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quarta-feira, 17 de novembro de 2021

A ÚLTIMA PROFECIA


Nota 4 Apesar do clima soturno e boa premissa, obra não decola com trama arrastada e sem sustos


Embora sabemos que o aviso de baseado em fatos reais geralmente acompanha a publicidade dos filmes mais como um elemento caça-níquel, não é raro nos interessarmos por produções do tipo. Naturalmente elas trabalham em nossas mentes um elemento: a curiosidade. Todos os gêneros lançam mão de tal recurso, mas é certo que fitas de terror e suspense se beneficiam e ainda podem se dar ao luxo de inventar a vontade, afinal sabemos que o argumento é inspirado em episódios reais, mas dificilmente sabemos até que ponto o que vemos na tela de fato aconteceu. Algumas produções também podem esbarrar em temáticas muito regionais, o que impede a repercussão fora de seu país de origem. Bem, no caso de A Última Profecia nem mesmo os americanos deram bola para este suspense arrastado e confuso que não assusta, não envolve emocionalmente e tampouco desperta curiosidade. 

A fita tem como base a lenda do Homem-Mariposa, um vulto escuro com formas humanas, mas também dotado de um grande par de asas cujas aparições misteriosas sempre antecedem alguma tragédia. Nos EUA há diversos registros de pessoas que afirmam ter tido tal visão, mas ninguém sabe dizer se ele seria um anjo profético,  um mensageiro da morte ou até mesmo um extraterrestre. Também poderia ser delírio de indivíduos facilmente impressionáveis. Baseado em fatos reais ocorridos entre novembro de 1966 e dezembro de 1967, e narrados no livro "The Mothman Profecies" do jornalista e parapsicólogo John A. Keel, o filme acompanha o drama vivido por John Klein (Richard Gere), um jornalista que perde sua esposa Mary (Debra Messing) devido a complicações geradas por um acidente de carro. Ela estava ao volante e momentos antes de perder a direção teria tido estranhas visões que a perturbaram. Durante o período em que ficou internada, ela fazia relatos e desenhava sobre uma criatura sinistra intrigando o marido que após sua morte tenta seguir sua vida, mas o destino parece impedi-lo.


Dois anos depois, na volta de uma viagem de trabalho, involuntariamente ele se desvia de seu caminho e vai parar na pequena cidade de Point Pleasant quando seu carro apresenta defeitos. Ele pede ajuda na casa mais próxima da estrada, mas é recebido com rispidez por Gordon Smallwood (Will Patton) que afirma que Klein há três noites o perturba, contudo o jornalista jura que nunca passou por aquele lugar. A policial Connie Parker (Laura Linney) é chamada para investigar a ocorrência e confirma que outros moradores da região estão relatando vivenciar fatos esquisitos, incluindo visões com o Homem-Mariposa. Klein conhece Alexander Leek (Alan Bates), um escritor de livros sobre eventos paranormais e afins que lhe explica sobre o mistério da tal entidade. Poderia ser uma lenda urbana, mas as centenas de relatos de suas aparições antes de tragédias indicam que há muito mais entre o céu e a terra do que nossos olhos podem ver ou nossa ciência explicar. 

O jornalista então passa a acreditar que não parou naquela cidade por acaso. Além do contato visual, também vivencia um episódio que lhe dá a certeza que a criatura tem o poder de ocultamente acompanhar a rotina de seus escolhidos e se torna mensageiro de uma possível tragédia com centenas de vítimas prestes a acontecer. Explorando o viés de suspense psicológico e fenômenos sobrenaturais, o diretor Mark Pellington, de O Suspeito da Rua Arlington, acaba se desviando de seu objetivo e constrói um suspense frio e tedioso. O roteiro de Richard Hatem também compromete as coisas. Vira e mexe tenta forçar conexões entre os episódios de Point Pleasant e a morte de Mary sem sucesso e não se aprofunda no perfil do protagonista que parece não ter ações próprias e sim se movimentar em razão dos acontecimentos que o circundam. 


Como pontos positivos, A Última Profecia felizmente deixa de lado a violência gratuita e o pouco de sangue em cena é justificável. Quem tem as visões com o Homem-Mariposa ficam com olhos e ouvidos sangrando e repetindo mensagens transmitidas pela entidade. Todavia, duas horas é muito tempo para um filme com pouco conteúdo. Preferiram se ater a uma profecia específica e impactante (ou deveria ser), mas certamente descartaram dezenas de relatos de arrepiar com a tal entidade e que poderiam preencher um maior tempo de arte com mais qualidade e engajamento do público.

Suspense - 119 min - 2002

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