam com a absurda premissa. Por mais que os pais estivessem desesperados, quem em sã consciência mandaria uma filha para uma instituição isolada e marcada por um fato macabro?
O diretor peca também nas cenas de possessões das garotas que deveriam ser os pontos-ápices da produção, mas tudo é tão convencional que acompanhamos suas transformações com tédio. Até ensaiar uma relação de lesbianismo e inserir algumas cenas de nudez gratuitas são armas usadas aqui com a intenção de injetar algum ânimo nesta equivocada produção de horror que tem lá seus momentos involuntariamente cômicos, como na cena em que uma das meninas que é deficiente visual tem em seu poder uma lanterna para iluminar seus caminhos. Tremenda bola fora do roteiro que só não é pior que os fracos efeitos especiais que são usados em maior número quando as cinco jovens são submetidas a uma espécie de ritual de bruxaria. Lidar com exorcismos e feitiçarias requer um mínimo de pesquisa, familiaridade com os temas, mas como tal produção aparentemente nunca almejou ser mais do que um passatempo para adolescentes, Sonoda mandou às favas qualquer comprometimento com a veracidade e deixou a imaginação rolar tanto no papel quanto atrás das câmeras.
Para não dizer que tudo é ruim neste engodo, pelo menos podemos ressaltar a ideia de que cada uma das alunas tem algum tipo de poder especial, sendo o mais relevante seria o de Mara que tem o dom de curar feridas, mas essas pequenas características na personalidade das personagens principais não salvam Demônios de ser um desastre. Com diálogos e interpretações fracas, história ruim e um final com reviravoltas esquisitíssimas, esse é o tipo de filme que cai bem para aquela sessão descompromissada com os amigos. Munidos de bom humor, pipoca e refrigerante essa bobagem é engolida facilmente e sem perigo algum de alguém não dormir a noite.
Terror - 96 min - 2006
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