Nota 4 Embate entre os alienígenas mais medonhos do cinema soa tedioso e frustrante
Visando lucro fácil, além das refilmagens e continuações, Hollywood também tem se especializado em crossovers, produções alicerçadas sob a expectativa dos encontros de personagens ícones. Alien vs. Predador provavelmente era o sonho dos fãs das duas franquias que compartilham de um mesmo universo sombrio. Mesmo sendo a rigor uma produção de ficção científica, gênero que vive entre altos e baixos, era esperada uma expressiva arrecadação do filme e ainda créditos secundários oriundos de um vasto arsenal de produtos para colecionadores animados com a possibilidade de uma nova franquia surgir para dar sobrevida aos monstros intergalácticos. De fato, as cifras alcançadas foram satisfatórias, mas as críticas negativas surgiram em quantidades bem mais generosas. Os personagens já haviam se enfrentado em games e HQs, mas o embate no cinema soou decepcionante. Com direção de Paul W. S. Anderson, também autor do roteiro em parceria com Shane Salerno e Dan O’Bannon, é bom de deixar claro que o longa não tem qualquer compromisso com a realidade, assim engolimos que há muitos milênios a Antártida seria uma região perfeitamente habitável e com clima tropical, mas para os humanos poderem viver em paz precisavam fazer sacrifícios dando oferendas vivas aos Predadores, uma raça interplanetária e superior que era reverenciada como se fossem deuses.
As vítimas, que na verdade achavam uma honra serem escolhidas para o ritual, eram submetidas a uma espécie de infecção e assim geravam Aliens que serviriam para a caça competitiva a fim de manter os Predadores entretidos. Milhares de anos depois, o magnata Charles Bishop Weyland (Lance Henriksen) convoca uma equipe de cientistas e técnicos de segurança para explorar uma estranha pirâmide que descobriu, obviamente na agora gélida Antártida para fazer valer o ditado do quem procura acha, no caso, problemas. O monumento reúne características de três culturas ancestrais distintas e, segundo hieróglifos que cobrem as paredes, o local servia para a realização de cerimônias de iniciação nas quais guerreiros humanos precisavam enfrentar os Aliens para conseguirem ganhar uma marca que os rotulasse como adultos corajosos. E é claro que escondida em algum lugar da pirâmide vive uma gigantesca criatura da espécie pronta para gerar filhotes que servirão de teste para a nova prole dos donos da casa. Só faltava as iscas para despertá-la. O grupo de exploradores, repleto de personagens estereotipados (o covarde, o herói-galã, o militar-durão...), é liderado com pulso firme por Alexa Lex Woods (Sanaa Lathan), mas não demora muito para todos se dispersarem, até porque as paredes internas da construção mudam de lugar de tempos em tempos formando um claustrofóbico labirinto cujo centro é a câmara de sacrifício.
Com novos visitantes, a Rainha-Alien desperta de sua longa hibernação e está disposta a repovoar a pirâmide com seus filhotes que tão logo ganham vida começam a atacar os humanos para saciar a fome e incubarem novos embriões da espécie. Contudo, os Predadores também estão na área e agora, mais que realizarem rituais de passagem, eles precisam evitar que seu templo seja dominado pela raça rival. Resultado: os humanos que estão em meio a essa guerra estão ferrados. Será que algum sobreviverá para contar história? Quem deseja assistir este filme obviamente é atraído pela curiosidade em ver dois dos maiores ícones do cinema de ficção científica no maior quebra-pau e, de preferência, em embates distribuídos em várias cenas para prolongar o prazer. Muitos tiveram o gostinho de vivenciar essa adrenalina nos videogames e, provavelmente, ao verem o embate cinematográfico vão concluir que em versão de joguinho a parada era bem mais emocionante, pois ao menos o jogador tinha um pouco de controle sobre os duelos. Já na versão cinematográfica, o esperado encontro das criaturas demora a acontecer e antes temos como aperitivo seus encontros nada amistosos com os humanos, o que implica em uma introdução broxante para quem espera ação ininterrupta. Tal qual em um filme de serial killer, preciosos minutos são dispensados para apresentar os personagens, afinal de contas temos que ter peninha quando eles virarem comidinha dos bichos espaciais, no entanto, eles são tão desinteressantes que vibramos cada vez que um sai de cena. Não é preciso ser adivinho para saber que a Srta. Woods sobrará como a mocinha indefesa para o clímax.
Quem curte cinema de verdade, levando em consideração questões como a originalidade e as qualidades técnicas, por exemplo, sabe da importância da franquia Alien, com sua ambientação e trama claustrofóbicas, e de Predador, que por trás da aparência de aventura ligeira esconde um texto inteligente. É uma pena que a esperada reunião das criaturas revela-se vazia, apenas uma tentativa de capitalizar em cima do que já foi testado e aprovado. Nada contra em misturar histórias com um mínimo de semelhança, mas é fato que Alien vs. Predador poderia ser uma produção que fizesse mais jus ao passado de sucesso dos personagens-título. Em seus respectivos filmes originais, os monstros do espaço teoricamente eram coadjuvantes a serviço de enredos que refletem a natureza humana, mas em ambos os casos as criaturas assumiram a posição de protagonistas e colocaram os demais personagens e as próprias histórias sob seus comandos. Anderson, já íntimo do universo da ficção por longas como O Enigma do Horizonte e Resident Evil – O Hóspede Maldito, estava ciente de que pouco adiantava se preocupar com um enredo mirabolante, pois as batalhas indiscutivelmente eram o chamariz. Contudo, sabia que se oferecesse o que o público quer logo de cara teria material no máximo para um curta-metragem, assim optou por caprichar na ambientação e na contextualização para proporcionar um clima adequado ao embate que então era vendido exageradamente como a maior batalha cinematográfica de todos os tempos.
Os roteiristas e toda a equipe técnica foram cuidadosos ao criar um híbrido de duas histórias com características bem peculiares. Além de propor um breve resumo para explicar a origem das espécies e suas relações, também foi escolhida uma ambientação neutra, pois de certa forma o longa dá continuidade às franquias individuais dos personagens. É uma pena que o resultado final tenha ficado involuntariamente mais engraçado do que assustador, fruto das várias intervenções exigidas pelo estúdio 20th Century Fox que visando inflar as bilheterias mandou dar uma amenizada na tensão e violência a fim de atingir plateias mais jovens. Com gosmas, vísceras e sangue dosados, a obra frustra e não corresponde às expectativas de um projeto acalentado por mais de uma década, desde que a primeira história em quadrinhos homônima ao filme foi publicada.
Terror - 100 min - 2004
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