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quarta-feira, 6 de junho de 2018

A PROFECIA (2006)

NOTA 3,5

Refilmagem de clássico do
terror frustra com trama
previsível, pouco sustos e aura
de golpe de marketing
A data 06/06 é repetida todos os anos, agora 06/06/06 é uma raridade e caiu como uma luva para os propósitos do diretor John Moore, vindo da aventura O Voo da Fênix. A sequência numérica 666 é conhecida por representar uma simbologia que evoca o demônio. Certamente essa coincidência única foi a justificativa para a existência de um remake de A Profecia e também é o que explica o fracasso da produção. É provável que alguns executivos perceberam tardiamente essa “data-evento” e encomendaram uma refilmagem deste clássico de terror em velocidade recorde para realizarem um lançamento mundial e oportunista, inclusive obrigando os cinemas a alterarem suas grades de horário em uma terça-feira confiando na audiência dos supersticiosos. Se perdessem essa chance para gerar burburinho em torno do temido número outra igual só depois de cem anos, porém, a pressa é inimiga da perfeição. Passado o impacto da temida e enigmática data, qual o propósito do projeto? A ideia de um remake certamente já estava sendo amadurecida para aproveitar as comemorações dos trinta anos de lançamento do longa original dirigido por Richard Donner, um marco na História do cinema e que arrecadou uma polpuda bilheteria, contudo, não conseguiu sobreviver a ação implacável do tempo, não chegando ao status de O Exorcista, por exemplo. Mesmo com a obra disponível em DVD e vez ou outra sendo exibida na TV, é difícil convencer espectadores mais jovens a conferirem a produção, assim refazê-la viria a calhar, mas o problema é que a nova versão jamais seria totalmente igual a primeira, pior ainda, teria que se adequar ao século 21. Na realidade esta refilmagem tem apenas algumas sequências adicionais e apresenta sensível queda no nível de interpretação do elenco em relação à obra original, mas a trama é basicamente a mesma. O título está relacionado a uma passagem que consta na Bíblia a respeito do nascimento do Anticristo justamente na tal data cabalística. A ação do filme começa em Roma cinco anos antes mostrando o nascimento do filho de Katherine (Julia Stiles) e Robert Thorn (Liev Schreiber), este acompanhando a comitiva do embaixador dos EUA em sua visita à Itália. Infelizmente a criança acaba morrendo no parto e antes que a mãe se dê conta Spiletto (Giovani Lombrado Radice), um padre do hospital, convence o marido a adotar um bebê que nasceu quase simultaneamente, no sugestivo dia 06 de junho às seis horas da manhã, mas cujo pai é ausente e a mãe não resistiu à cirurgia. Pensando no desespero da esposa ao saber o que aconteceu, e ainda mais com o risco de não poder mais ter filhos, Robert concorda com a adoção, mas pede sigilo absoluto.

Damien (Seamus Davey-Fitzpatrick) cresceu cercado de mimos e presentes. A tradicional sequência de filmes caseiros de festas natalinas e de aniversários comprova que ele era um menino feliz e amado, mas as coisas não tardam a mudar. Pequenos incidentes e fatos estranhos começam a acontecer com pessoas próximas a família Thorn, como a explosão do carro em que estava Steven Haines (Marshall Crudup), para quem Robert trabalhava e acabou herdando sua vaga como embaixador da Grã-Bretanha e a luxuosa mansão que lhe era destinada. Dois anos depois, durante a festa do quinto aniversário de Damien, sua jovem babá (Amy Huck) comete suicídio na frente dos convidados, mas antes estranhamente dedica sua morte ao garoto que não reage de forma alguma à cena. Situações bizarras ou inexplicáveis começam a ficar mais constantes e paralelamente o pai do menino passa a ser perseguido pelo padre Brennan (Pete Postlethwaite) que tenta convencê-lo sobre a profecia bíblica e que o aparentemente inocente Damien poderia ser o Anticristo. É óbvio que Robert não acredita em um primeiro momento, mas quando o fotógrafo Keith (David Thewlis) o procura com fotos intrigantes de pessoas que morreram e tiveram algum tipo de contato recente com os Thorn ele se convence de que a troca de bebês foi uma armação e começa uma verdadeira peregrinação em busca de respostas e das adagas que poderiam livrar o mundo do Mal, mesmo Damien sendo uma criança que ele amou como se fosse seu filho de sangue. A essa altura a situação está mais complicada com o envolvimento da senhorita Baylock (Mia Farrow), uma mulher que se infiltrou na mansão da família para ser a babá do menino, mais precisamente protegê-lo para que o filho do capeta não fosse exterminado. Tal qual Gus Van Sant procurou respeitar ao máximo a obra de Alfred Hitchcock quando decidiu refilmar Psicose, Moore tentou fazer o mesmo em consideração ao trabalho de Donner praticamente decalcando o original cena por cena, no entanto, o resultado ficou aquém do esperado por conta de pequenos detalhes que fazem toda a diferença. Embora trabalhando com o script original de David Seltzer, que é creditado também como autor do remake, na realidade a obra foi reescrita por Dan McDermott que deu uma leve atualizada modernizando diálogos e obviamente adicionando a tecnologia, como os celulares e internet, no cotidiano dos personagens. O grande pepino para o roteirista é que aquilo que aterrorizava nos anos 70 três décadas depois mal causa arrepios. Como assustar as plateias moderninhas depois que dezenas de filmes a respeito de evocações demoníacas esgotaram o assunto? Apenas com o olhar dúbio do protagonista-mirim alternando doçura e maldade é que não iam conseguir. O caminho mais fácil é a violência gráfica que neste caso acabou sendo usada com parcimônia. Se as contas não estão erradas, temos seis mortes marcantes ao longo da trama, mas duas não convencem, justamenta as que envolvem sangue e filmadas no estilo do terror teen Premonição. Não adianta fugir, se chegou a sua vez não há como escapar, mas tais cenas destoam no conjunto.

Os outros falecimentos são mais críveis e envoltos no contexto, até mesmo a rápida morte do embaixador Haines que pode parecer sem propósitos. A cena foi adicionada na atualização como forma de enfatizar a energia negativa que ronda o mundo nesta fase em que boa parte das pessoas estão desacreditadas da fé, assim como o prólogo que busca relacionar os sinais do Apocalipse descritos na Bíblia com tragédias recentes como os ataque às Torres Gêmas, o tsunami na Ásia ou até mesmo a violência tão presente no cotidiano de todos os países. A morte do embaixador ainda abre frente para outra interpretação. Robert assumindo seu cargo de confiança ficaria ainda mais rico e toda esta fortuna seria herdada por Damien. Quem tem dinheiro e poder manda e o demônio quer reinar absoluto, assim o menino dá um jeitinho de tirar de seu caminho um possível irmãozinho, uma sutil ideia de que Deus poderia estar mandando um salvador inesperada e ironicamente através do ventre de Katherine, esta que decepcionada com as atitudes do outro filho não quer levar a gravidez adiante. Interpretações como esta só são possíveis com reflexões posteriores e um pouco de boa vontade por parte do espectador. Faltam ao filme frases, gestos, olhares, enfim elementos que liguem os pontos. Quando o analisamos como um todo percebemos que ele tem seus bons momentos, mas eles parecem flutuar na narrativa. A cena da perda do bebê é muito bem realizada e uma das poucas em que a sutileza mostra-se presente. Uma inocente sequência entre Damien e Baylock sem diálogo algum, apenas uma tímida troca de olhares e um bom trabalho de câmera, já nos faz compreender qual a intenção da dupla perfeitamente. Aliás, a presença de Farrow ajudou nas expectativas quanto ao lançamento. A mãe do capeta em O Bebê de Rosemary então voltava para mais uma vez cumprir a missão de proteger o enviado das trevas, mas sua atuação decepciona, principalmente no clímax que culmina em um patético desfecho para sua senhora malvada. Schreiber e Stiles também fracassam, não há química entre eles e parece que o casal foi unido apenas por questões financeiras e de status, assim criar literalmente um demônio em casa serviria até como um castigo pela falta de amor. Seria outra mensagem subliminar? Em suma, o remake de A Profecia não é um lixo como muitos dizem, só é desnecessário. Havia muito a ser explorado, mas talvez a pressa para finalizá-lo tenha levado Moore a copiar apenas o principal do filme setentista e os pequenos detalhes que deixou de fora fizeram diferença para a narrativa fluir com eficiência e os personagens cativarem. Do jeito que foi entregue pouco nos importamos com o destino do casal Thorn. Os erros como cenas desconexas, sustos frágeis, cenografia batida e uma chuva torrencial destoante, poderiam ser perdoados em outro terror ou suspense qualquer, mas o problema é que se trata de uma obra que procura apresentar um clássico para uma nova geração. O máximo que conseguiram foi mais um título para vez ou outra ser lembrado por adolescentes mais interessados em uma desculpa para namorar ou se reunir com amigos para zoarem.

Terror - 109 min - 2006 

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