Nota 8 Ninguém melhor que Whoopi Goldberg para viver uma freira que de santa não tem nada
Igreja é um lugar para rezar, idolatrar o Senhor, fazer caridades e até lamentar ou se entristecer dependendo das circunstâncias que o levam à missa ou a uma passada rápida para acender uma vela para algum santo, mas para Whoopi Goldberg esse templo do louvor provavelmente deve ser sinônimo de muita felicidade e dinheiro na conta bancária graças a comédia Mudança de Hábito, um estrondoso sucesso mundial. Muita gente o tem como uma grata lembrança da infância ou da adolescência e o fato de ser uma produção lançada há tempos não impede que novas gerações se divirtam com as confusões da cantora Deloris Van Cartier (Goldberg) que se apresenta em um cassino sem muito sucesso, afinal os frequentadores estão mais interessados em bebidas e apostas. Certa noite ela acidentalmente testemunha um assassinato cometido pelo seu namorado, o gângster Vince LaRocca (Harvey Keitel), que acaba fugindo após fracassar na tentativa de silenciar a cantora. Depois que declara à polícia tudo e mais um pouco do que sabe a respeito do bandidão, Deloris é colocada no programa de proteção às testemunhas sob a batuta do tenente Eddie Souther (Bill Nunn) que a ajuda a ser aceita em um convento, o último lugar que alguém poderia desconfiar que ela pudesse se esconder.
Atendendo então pelo nome de irmã Mary Clarence, a testemunha deveria permanecer no local até que o fugitivo fosse capturado, mas ela mesma não poderia esperar que essa temporada em um local completamente diferente do que estava habituada traria mudanças significativas tanto para ela quanto para suas novas companhias. No entanto, obviamente no início as coisas não são fáceis e Deloris precisa fazer o possível e o impossível para se adaptar a pacata rotina do local, mas seu jeito extrovertido acaba se sobressaindo e isso não agrada a Madre Superiora (Maggie Smith). Seria possível uma mulher desbocada, que frequentava inferninhos e adepta de algumas falcatruas, ainda que leves, se regenerar à força? Recebê-la no convento seria um ato de caridade, mas ainda assim a veterana religiosa se arrepende da decisão acreditando que a presença de uma falsa freira tiraria as demais irmãs do caminho imposto pelo Senhor, assim ela tenta levar o problema aos ouvidos do Bispo O’Hara (Joseph Maher), o diretor do convento que pede para a Madre ter um pouco de paciência. Havia problemas mais graves a serem resolvidos, como o risco da instituição encerrar suas atividades devido a falta de recursos financeiros já que as pessoas estavam cada vez mais distantes da Igreja.
Já que a Madre exige que Deloris se comporte como uma legítima freira, a cantora por sua vez se vê no direito de passar sua visão a respeito do convento, ou seja, as razões que levaram os fiéis a abandonar a fé. Responsabilizada de reger o coral, ela resolve inovar e dar vida às canções sacras impondo ritmo e timbres de vozes vibrantes. O resultado é que ela acaba conseguindo encher as missas de jovens que não se interessavam por religião e resgatar os desertores, todos atraídos pelas músicas e clima de alegria, assim as doações também voltam. Até a mídia se interessa em registrar esse movimento de resgate da fé, assim o estranhamento inicial da Madre acaba se transformando em admiração acompanhando a empolgação do Bispo. A própria regente percebe que não é mais a mesma a partir do contato com a religião, mas é óbvio que quando tudo está dando certo inevitavelmente ela terá que enfrentar o passado que volta a lhe perseguir. O roteiro de Paul Rudnick (assinando sob o pseudônimo Joseph Howard), já é uma história clássica e por mais que se saiba que o final feliz está garantido nada estraga o prazer de assistir a esta obra do diretor Emile Ardolino que já acumulava em seu currículo mais dois clássicos das sessões da tarde, Dirty Dancing – Ritmo Quente e Três Solteirões e Uma Pequena Dama.
A expectativa em torno deste lançamento era grande justamente por causa de sua protagonista que pouco tempo antes havia ganhado o Oscar de atriz coadjuvante por Ghost – Do Outro Lado da Vida, assim entrando para o primeiro time de estrelas de Hollywood. Antes desta atuação cômica incidental em uma obra tão lacrimosa, Goldberg já era rotulada como humorista de mão cheia, embora seus projetos não vingassem. Tal fama só veio a aumentar após Mudança de Hábito. Realmente a atriz estava em ótimo momento profissional, mas a maré boa durou pouco e se estendeu somente até a sequência desta comédia lançada um ano depois. Desde então, Goldberg tem se envolvido em projetos menores, sem muita projeção. Mesmo assim ela deixou sua marca e transformou a irmã Clarence em um personagem icônico. Os pontos altos do longa são as cenas em que ensaia um coral de freiras um tanto desafinadas e desmotivadas, com destaque para as atuações coadjuvantes de Kathy Najimy e Wendy Makkena, respectivamente as irmãs Mary Patrick e Mary Robert, a gordinha animada e a magrela tímida que conquistam a simpatia do público automaticamente. Já a veterana Smith não tem muitas oportunidades para sorrir, aparecendo quase todo o tempo sisuda e com expressões de preocupação, mas o perfil da Madre Superiora lhe caiu como uma luva e rendeu cenas memoráveis batendo de frente com a novata no sacerdócio.
Sem dúvidas é hilário acompanhar o cotidiano de Clarence com suas colegas de convento, uma adaptação de ambas as partes até atingir o mínimo de equilíbrio, sendo que o roteiro consegue reciclar situações com piadas inspiradas e que fluem com total naturalidade. Goldberg é imprescindível praticamente o tempo em cena e realmente se entregou ao papel. Apesar de aparentemente ter se divertido muito com este trabalho, curiosamente dizem que os bastidores não foram dos mais amigáveis para a atriz que constantemente tinha atritos com a equipe, talvez porque a primeira opção para dar vida à Deloris era Bette Midler. Certamente com outro perfil de protagonista o filme seria completamente diferente, talvez nem se tornasse o sucesso que foi e continua sendo. É impossível imaginar outra no lugar da debochada Goldberg. Sua escalação contribui inclusive para acentuar alguns aspectos críticos. Sinceramente, dificilmente alguém diz que já viu uma freira negra ou que conheceu alguma que usava linguajar popular repleto de gírias. Seriam elas proibidas na casa de Deus?
Um dos meus filmes preferidos para ver e rever. Pena que Whoopi Golberg não faz o mesmo sucesso de antes.
ResponderExcluirAbraços.
Esse filme é muito bom, super engraçado, ri muito a primeira vez que vi. Assisto sempre que passa, o melhor de Whoopi
ResponderExcluirMudança de Hábito é inesquecível maravilhoso
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