Nota 5 Com temática, piadas e personagens clichês, longa é diversão ligeira e descompromissada
Se todas as ideias possíveis para comédias românticas em plano físico já foram usadas e abusadas, o jeito é imaginar uma história de amor envolvendo o além. Bem, a temática não é nada original e já serviu de inspiração para outras produções de humor, mas o então novato diretor e roteirista Jeff Lowell acreditava que poderia tirar leite de pedra e assim surgiu Nem Por Cima do Meu Cadáver, uma grande reunião de clichês, mas até que um entretenimento leve e que deve agradar aos fãs do gênero que adoram um repeteco. A trama começa com os preparativos do casamento do veterinário Henry (Paul Rudd) com a perua escandalosa Kate (Eva Longoria Parker), um casal que obviamente não daria certo e Deus quis dar uma forcinha para evitar mais um divórcio relâmpago para inflar as estatísticas. Enquanto verifica cada detalhe da festa pessoalmente, a noiva surta ao receber a sua tão sonhada estátua de gelo em formato de anjo que adornaria o evento em local de destaque. O problema é que o artista a moldou sem asas para fazer uma obra mais estilizada, porém, Kate queria o modelo tradicional. Após um breve e insano bate boca, a pesada estátua cai sobre a dondoca que é então convidada a comprovar com seus próprios olhos que os anjos não precisam necessariamente ter asas.
Kate demora um pouco a compreender o que lhe aconteceu, mas acaba aceitando sua morte repentina. O tempo passa e era de se esperar que Henry demorasse a se recuperar do baque, mas sua irmã Chloe (Lindsay Sloane) está disposta a acelerar seu retorno a vida normal de um jovem solteiro. Certo dia ela o convence a ir até a casa de Ashley (Lake Bell), uma moça trambiqueira que banca a médium nas horas vagas. A ideia é convencer o frustrado ex-noivo de que Kate, esteja onde estiver, deseja que ele seja feliz e arranje uma nova companheira. Chloe então rouba o diário da falecida e convence a amiga a fingir manter contato sua alma a fim de instigar Henry a dar novos rumos para sua vida. Um encontro por acaso em um supermercado pouco conhecido já deixa Henry com a pulga atrás da orelha tamanha a coincidência, mas quando Ashley começa a detalhar episódios que só ele e a ex-namorada tinham conhecimento seu interesse aumenta. Assim, os dois passam a se encontrar frequentemente e naturalmente passam a namorar, mas o espírito inquieto de Kate está de plantão para atrapalhar o relacionamento.
Dizem que quem mexe com forças ocultas acaba atraindo espíritos e Ashley de tanto brincar de sensitiva passa a receber constantes visitas da fantasminha nada camarada que decide infernizar a rival até que ela resolva se afastar do noivo que ela pretende jamais abandonar. Até que a morte os separe? Não! Kate quer justamente a morte de Henry para que finalmente fiquem juntos. Brincadeirinha, ela não é tão má. Ela quer ver o veterinário bonitão com saúde e feliz, porém, solteiro para sempre. A primeira vista é óbvia a paródia ao clássico Ghost – Do Outro Lado da Vida devido ao argumento do cônjuge desencarnado que frequenta livremente o mundo dos vivos para proteção do companheiro, além é claro do gancho da vidente charlatã que acaba conseguindo contato com um espírito, mas Lowell faz uma colcha de retalhos com piadas já testadas e aprovadas a exaustão, todavia, que funcionam razoavelmente graças ao carisma de Rudd e Bell que formam um casal agradável, ainda que apenas uma condensação de tipos já apresentados em tantas outras produções do gênero.
O triângulo amoroso é fechado por uma espécie de vilã que não se enxerga como tal. Sempre vestida com modelitos elegantes e que acentuam as curvas e formas de seu corpo, ou melhor, no caso seu espectro, Longoria transpira latinidade e seu exagero em alguns momentos parece dotar a obra de certo ar de novela mexicana ou de série americana de TV capenga, mas cumpre seu papel de alma-capeta aparecendo nos lugares mais inusitados para pregar sustos ou às vezes para injetar piadas de flatulências totalmente desnecessárias. Completando o elenco, temos Jason Biggs, o eterno rapaz saliente dos primeiros capítulos da franquia American Pie - A Primeira Vez é Inesquecível, aqui vivendo Dan, o amigo homossexual de Ashley que a ajuda a tocar um serviço fuleiro de buffet a domicilio. Mais contido e sem dar muita pinta, o ator aparece pouco, mas tem sua importância na reta final para confirmar a previsibilidade do filme, ainda que seu personagem evolua de forma coerente em meio ao desespero de Lowell em amarrar as pontas do enredo.
É realmente preciso ter muita coragem para levar adiante os planos de filmagem de uma comédia romântica que desde a premissa exala o cheiro de repeteco, mas é bom lembrar que algumas receitas nunca saem de moda. O problema é carregar demais ou faltar tempero. Neste caso, há excesso e ausência de elementos se alternando, como provam respectivamente cenas como a constrangedora primeira noite de amor dos protagonistas e a visita inicial pouco convincente de Kate à Ashley. Por outro lado, temos sequências simples e eficientes como a confusão no vestiário da academia que faz a médium surgir seminua em meio aos machos bombadões. Não desprezando a aparição de um patético exorcista e nem mesmo o corre-corre no último ato para assim garantir o happy end, Nem Por Cima do Meu Cadáver claramente não queria revolucionar o gênero, apenas servir o trivial, uma reunião de cenas previsíveis que no conjunto funcionam para entreter em momentos de ócio e até funciona como um programa para curtir em família, basta deixar o espírito crítico de lado.
Comédia - 95 min - 2008
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