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sexta-feira, 8 de abril de 2022

HABITANTES DA ESCURIDÃO


Nota 2 Obra não estabelece conexão com o espectador com trama enfadonha e clichês bobocas


O diretor Wes Craven marcou a década de 1980 com A Hora do Pesadelo e suas continuações na década seguinte iniciou outra franquia de sucesso, Pânico. Antes destes lançamentos, também criou pequenos clássicos do suspense e terror como Aniversário Macabro e Quadrilha de Sádicos e até surpreendeu anos mais tarde com uma inversão de expectativas quanto ao conteúdo de A Maldição dos Mortos-Vivos. Não é a toa que ganhou a alcunha de mestre do terror, porém, nos seus últimos anos de vida, Craven se meteu em verdadeiras roubadas, muitas assinando como produtor para fins de publicidades de obras menores e de cineastas pouco conhecidos. Pena que nem sempre uma grife é garantia de qualidade como prova Habitantes da Escuridão, do diretor Robert Harmon. Bem, este não é um trabalho de um cineasta em início de carreira, pelo contrário, ele logo na estreia em 1986 com A Morte Perde Carona conseguiu gerar um interessante burburinho em torno de seu trabalho, mas sua carreira não vingou como a do colega produtor. A união dos dois poderia resultar em algo bom, mas este suspense está longe de ser memorável, sendo apenas um passatempo para aficionados pelo gênero ou para aqueles ainda não totalmente familiarizados com clichês. 

A premissa é instigante prometendo que o enredo será desenvolvido em cima de uma fobia muito comum: o medo do escuro. O que existe nele de tão ameaçador? Por que alguns adultos não conseguem perder o velho hábito de dormir com uma luminária acesa? Logo na introdução, durante uma noite chuvosa, temos um garotinho com medo de dormir no escuro, sua mãe tenta tranquilizá-lo, mas algo inexplicável acontece em seu quarto assim que a escuridão toma conta. Billy Parks (Jon Abrahams) cresceu atormentado por este e outros episódio semelhantes e apesar de ter pouco tempo de cena é seu drama que serve de fio condutor da narrativa. Julia Lund (Laura Regan) tem sua vida modificada por completo após testemunhar um incidente que culminou no suicídio de Parks, seu grande amigo de infância e com quem compartilhava as angústias acerca de pesadelos e temores a respeito do medo da escuridão. Durante o funeral, ela conhece outros colegas do rapaz e coincidentemente Sam Burnside (Ethan Embry) e Terry Alba (Dagmara Dominczyk) também sofriam com os mesmo problemas quando eram crianças. O falecido costumava manter uma espécie de diário onde descrevia seus temores e deixava explícito que teve contato com criaturas que viviam em uma realidade paralela ao mundo dos humanos, estranhos seres que se escondiam na escuridão e só se revelavam na ausência de luz. 


Após lerem essas anotações, seus amigos passam a ser assolados por uma espécie de maldição, um perigo que só estava adormecido, mas já os marcara literalmente desde a infância. Todos tem algum sinal na pele que denuncia um encontro no passado com os tais seres desconhecidos, mas Julia é a que mais se sente perturbada e com dificuldades para distinguir o que é realidade e o que pode ser imaginação e conta com a ajuda do paramédico Paul Loomis (Marc Blucas), seu namorado, e de seu psiquiatra de infância, Dr. Booth (Jay Brazeau), para superar seus surtos de pânico. Seguindo a cartilha do gênero, é óbvio que os jovens passarão a ser perseguidos pelas tais estranhas criaturas, mas até pelo fato do elenco ser enxuto e com papeis desinteressantes não existe expectativa sobre quem sobreviverá ou como fulano ou beltrano será morto ou capturado e levado para a escuridão. O que seriam esses monstrinhos e por que marcavam suas vítimas quando crianças para só no futuro virem busca-las? Pois é, tais respostas não são dadas no roteiro de Brendan Hood. Na realidade seu nome deveria ser creditado por ceder o argumento, pois a trama em si tem pouco de sua autoria. Cogita-se que cerca de dez pessoas envolvidas na produção se encarregaram de escrever a trama, o que justifica a estranha cadência do enredo que possui um ou outro momento que chama a atenção, mas no geral peca pela vagarosidade e falta de empatia dos personagens com o espectador.

Falta identidade à obra que acabou se tornando uma colcha de clichês, muitos tolos e alguns poucos razoáveis. Está certo que o tema do medo do escuro há tempos já inspirava produções de horror, mas ainda assim poderia despertar interesse, afinal o público está sempre sendo renovado. Embora seja previsível e com interpretações e situações fracas, o final até que é interessante e coerente, mas é difícil entender como Craven aceitou atrelar seu nome a este produto. Um dos grandes problemas de Habitantes da Escuridão, o orçamento curto, ironicamente também é uma solução. Com poucos recursos, Harmon não tinha como idealizar criaturas interessantes e críveis através da computação, porém, também não quis pagar o mico de colocar em cena bonequinhos animados e tampouco atores fantasiados. O jeito era apresentá-las apenas em lances rápidos, assim não havendo a preocupação com detalhes de suas aparências. O resultado é bom, instiga a imaginarmos o quão amedrontadoras elas seriam, mas quem espera ver monstrinhos devorando corpos vai se decepcionar. 


Por outro lado, para criar clima de tensão e ajudar a esconder os estranhos seres, foi preciso investir em ambientações muito escuras, o que ajuda a entediar. Costumamos dizer que os títulos nacionais são péssimos, mas neste caso talvez seja uma das poucas coisas corretas ofertadas por filme que tinha potencial para ser algo ao menos razoável, principalmente se procurasse ser mais original ou não ser tão óbvio ao recorrer aos clichês. Julia, por exemplo, lembra visualmente a personagem de Mia Farrow em O Bebê de Rosemary e a certa altura prende-se a olhar incessantemente para uma imagem congelada de um vídeo caseiro de sua infância, mas só ela parece ver algo estranho na cena. Chuvas, trovoadas, gritos que se confundem com risos e luzes que piscam ou apagam sem mais nem menos completam o pacote. Mesmo com algumas cenas adicionais realizadas por Rick Bota, provavelmente chamado às pressas para tentar arrumar o que já era ruim, o longa entedia, tem muitas falhas e a escuridão realmente é seu destino, o que o passar dos anos comprova.

Suspense - 90 min - 2002 

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