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terça-feira, 18 de julho de 2017

ESFERA

NOTA 2,0

Com diálogos difíceis, pouca
ação, personagens sem carisma
e sem um vilão propriamente dito,
ficção naufraga do início ao fim
O título é direto, mas ao mesmo tempo intrigante. Simplesmente Esfera. Em tempos em que ficções científicas enfrentavam relutância de público e crítica, embora na mesma época os cinemas abrigassem o hoje cult Tropas Estrelares e já havia um esquenta para o retorno da saga Star Wars, esta produção teoricamente tinha tudo para dar certo, a começar por ser baseada em uma obra de Michael Crichton, o mesmo autor do livro que originou Jurassic Park. Após o retumbante sucesso desta aventura, produtores de Hollywood correram para adaptar outras de suas obras, como Twister e Assédio Sexual, este produzido por Barry Levinson que viria a dirigir o filme em questão, um suspense com toques psicológicos tendo como cenário o fundo do mar. Bem, talvez o oceano nunca tenha sido mostrado de maneira tão claustrofóbica, mas no sentido negativo. Dividindo-se entre o interior de uma estação cientifica marítima e seus arredores, a impressão é que a história se passa em um grande aquário. Com base em um relatório feito a toque de caixa simplesmente para ganhar um dinheiro extra, o psicólogo Norman Goodman (Dustin Hoffman) reúne um grupo sem a menor afinidade para uma expedição marítima. O matemático Harry Adams (Samuel L. Jackson), a bioquímica Elizabeth Halperin (Sharon Stone) e o astrofísico Ted Fielding (Liev Schreiber) são chamados às pressas para acompanhá-lo em uma aparente missão de resgate. Algo estranho caiu no Oceano Pacífico e eles, cada qual com os conhecimentos de suas respectivas áreas, precisam auxiliar nas investigações que inicialmente acreditam se tratar da queda de um avião com sobreviventes. Na verdade a equipe liderada pelo capitão da marinha americana Harold Barnes (Peter Coyote) depara-se com um objeto não-identificado cujo interior mantém flutuando uma imensa esfera brilhante, de cor dourada e aspecto gelatinoso que causa um estranho fascínio sobre todos. Pela espessura dos corais que cresceram na nave estima-se que tal objeto estava lá há cerca de 300 anos, porém, uma inscrição numérica indica que poderia ter vindo do futuro.

A expedição coloca em xeque a lógica científica e o inexplicável, além de desvendar os egos e as inseguranças da equipe que entram em choque entre eles mesmos e também com a maneira de conduzir os trabalhos do enigmático Barnes. A certa altura  Adams se voluntaria para ser absorvido pela estrutura e descobrir o que há em seu interior, mas retorna diferente, como se possuído por alguma coisa. Seu comportamento acirra as discussões entre Goodman e Beth, sua ex-paciente com um histórico de problemas psicológicos. Aos poucos são revelados os mistérios da espaçonave. Dentro dela a tal esfera parece ter vida própria e as análises revelam a presença de uma substância semelhante ao mercúrio. Chega um momento em que ela parece fazer contato com os cientistas, ou talvez a entidade que a habita, através do computador do refúgio submarino comunicando-se por meio de uma linguagem que somente o matemático consegue decifrar. Apresentando-se como Jerry, todos acreditam estar mantendo contato com um alienígena que sabe tudo o que acontece e é conversado dentro da base. Embora no inicio pareça amigável e ávida por informações dos humanos e da Terra, não demora muito para a esfera se apresentar hostil e preparar armadilhas para testar os cientistas como, por exemplo, um ataque de dezenas de medusas assassinas que atacam violentamente a expedicionária Alice Fletcher (Queen Latifah) em uma das poucas cenas realmente boas e tensionais do longa. Os fãs mais ardorosos de ficção científica conseguem identificar de imediato as várias referências aos maiores clássicos do gênero, como um polvo gigantesco (ou ao menos sua sombra) que parece ter sido importado de 20 Mil Léguas Submarinas e não faltam lembranças à Alien - O Oitavo Passageiro (curiosamente na mesma época chegava aos cinemas Alien - A Ressurreição). Em cerca de meia hora de projeção inicial a trama tenta ganhar ritmo apresentando personagens, ambientação e a ameaça, mas ainda assim tudo parece muito distante para o espectador que, desculpe o trocadilho, fica boiando do início ao fim.

O livro que originou o filme foi publicado em 1987 e até então era um dos menos conhecidos de Crichton, mas a pouca repercussão do longa não ajudou a transformá-lo em um best-seller. Levinson, vencedor do Oscar por Rain Man, bem que tentou acertar na mescla de ficção, suspense e diversão no melhor estilo para Hollywood adaptar conforme a proposta original de Crichton confiando nos serviços dos roteiristas Stephen Hauser e Paul Attanasio, este que viria a ser o criador da série "House". Todavia, por mais que todos tenham se esforçado o resultado é prejudicado pela temática difícil, distante dos espectador. Na maioria das cenas o elenco parece estar declamando frases como em uma apresentação de trabalho de ciências de colégio e o excesso de termos técnicos fazem a atenção dispersar. Os efeitos especiais também deixam a desejar. Com exceção do momento em que Goodman e Beth descobrem como a nave foi parar no fundo do oceano, o resto não convence. Conforme vinham a tona notícias sobre Titanic que estava em filmagens na mesma época, o diretor se intimidou e preferiu confiar no fascínio da história que contaria e nos astros de peso que tinha em mãos e poupou orçamento justamente nos efeitos digitais, afinal sabia que não teria como enfrentar o naufrágio do lendário navio nesse quesito. Os executivos de cinema deveriam confiar mais em seu sexto sentido. Se em um primeiro momento não existe total certeza quanto a um projeto, o melhor seria abortá-lo para evitar desperdícios. Quando os cenários já estavam sendo construídos, Esfera ficou na mira do cancelamento porque teve gente consciente que percebeu que faltava uma ameaça real para justificar a tensão da tripulação dentro da estação de estudos. O vilão, se é que podemos rotular assim, é uma estrutura amorfa com o poder de fazer as pessoas que tomem contato com ela vivenciar seus maiores pesadelos por meio de alucinações. Contudo, só a tensão psicológica instaurada entre a equipe por conta de divergências de pensamentos, desconfianças e comportamentos estranhos é pouco para prender a atenção do espectador que ainda no primeiro ato começa a se entediar. A longa duração também compromete, afinal pouco nos importamos com o destino dos personagens e até a curiosidade em torno da esfera vai por água abaixo logo em sua primeira manifestação.

Suspense - 134 min - 1998

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