Índice de conteúdo

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

DIA DE IRA


Nota 6 Trama envolvendo política e religião mais uma vez coloca judeus no olho do furacão


Quando se fala no massacre de judeus automaticamente nos lembramos do período da Segunda Guerra Mundial, algo natural visto que é um fato de bastante destaque nas aulas de História e há uma infinidade de títulos que destacam a temática. Contudo, tal perseguição já vem de longa data, desde meados do século 15, e manifestou-se principalmente no continente europeu, sendo um episódio marcante na Espanha com sua famosa inquisição. O país vivia um período próspero, era o maior império desde Roma, mas de repente um fervor religioso surgiu sob o lema "uma nação, uma fé", ou seja, quem não era católico não poderia viver neste território, assim milhares de judeus tiveram que se converter à força ou fugirem para não serem condenados a morte. Quem decidia por ficar levava uma vida dupla: cristão para o mundo, judeu no coração. A trama de Dia de Ira se passa em 1542 e narra a história de Ruy de Mendoza (Christopher Lambert), um xerife que se depara com uma série de assassinatos brutais de membros da nobreza espanhola e que podem ter ligações com a Igreja. 

O duque José de Santa Fé (Pál Makrai) foi uma das primeiras vítimas. Certa noite ele estava na companhia de uma prostituta em um lugar público isolado e foi surpreendido por um homem mascarado que o retalhou, assim como fez com a garota e com os soldados que a distância escoltavam o nobre. Mendonza é chamado para averiguar a cena do crime e encontra o corpo do nobre e imediatamente vai dar a notícia para a esposa do falecido, a duquesa Pilar (Irén Bordán), mas quando retorna ao local os cadáveres haviam sumido e o cenário estava sem o menor vestígio de tragédia. Alguns dias depois, a esposa do duque surge em um evento público desacompanhada, mas afirma para todos que o marido está bem de saúde e viajando a trabalho. Já ciente da inquisição promovida pela Igreja, Donoso Cabral (Ben O’Brien), fiel escudeiro do xerife, compartilha da mesma opinião de seu chefe: os estranhos acontecimentos do vilarejo tem algo a ver com política e religião, algum tipo de pacto no qual os mais nobres e ricos fazem questão de ignorar as evidências em prol de manter suas imagens inabaladas. 


As coisas complicam quando é encontrado junto a outras dezenas de corpos amontoados o cadáver do conde Raul de Jaramillo (Sándor Teri) também com sinais de ferimentos semelhantes aos do duque de Santa Fé. Mendoza vai atrás da viúva, a condessa Carmen (Blanca Marsillach), mas ela também desconversa sobre a possibilidade do marido estar morto, mas neste caso foi encontrado junto a vítima uma joia, a mesma que o xerife havia dado a essa mulher anos atrás quando namoravam. Desconfiado, ainda mais pelo interesse de Frei Anselmo (James Faulkner) nas mortes, ele começa a estudar livros sobre as linhagens de famílias nobres da Espanha, mas encontra discrepâncias entre as publicações. No livro usado pelos religiosos, teoricamente o legítimo, constam os nomes das famílias Santa Fé e Jaramillo, mas em um outro não. O governador Francisco Del Ruiz (Brian Blessed) mostra-se surpreso quando é procurado por Mendoza para falar sobre tais assuntos, ainda mais porque nenhuma viúva reivindicou providências quanto ao assassinato dos maridos. O xerife então recebe ordem para poder investigar as misteriosas mortes, contudo, sua determinação vai bater de frente com o interesse de poderosos e colocar sua própria vida e família em risco, principalmente depois que ele consegue ter acesso a uma lista com nomes de judeus marcados para morrer. 

Por trás do verniz de aventura épica descartável, o longa consegue envolver com um texto intrigante e clima de tensão crescente, fruto do bom trabalho do roteirista e diretor Adrian Rudomin. Todavia, quando o grande segredo é revelado os ânimos esfriam um pouco, porém, o interesse é mantido pelo conteúdo histórico que a fita proporciona. A Espanha viveu por muitos anos em relativa paz graças a união de Isabel de Castela e Fernando de Aragão (ambos apenas citados), respectivamente uma cristã e um judeu. Durante muito tempo o rei protegeu seu povo, inclusive lhes concedendo nomes cristãos para poderem permanecer no país e não perderam tudo que conquistaram, até histórias de vida foram forjadas para constar no tal livro das famílias locais, mas após sua morte os inquisidores começaram a perseguir estas pessoas. Até judeus que conseguiram se tornar nobres passaram a derramar sangue da sua própria linhagem para evitar chantagens de pessoas em busca da famosa vida mansa e que poderiam revelar suas reais identidades. 


Apesar do excesso de nomes citados ao longo da narrativa complicar as coisas, a produção consegue surpreender tanto visualmente, com cenários e figurinos em tons sóbrios que reforçam o clima de incertezas da época, quanto pelo texto que oferece uma boa aula de História sobre um período praticamente ignorado pelos materiais pedagógicos. Uma pena que o longa caiu no ostracismo tão logo fora lançado e quem se interessou provavelmente não tenha sido pelo pano de fundo histórico. Devem ter sido atraídos pelo nome de Lambert encabeçando o elenco. Apesar de uma filmografia de variados gêneros, o ator de origem francesa ficou com sua imagem atrelada ao campo de ação e aventura graças a franquia Highlander e o material publicitário de Dia de Ira, assim com o próprio título, equivocadamente transmitem a ideia de uma produção dessas de brucutu tentando fazer justiça com as próprias mãos. De certa forma, não deixa de ser esse mesmo o foco do enredo, mas longe do estilo das produções protagonizadas por Jean-Claude Van Damme e companhia bela.

Suspense - 109 min - 2006

Leia também a crítica de:

LOPE
A OUTRA (2008)
O MERCADOR DE VENEZA

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Este espaço está aberto para você colocar suas críticas ao filme em questão do post. Por favor, escreva o que achou, conte detalhes, quero saber sua opinião. E não esqueça de colocar a sua avaliação do filme no final (Ruim, Regular, Bom ou Excelente).