NOTA 6,0 Proposta relativamente simples de discutir o terrorismo através de um drama familiar acaba tornando-se complexa pelos exageros do diretor |
Estranho, tedioso, vazio ou confuso.
Realmente quem assistir uma única vez o filme Adoração não terá muito
subsídios para rotular este drama de forma positiva. O público em geral nem
deve se interessar pela temática, até porque não há atores renomados no elenco.
No entanto os cinéfilos e adeptos de cinema alternativo devem ficar tentados a
realizar um repeteco para avaliar melhor a produção já que o diretor e
roteirista é Atom Egoyan, famoso nos anos 90 por Exótica e O Doce Amanhã. Natural
do Egito, este profissional radicado no Canadá vem construindo uma carreira relativamente
de sucesso e a maioria de suas obras trazem uma espécie de assinatura através
de elementos em comum: a atmosfera introspectiva para contar histórias que
procuram traçar paralelos entre tragédias coletivas e dramas particulares,
tramas que irremediavelmente exigem atenção redobrada do espectador. É uma pena
que até uma segunda avaliação neste caso não deve trazer um saldo muito
positivo. A melhor forma de se julgar um filme é tentando recontar em detalhes
sua trama. Quando não é fácil fazer isso significa que o filme tem problemas ou
não te envolveu satisfatoriamente. As duas opções justificam as dificuldades
para escrever uma crítica a respeito deste trabalho de Egoyam. Ao mesmo tempo
em que tem muito conteúdo a oferecer, faz isso de forma que no fundo parece não
ter nada a dizer, apenas alimentar o ego de deslumbrados cinéfilos que
acreditam que mencionar que viu o filme de um cineasta renomado ou participante
de festivais possa rotulá-los como mentes privilegiadas. A obra em questão não
foge a regra do manual de trabalho de Egoyan e conta uma história sobre intolerância
a cultura muçulmana atrelada a um problema familiar, todavia, o que fica mais
em evidência é discutir os limites entre a realidade e a ficção, principalmente
em tempos de tecnologia comandando os rumos e a velocidade da comunicação. Simon (Devon Bostick) é um jovem estudante
que lê para seus colegas de classe uma redação na qual aborda um assunto
relacionado ao passado de seus pais, algo envolvendo um ato terrorista. A
atividade fazia parte da aula de francês de Sabine (Arsinée Khanjian), uma libanesa
que também é professora de teatro e que contou a tal história primeiro com o
intuito dos alunos a reescreverem com as suas próprias palavras. Há cerca de 18
anos atrás um árabe teria usado a própria esposa grávida em um plano para
explodir um avião que seguia para Israel, porém, o artefato não chegou a
funcionar e o bebê nasceu.
A introdução realmente merece uma reavaliação por aqueles que tiverem disposição de chegar até os créditos finais. É nas últimas cenas que encontramos (algumas) respostas para este quebra-cabeça, ainda que algumas sequências poderiam ter sido excluídas, servem só para confundir. E não é apenas nos dez minutos iniciais que existem excessos, o filme todo poderia ter tido alguns cortes que certamente ajudariam a fluir a narrativa de forma mais agradável. Mesmo tendo um bonito final é difícil dizer que é um bom filme, pois o caminho para chegar até a conclusão é tortuoso. A obra tem pouco mais de uma hora e meia, mas parece que tem o dobro do tempo devido ao seu ritmo lento. Nem mesmo a narrativa entrecortada ajuda a dar alguma agilidade, pelo contrário, só contribui para tornar a produção mais arrastada visto que em vários momentos é possível se sentir “boiando” na história. O pior é notar que Egoyan tentou se comunicar com os tempos atuais, seria o grande trunfo do filme, mas se enrolou feio. Além de mostrar como o terrorismo desperta polêmicas, principalmente por conta dos atos violentos cometidos supostamente em prol de um bem maior, o cineasta quis avaliar como a velocidade na comunicação altera o cotidiano. A história criada por Simon poderia ter ficado restrita a sala de aula, no máximo chegar aos ouvidos de outros frequentadores do colégio, mas a partir do momento que caiu na internet o jovem autor conseguiu entrar em contato com os mais variados pensamentos a respeito do terrorismo. Adolescentes, idosos, pessoas maduras, homens, mulheres, americanos e até árabes, qualquer um que teve acesso a polêmica pode se manifestar no universo virtual que no filme parece muito adiantado. Simon consegue dividir sua tela do computador em vários quadrados, cada qual ocupado por uma pessoa conversando via webcam em tempo real, algo difícil para uma máquina de uso doméstico, ainda mais que o longa é de 2008. Por outro lado, ele pode usar vários equipamentos portáteis para alastrar sua trama ficcional, desde gravadores de voz até as câmeras de celulares, tudo para acrescentar mais veracidade e fomentar mais discussões. É uma pena que essas sequências de apelo tecnológico são enfadonhas e destoam do conjunto que já sofre de uma séria crise de identidade. Em suma, Adoração tem um bom argumento que poderia ser desenvolvido de forma simples e sem subestimar a inteligência do espectador, tampouco as plateias cults que parece ser o foco de Egoyan, todavia, desculpem o trocadilho, as intenções de fazer um filme-cabeça acabaram neste caso resultando em uma obra quase sem pé nem cabeça, mesmo assim vencedora do prêmio do Júri Ecumênico do Festival de Cannes.
Drama - 101 min - 2008
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