Nota 3,0 Apesar da animação caprichada, produção latina sofre com roteiro frágil e sem clímax
Produções vindas de outros países
são sempre bem-vindas para oxigenar o mercado, mesmo que lançadas direto para
consumo no aconchego do lar. Vários países já provaram que podem fazer
excelentes filmes e nos mais variados gêneros, mas a demanda de animações ainda
é muito tímida, talvez pelo medo de bater de frente com os gigantes
hollywoodianos que com seus desenhos produzidos com alta tecnologia, narrativas
inteligentes e humor por vezes ácido conquista espaço facilmente e não deixa
brecha para amadores. Realmente, os custos de uma animação são consideráveis e
não ter a publicidade do cinema é um empecilho até mesmo para o lançamento em
DVD e outras mídias domésticas, assim no mínimo devemos aplaudir o trabalho de
pessoas que topam investimentos de risco do tipo, ainda mais quando representam
países sem tradição no ramo. A Argentina já provou ser brilhante para dramas e
comédias, mas Pássaros Livres foi lançado com o intuito de dar um passo
adiante em sua cinematografia. A atitude é louvável, mas o resultado é no
máximo regular, infelizmente. Com roteiro e direção de Daniel De Felippo, o
longa acompanha as aventuras de dois passarinhos em situações opostas. Juan é
um pardal que tem complexo por se achar uma ave comum, o que o leva a viver de
certa forma recluso, sempre escondido sobre o disfarce de penugem em tons
marrons. Ele adora se sujar na lama para que suas penas ganhem um tom
diferenciado e assim consiga se destacar e chamar a atenção das fêmeas que
geralmente o ridicularizam. No momento ele está empolgado com uma competição
das aves mais rápidas e conta com a torcida de seus amigos, como o beija-flor
Pipo e a pomba Líbia, mas um incidente com latas de tinta acaba desviando seu
foco. Com coloração exótica como sempre desejou, ele está se achando “o cara” e
só pensa em paquerar e se exibir. Antes desta transformação, Juan havia
conhecido por acaso Feifi, uma canarinha que passou a vida dentro de uma gaiola,
estava infeliz e por um descuido acabou tendo que enfrentar os perigos da
cidade grande. Para ajudá-la nesse primeiro contato com a liberdade, ela ganha
a improvável ajuda de Clarita, uma morceguinha boa-praça.
Juan e Feifi então se conhecem,
se apaixonam e vivem felizes para sempre. Bem, é mais ou menos isso que
acontece. O roteiro não constrói bem o sentimento que surge entre as aves
protagonistas, no máximo uma amizade que começa por conta das circunstâncias. O
pardal começa a ficar assustado com as histórias que ouve sobre doenças e
deformações causadas pela tinta no corpo dos passarinhos e resolve procurar o
sábio Sr. Abutre que o aconselha a procurar ajuda com os humanos, pois eles é
quem tem os conhecimentos necessários para ajudá-lo. Feifi também procura a
ave-mestra por estar se sentindo desprotegida e é recomendada a voltar para o
seu antigo dono, pois é uma espécie criada com todos os tipos de cuidados e
mimos e seria tarde para aprender a sobreviver em um mundo tão selvagem. Juan
sabe que depois de recuperado voltará a ser livre, mas se a amiga retornar à
sua antiga gaiola dificilmente voltará a vê-la, então bola um plano para
resgatá-la. A trama até insere cenas mostrando alguns dos perigos aos quais os
passarinhos estão expostos tanto no cativeiro, como as bugigangas tecnológicas
que assustam ou não funcionam direito, ou em liberdade, como os predadores e a
urbanização desenfreada, mas não se aprofunda. Apesar de uma animação primorosa
e colorida feita em computação, é uma pena que Pássaros Livres não
dedique a mesma atenção dispensada ao visual para o roteiro que poderia ser
ousado e explorar mais a questão das metrópoles invadindo o espaço da natureza
sem se preocupar com o destino dos animais. A introdução prometia uma reflexão
do tipo, mas no final das contas o filme se resume a apenas uma animação
bonitinha e com uma ou outra piada aproveitando-se de particularidades das
espécies de animais, como o fato dos morcegos não enxergarem bem durante o dia
ou o bater de asas acelerado do beija-flor que não sofre impacto em uma cena em
câmera lenta. Até os possíveis vilões da história, o gato Fredie e o Sr.
Puertas, tem participações desperdiçadas e o desenho fica devendo um clímax
convincente, mesmo a produção tendo a assistência luxuosa do famoso Juan José
Campanella, de O Segredo dos Seus Olhos e
muitos outros sucessos, talvez o cineasta mais famoso da Argentina no momento.
Animação - 80 min - 2010
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