NOTA 5,5 Boa premissa é jogada fora por comédia adotar o tom grotesco e escrachado para falar sobre crises conjugais |
É interessante observar como
alguns gêneros se destacam em determinados períodos e até mesmo acompanhando o
crescimento do público. Se as crianças dos anos 80 se divertiam aos montes com
as clássicas comédias da “Sessão da Tarde”, já adolescentes na década seguinte
elas se dividiram em dois grupos. As garotas suspiravam e sonhavam com os
romances água-com-açúcar e os meninos gargalhavam com o humor anárquico e besteirol
de algumas produções que apelavam para escatologia e o erotismo. E nos anos
2000? A turma cresceu, alguns constituíram família e outros preferiram ficar na
solteirice, mas algumas dúvidas comuns a todos é como seria a vida se tivessem
feito algo diferente no passado e o que será que o futuro lhes reserva.
Tentando responder tais indagações, os primeiros anos do século 21 ficaram
marcados por comédias com temáticas e protagonizadas por adultos, privilegiando
principalmente os dilemas da ala masculina, mas Encontro de Casais surgiu
também para agradar as mulheres. Tais produções acabam tendo um apelo popular
muito grande por geralmente discutirem problemas reais e importantes pelos
quais seu público-alvo se identifica de imediato, proporcionando após muitas
gargalhadas ao menos uma mensagem reflexiva. No caso deste trabalho de estreia
do diretor Peter Billingsley o humor acaba sobressaindo-se e seu recado
positivo é sucumbido. Bem, com um roteiro escrito pelos atores Vince Vaughn e
Jon Favreau, que também atuam no filme, não tinha mesmo como ter esperanças que
tal projeto fosse além de ser apenas um passatempo divertido, embora a premissa
apontasse uma boa oportunidade de discutir a saúde dos relacionamentos amorosos
após alguns bons anos de convívio direto e diário. A trama começa apresentando
a situação do casal formado por Jason (Jason Bateman) e Cynthia (Kristen Bell) que
estão prestes a se divorciar. Como última tentativa de salvar o casamento, eles
resolvem fazer uma viagem para participar de uma terapia de casais em uma ilha
paradisíaca. Para conseguir um desconto, eles incentivam outros casais de
amigos para viajarem também no intuito de eles iram apenas para se divertirem,
mas sem acompanhar a terapia. Inicialmente relutantes, Dave (Vaughn) e Ronnie
(Malin Akerman), Joey (Favreau) e Lucy (Kristin Davis), e Shane (Faizon Love) e
Trudy (Kali Hawk) acabam aceitando o convite. Quando chegam no tal lugar
maravilhoso, eles são alojados por Stanley (Peter Serafinowicz) na parte oeste
da ilha e Joey logo descobre que na parte leste há um resort de solteiros, mas
que ele é proibido para os comprometidos. Já na primeira noite, todos os casais
são informados que terão obrigatoriamente que se engajar na terapia, caso
contrário, devem retornar para casa. Decididos a aproveitar os benefícios
oferecidos pela ilha eles resolvem permanecer, porém, eles nem desconfiam pelas
provas de fogo que irão passar para provarem que suas uniões ainda têm futuro.
Juntar vários casais em uma
paradisíaca ilha para fazerem terapia e melhorarem o relacionamento a dois
parece um sonho, mas os selecionados para esta experiência comprovaram que a ideia
é uma tremenda roubada. Um elenco divertido é exposto às situações mais
vexatórias possíveis em um local onde os casais deveriam se entender, mas com a
ajuda de profissionais um tanto suspeitos o resultado é desastroso. Os beijos e
abraços são trocados por barracos e discussões. Bem isso já era de se esperar
assim como não poderíamos ter expectativas de que aqui teríamos um estudo
profundo sobre as relações amorosas quando sofrem o baque da famosa crise de
meia-idade. No entanto, o enredo, que divide bem as atenções entre a ala
masculina e a feminina provavelmente por ter colaboração da roteirista Dana
Fox, garante a diversão através de tipos bem distintos, obviamente calcados em
estereótipos para proporcionar uma identificação rápida do público com os
personagens. O casal Jason e Cynthia não tem filhos e a dificuldade da mulher
engravidar acaba por trazer à tona diversos problemas conjugais. Talvez já não
exista o mesmo amor entre eles dos tempos do namoro para justificar estreitar
ainda mais tal relação. Se a falta de um filho é o problema deles, a existência
de uma criança é justamente o que pode estar afetando a relação de Joey e Lucy,
ele ex-capitão de um time de futebol americano e ela uma ex-líder de torcida.
Eles acabaram se unindo por causa de uma gravidez inesperada, mas sem ter laços
afetivos sólidos, apenas passaram uma noite juntos e vivem há anos apenas
suportando um ao outro e na base da infidelidade. Já Dave só pensa no trabalho
e lucrar muito para dar um bom padrão de vida à família, mas sua esposa Ronnie
certamente preferia ter a companhia mais constante do marido, ainda que de
longe formem o casal mais normal da excursão. Talvez por se sentir sozinha ela
se tornou uma maníaca por reformas. Por fim, Shane foi abandonado pela esposa e
tentando dar a volta por cima se juntou a uma garota bem mais jovem que ele e
extremamente infantilizada. Se sentindo um lixo, ele acaba por fazer todas as
vontades da namorada sem perceber os micos que paga afinal ele já não tem mais
vinte e poucos anos e está bem acima do peso. Com oito personagens
interessantes em cena e uma boa premissa o resultado deveria ser bem melhor. O
grande foco é mostrar os pequenos problemas imperceptíveis até então que acabam
por abalar o relacionamento dos casais que acreditavam ter uniões estáveis e
saudáveis e que só toparam o convite dos amigos pensando nos momentos de
curtição. A dois, fique bem claro.
A relação de todos os casais
azeda, assim como a boa premissa, quando entram em cena os coadjuvantes, como o
monsieur Marcel (Jean Reno) que junto com sua equipe de massagistas, psicólogos
e terapeutas acaba envolvendo todos os hóspedes em uma série de situações embaraçosas
testando os limites e o nível de honestidade dos participantes da terapia
forçada. As atividades desenvolvidas divertem o público, mas em geral acabam
mais por constranger, como as sequências envolvendo as aulas de yoga sob o
comando de um profissional saradão e despudorado. Na maior cara-de-pau ele tira
uma casquinha das mulheres abusando de posições físicas de duplo sentido
enquanto os maridos ficam olhando tudo com ares de babacas. Apesar de piadas
desnecessárias envolvendo escatologia ou teor sexual, o que acaba mesma com a
produção é o último ato quando a previsível reconciliação dos casais se
concretiza. A guerra dos sexos é declarada e as duplas se separam, mas todos
continuam aprontando todas no resort. Como forma de punir as companheiras, entre
outras coisas, pelo comportamento delas em relação ao professor de yoga, os
homens decidem infringir as regras do local e desbravar o lado desconhecido da
ilha, aquele ambiente exclusivo dos solteiros. O problema é que elas também têm
a mesma ideia de conhecer a região. Após muita libertinagem, o reencontro traz
as manjadas mensagens de moral e finalmente eles percebem que a união perfeita
é uma ilusão, assim como a melancolia de seus relacionamentos. Um casal não
pode simplesmente resolver seus problemas saindo para jantar em um restaurante
vez ou outra ou planejando uma viagem. Quando voltarem para a casa os dilemas
estarão lá esperando por eles. Para uma união saudável e que não caia na rotina
é necessário experimentar os momentos de turbulência e procurar fazer os
ajustes necessários aqui e ali para se adequar ao perfil do companheiro,
lembrando é claro que os dois lados precisam ceder um pouco para atingirem um
equilíbrio. Encontro de Casais necessitava justamente de um peso mais
racional para contrabalançar com o emocional exagerado. Emoção no caso ligada a
euforia. No final, este trabalho é aquele típico filme que exala a sensação de
liberdade que as férias e o verão carregam, tanto que com um cenário
paradisíaco como o apresentado aqui fica difícil extravasar qualquer má
impressão que o longa tenha nos deixado. O jeito é embarcar no clima “cuca
fresca” e dar algumas risadas se possível, bem ao estilo que a personagem Trudy
leva a vida. Ela é extremamente irritante com seu jeitinho de adolescente mimada,
mas talvez por isso mesmo a melhor criação do filme. É até irônico, mas
justamente o tipo mais bizarro entre os oito protagonista é o que mais mexe com
as emoções do espectador. Simpatia ou raiva, seja qual for o sentimento, ela
talvez seja a única vaga lembrança que você terá desta comédia convencional que
joga uma boa premissa no lixo sem dó alguma.
Comédia - 113 min - 2009
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