Nota 7 Longa apresenta versão cômica de lendário personagem, mas sem abandonar suas origens
Qual o mais famoso e prolífico personagem do universo de terror? Sem dúvidas o lendário Conde Drácula encabeça a lista das principais criaturas nefastas que atrelaram seu nome a cultura pop, muito com a ajuda do cinema. Desde a época dos filmes mudos e em preto-e-branco, já foram produzidas centenas de produções estreladas pelo príncipe das trevas, apresentando-se com seu ar de mistério e sedutor ou até mesmo em versões estilizadas, entre fitas de horror, suspense, dramas, romances e obviamente paródias. O saudoso comediante Leslie Nielsen tratou de apresentar sua versão esculachada do personagem em Drácula - Morto, Mas Feliz, descaradamente uma brincadeira em cima do bombado longa Drácula de Bram Stoker dirigido por Francis Ford Coppola e lançado alguns anos antes, assim já antecipando uma tendência das décadas seguintes em tripudiar sucessos recentes do cinema.
A história começa nos apresentando ao procurador Thomas Renfield (Peter MacNicol) que viaja à Transilvânia para se encontrar com o sinistro cliente do título para um negócio imobiliário. O rapaz é hipnotizado e passa a obedecer as ordens do vampirão que mostra-se um homem sedutor e refinado, porém, um tantinho atrapalhado. Juntos eles vão para a Inglaterra que será o novo endereço do Conde, mas ao final da viagem Renfield se vê confinado em uma clínica psiquiátrica. Aliás, o local é administrado pelo Dr. Seward (Harvey Korman), o vizinho inglês do Drácula, este que se encanta por uma das filhas do médico, assim certa noite ele invade o quarto de Lucy (Lysette Anthony) para chupar seu sangue e saciar seus desejos. Ao ver duas estranhas marcas no pescoço da jovem e sua estranha palidez, seu pai decide chamar o Dr. Abraham Van Helsing (Mel Brooks), um especialista em doenças estranhas e também em caçar criaturas das trevas. Com cruzes e alhos, ele tenta proteger a garota de ser atacada novamente, mas Drácula é mais esperto e tem poderes que vão além da transformação em morcego.
Contudo, o Conde não consegue saciar suas vontades com apenas uma mulher, assim o vampirão volta suas atenções também para a outra filha do vizinho, Mina (Amy Yasbeck), mas com ela não quer simplesmente saciar desejos momentâneos e sim torná-la sua noiva para toda a eternidade. O saudoso Nielsen nunca foi considerado um grande ator por puro preconceito com quem domina a arte de fazer rir, mas com seus costumeiros trejeitos e caras e bocas conseguiu criar um divertidíssimo vampiro, sedutor e enigmático, mas também um tanto atrapalhado. O ator consegue reunir qualidades ímpares para compor (ou desconstruir) a imagem do Conde perpetuada há décadas. A parte séria do protagonista foi inspirada na criação icônica de Christopher Lee, o ator que melhor encarnou a figura até hoje, assim como a ambientação é um resgate da estética da Hammer, estúdio inglês que no passado foi berço de pomposas produções de horror. Todavia, o roteiro de Rudy De Luca, Steve Haberman e com pitacos do próprio Brooks, obviamente, capricha nos gracejos explorando particularidades do universo vampiresco, como a aversão ao alho e a proibição de exposição ao sol.
Além de atuar, diga-se passagem, compondo um Van Helsing bastante canastrão e com sua seriedade exagerada servindo como escada para muitas piadas, Brooks também assina a direção (seu último trabalho no cargo), já tendo experiência em reinventar personagens clássicos. Com O Jovem Frankenstein, por exemplo, apresentou sua versão bem-humorada da obra de Mary Shelley e até conquistou indicação ao Oscar pelo texto. Já com A Louca! Louca História de Robin Hood, sua reinvenção do conto do bandido que roubava para ajudar os pobres, a crítica não foi generosa assim como também não foi com sua paródia a respeito do vampiro soberano. Todavia, o derradeiro longa da carreira do diretor tem lá seus momentos divertidos e inspirados, embora a maioria calcados em piadas previsíveis e de humor visual. A introdução ilustrada com imagens em estilo renascentista traz certo ar pomposo e seriedade que depois serão substituídos pelo tom jocoso, inclusive com direito a sombra do protagonista com vida própria.
Com uma ambientação e figurinos acima da média para uma comédia, Drácula - Morto, Mas Feliz na época pode ter sido realizado buscando entreter a plateia popular mais acostumada com o humor rebuscado, contudo, com o passar dos anos, a produção ganhou certo status de cult, angariando admiradores de um humor mais mordaz e inteligente. Embora o roteiro em sua essência não diferencie em quase nada outros tantos filmes que mencionam o conto original de Stoker, sendo a exata cópia do clássico Nosferatu e afins, é de se aplaudir a habilidade dos roteiristas em inserir generosas doses de comicidade sem descaracterizar o texto base. Em tempo: Anne Bancroft, esposa de Brooks, tem um pequeno papel no início como uma cigana com um tique nervoso.
Comédia - 88 min - 1995
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