Nota 7 Mesclando fantasia e realidade, obra aborda o sofrimento da separação e o valor da amizade
É curioso, mas desde pequenos somos encorajados por nossos pais a não acreditar em monstros, todavia, o cinema está aí para plantar no imaginário coletivo dos pequenos tais criaturas, sejam elas malvadas ou do bem. Neste segundo caso se enquadra o ser fantástico que motiva a trama de Meu Monstro de Estimação, baseado no livro "The Water Horse" do inglês Dick King-Smith, o mesmo autor da obra que inspirou o clássico Babe - O Porquinho Atrapalhado. A famosa lenda do monstro do lago Ness é contada aqui por um senhor de idade (Brian Cox, em pequena participação) para dois jovens turistas a passeio pela Escócia, uma ótima opção para apresentar paisagens diferenciadas ao espectador. Ele narra um curioso episódio vivido ha muitos anos por um garotinho chamado Angus MacMorrow (Alex Etel), que ainda muito novo teve que lidar com algumas difíceis situações.
O garoto vivia em um casarão com sua mãe Anne (Emily Watson) e a irmã Kristie (Priyanka Xi) e aguardava ansioso o retorno de seu pai, Charlie (Craig Hall), que fora convocado para se juntar à Marinha durante o período da Segunda Guerra. Sem amigos para brincar, o passatempo predileto de Angus era apanhar conchas na beira da praia, embora não entrasse no mar por não saber nadar, e certo dia é surpreendido com algo estranho que encontra, uma pedra diferente de tudo que já havia visto e decide levar para casa. Não demora muito para descobrir que na verdade aquilo era um ovo de alguma espécie de animal desconhecido prestes a nascer. Com pena do filhotinho que ganha o nome de Crusoé, em homenagem ao famoso conto do náufrago homônimo, o garoto passa a tratá-lo como se fosse um cachorrinho de estimação, mas às escondidas para a família não descobrir.
Feliz da vida que agora tem uma amigo de verdade, Angus na verdade tem um problemão para administrar. Crusoé cresce com uma rapidez descomunal e precisa sempre estar em contato com a água para sobreviver, mas a banheira onde fica escondido nos primeiros dias logo não o comporta mais. O jeito seria levar o bicho até o lago Ness onde ele teria liberdade e espaço para se desenvolver, mas isto significaria a separação deles por conta do medo do garoto em nadar. A situação vai sendo tocada aos trancos e barrancos até que dois pescadores descobrem a existência da criatura e espalham para toda população local que a cidade está em perigo. Trabalhado pelo roteirista Robert Nelson Jacobs, o argumento lembra bastante ao de Free Willy. Em ambos temos um menino solitário, a sincera amizade com um animal e o sofrimento da separação em prol da sobrevivência da espécie. Trocaram apenas a ambientação, a época e o protagonista selvagem, assim a baleia deu lugar ao chamado cavalo da água.
A idealização do monstro bonzinho é de altíssimo nível, fofo e cativante em sua fase infantil e amedrontador visualmente quando adulto, ainda que preservando sua essência doce. Não se esperava menos sendo uma criação da mesma equipe responsável pelos efeitos especiais, de King Kong e das franquias O Senhor dos Anéis e As Crônicas de Nárnia. Além do personagem-título, Meu Monstro de Estimação ainda tem um pequeno grande trunfo, o carismático Etel, que vive um personagem rico em conflitos. Além das responsabilidades que assume cuidando e escondendo Crusoé, o garoto também tem que digerir a inerente perda do pai e aceitar que sua mãe precisa recomeçar sua vida. A família de Angus recebe alguns hóspedes, um batalhão do exército liderado pelo disciplinado Capitão Thomas Hamilton (David Morrissey), cumprindo ordens do pai do garoto e pouco a pouco assumindo o papel de homem da casa não só por sua autoridade, mas por de fato estar apaixonado por Anne.
Também chega à residência o misterioso Lewis Mowbray (Ben Chaplin) que é contratado como uma espécie de zelador da propriedade e de imediato passa a ocupar a antiga oficina de Charlie, o que acaba estremecendo sua relação com Angus que, de certa forma, também acredita que o rapaz está tentando tomar o lugar de seu pai. Tal personagem poderia render bem mais se fosse melhor trabalhada a dúvida sobre seu caráter e intenções com tal família, mas o próprio Chaplin compromete sua participação demonstrando estar pouco a vontade nas cenas em que precisa imaginar o tal monstro do título que seria inserido no período pós-produção. O mesmo desconforto não se percebe no restante do elenco afinado com o espírito fantasioso da produção. A interação entre o monstro e os atores é de uma perfeição impressionante, ponto a favor do diretor Jay Russell que soube usar com sabedoria a computação gráfica, assim dosando bem a fantasia da trama que se mescla com facilidade a parte mais realista do argumento, tendo bons ganchos para fazer os adultos também pegarem carona na parte lúdica da trama.
Aventura - 111 min - 2007
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