Nota 4,0 Intrigas manjadas tentam segurar trama que não se aprofunda no tema possessividade
Jessica Lange já viveu seus
tempos de glória, sendo uma das atrizes mais requisitadas na década de 1980,
mas após conquistar seu segundo Oscar por Céu
Azul em 1995 parece que o cinema a esqueceu. Ou seria o contrário? Ao aceitar
co-estrelar o suspense Segredo de Sangue,
genérico desde o título, parece que a estrela já não fazia mais questão alguma
de ver seu nome emparelhado ao lado de outras grandes intérpretes em premiações
renomadas. Só assim para explicar a sua até então inédita indicação ao
Framboesa de Ouro, um mimo para os piores do cinema. Ela dá vida à Martha
Baring, uma milionária de meia-idade acostumada a controlar a vida de Jackson
(Jonnathon Schaech), seu único filho, um rapagão que mesmo morando em Nova
York, longe dos olhos da mamãe, não foge de sua vigilância. Ela sabe que ele
tem suas aventuras sexuais, mas jamais se preparou para o momento em que o
rapaz decidisse lhe apresentar sua futura nora de fato. Eis que ele decide
voltar à fazenda onde cresceu e visitá-la para os festejos de fim de ano
levando a tiracolo não apenas a noiva Helen (Gwyneth Paltrow), mas sim a mãe de
seu herdeiro que já cresce em seu ventre. O casal buscava refúgio após uma
traumática situação de violência, porém, mal sabiam o que os esperava no campo.
Lembram-se da reação de Jane Fonda em A
Sogra ao ser apresentada à namorada do filho? Sua personagem no exato
momento que conhece a futura nora começa a imaginar que está torturando a moça.
Lange tem reação parecida, mas na cabeça de sua possessiva criação não paira
uma cena besteirol com direito a enfiar a cara em um bolo e sim uma sequência
de episódios para perturbar psicologicamente a jovem que acreditava estar sendo
recebida naquela casa com total cordialidade. Contudo, não demora muito para ela
se sentir desconfortável sob o mesmo teto que a sogra, principalmente quando
descobre que ela rejeita e maltrata Alice (Nina Foch), a avó de seu marido.
Como a mocinha sofredora, mas que
obviamente bola um plano para desmascarar a sogra, Paltrow não demonstra a
coragem necessária para justificar o ato final, mas também pode ser que a
personagem defendesse o ditado popular de que a vingança é um prato que se come
frio. Contudo, a julgar pela estética e ritmo de telefilme, seria esperar
demais que a trama se preocupasse em surpreender com algum rompante da
protagonista que irrita com tanta ingenuidade. Um desempenho pífio para a atriz
que no mesmo ano ganhou o Oscar por Shakespeare
Apaixonado e nem tal propaganda colaborou para o sucesso deste suspense. Schaech
também não ganha bons momentos do roteiro de Jane Rusconi e Jonathan Darby,
este que também assina preguiçosamente a direção. O rapaz é uma mera desculpa
para o confronto entre as duas mulheres de sua vida e aceita de forma natural e
passivamente a crueldade de sua progenitora. Lange, embora longe de seu
potencial, é o que de melhor Segredo de Sangue tem
a oferecer interpretando uma mulher que alimenta um amor tão possessivo pelo
filho que soa até como incestuoso. Maquiavélica, a atriz deita e rola com os
planos soturnos de sua personagem, no entanto, o diretor se preocupa tanto em
criar (ou seria reciclar?) situações de tensão para amedrontar a mocinha da
fita que não oferece a chance para ela assimilar e as revertê-las, o que a
enfraquece como heroína e fazendo-a parecer mais um fantoche. O espectador
menos exigente e fã de tramas novelescas deve se entreter com tudo que acontece
e não duvide que possa existir quem se identifique com um trio de personagens
centrais tão unilaterais. O problema maior fica para os momentos finais quando
a megera ganha contornos de vilã de desenho animado caindo no ridículo. Com
conclusão ligeira e aos trancos e barrancos, este é o típico filme que
costumava preencher as estantes das videolocadoras e que serviam como
substitutos aos bombados lançamentos. Diverte numa noite de tédio, mas é esquecido
rapidamente.
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