Nota 7 Presidiários buscam a redenção através da jardinagem, mas é difícil vencer o preconceito
O sistema carcerário é um assunto bastante polêmico. Muitos acreditam que são remotas as chances de alguém sair regenerado de um lugar onde ódio, mágoas e violência acabam fazendo parte do dia-a-dia dos prisioneiros, mas não custa sonhar que coisas boas podem acontecer. As Rosas São Vermelhas, As Violetas São Azuis surpreende logo pela premissa. Pelo título literalmente florido seria difícil acreditar que o longa dirigido e roteirizado por Joel Hershman fosse protagonizado por um presidiário, mas não é que essa plantação dá bons frutos? Na Inglaterra, Colin Briggs (Clive Owen) é um prisioneiro que está enclausurado desde muito jovem, mas após muitos anos ele pode curtir a liberdade condicional, porém, pelo seu bom comportamento ele é escolhido para participar de um programa experimental para cumprir o restante de sua pena.
A prisão de Egdfield só possui o sistema de vigilância comum para evitar algum tipo de incidente, mas é desprovida de grandes artefatos de segurança, nem mesmo grades existem. Ao mesmo tempo em que os presos são submetidos a uma prova de resistência diante de todas as facilidades para uma fuga, eles também participam de algumas atividades que os ajudam a se reabilitar para serem integrados novamente à sociedade. Briggs passa a dividir o quarto com o simpático idoso Fergus Wilks (David Kelly) e apesar do estranhamento inicial eles se tornam amigos. É graças a este senhor, que devido a idade avançada não tem mais esperanças de viver em liberdade, que o rapaz descobre um talento que jamais imaginou ter: o dom para a jardinagem. Aos poucos outros detentos se interessam pela atividade que passa a ser integrada no currículo da instituição e logo a prisão está repleta de campos floridos.
Não demora muito para que o tal jardim se tornasse famoso e chamasse a atenção da imprensa, assim a notícia chega aos ouvidos de Georgina Woodhouse (Helen Mirren), uma renomada paisagista que se interessa pela proposta inusitada da reabilitação de criminosos através do cultivo de plantas. Com o apoio desta mulher, acreditando estar em meio a homens que cometeram pequenos delitos, Briggs e seus companheiros tem a chance de participar de uma importante exposição de jardinagem que acontece anualmente no palácio de Hampton Court. Pode parecer um filminho moldado para agradar o público feminino, repleto de clichês, mas por incrível que pareça tal história colorida é baseada em fatos reais. A trama como um todo é deliciosa de acompanhar e mantém a tradição do humor britânico. Irônico e doce em medidas proporcionais, de quebra ele ainda traz uma pitadinha de crítica social. Os presidiários são propositalmente estereotipados. Tem o fortão metido a valente, o negro que por conta do racismo foi acusado injustamente, o jovem inconsequente...
Será que a Sra. Woodhouse aceitaria ajudar estes homens se soubesse os reais motivos que os levaram a serem presos? Provavelmente não para evitar manchar sua reputação, como fica claro através de sua reação quando descobre o porquê de Briggs estar na prisão e não fazer questão alguma de sair de lá por conta do sentimento de culpa que carrega, preocupação potencializada pelo fato de sua filha Primavera (Natasha Little) estar se engraçando com o rapaz. Como é de praxe em histórias que contam com diversos personagens, vários ganchos narrativos são dispostos para dar sustento ao longa. Por exemplo, por trás de todo bom humor de Wilks ele esconde o quanto pode que sofre de câncer e vira e mexe está fazendo uma visita a enfermaria do presídio. O jovem Tony (Danny Dyer) acaba se apaixonando por Holly (Lucy Punch), uma funcionário do local, e a engravida. Os mais novos jardineiros do pedaço ganham o direito de trabalhar fora da instituição, mas uma das propriedades que eles atenderam acabou sendo assaltada e o bandido capturado afirma que recebeu ajuda de um dos homens do grupo.
As Rosas São Vermelhas, As Violetas São Azuis é um daqueles filmes água-com-açúcar que acabam surpreendendo por sua razoável originalidade, humor leve, belas imagens e todo charme que só o humor refinado britânico consegue oferecer. Ainda que algumas situações poderiam ser melhores exploradas, o colorido e a simpatia da produção são tão contagiantes que ficar caçando problemas é perda de tempo. Aprecie sem esquentar a cabeça e deixe um sorriso florescer no seu rosto.É uma pena que Owen sendo o protagonista da produção esteja tão apagadinho, talvez por na época ainda não ser famoso e seu nome não atrair atenções.
Comédia - 91 min - 2000
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