NOTA 8,5 Apesar das situações clichês, longa é superior a média do gênero e ousa apresentando cenas fortes envolvendo menores |
Preste atenção neste breve resumo: garota órfã é adotada por
um casal e sua aparente doçura aos poucos cede espaço para o comportamento de
uma assassina impiedosa e estrategista. Muita gente ao receber estas poucas
informações sobre o longa de horror A Órfã deve torcer o nariz e o desprezar,
seja por achar um enredo que beira o ridículo ou por ser contra a participação
de crianças em produções que podem causar danos psicológicos a elas. Bem,
realmente este segundo motivo é relevante e esvazia a primeira alternativa. O
longa contém cenas fortes de violência, mutilação, incesto e tortura
psicológica, algo que deve deixar de cabelos em pés quem defenda a moral, os
bons costumes e a preservação da família. É difícil não imaginar como reagiu a
mente dos atores mirins e quais os motivos que convenceram seus pais a
permitirem suas participações em algo tão pesado. Não que essa fosse a primeira
que a vez que menores de idade atuam em fitas de terror ou suspense, mas aqui
eles não estão presentes simplesmente para gritarem ou fazerem caras de sustos
de algo que supostamente estão vendo ou que foi filmada a parte sem a presença
deles, pelo contrário, eles participam ativamente das sequências fortes e a tal
garota má em certo momento até se insinua para o pai adotivo. Na época de seu
lançamento nos EUA, a produção também provocou a ira de alguns orfanatos que
não gostaram da maneira como tais instituições foram retratadas e temiam que o
número de adoções caísse drasticamente. Juntas planejaram boicotes ao filme,
mas a reação obtida foi contrária a esperada. O público acabou sendo atraído
para os cinemas e a fama desta obra correu mundo afora. O diretor Jaume
Collet-Serra é mais um que emigrou da Espanha para os EUA e após estrear
com A Casa de Cera conseguiu manter o nível de tensão em alta em sua
segunda empreitada em solo ianque. Ela já havia mostrado que é bom em criar
atmosferas interessantes e arrepiantes, mas aqui ele recorre a clássica
paisagem fria e triste do inverno rigoroso, com direito a muita neve. Se no quesito
ambientação o cineasta oferece o básico, na condução da trama ele prende a
atenção do espectador com situações bem amarradas, diálogos afiados e venenosos
e com um ritmo que alterna muito bem sequências ágeis com outras mais lentas, assim
dando tempo do espectador respirar entre uma e outra maldade da garota. Se em
seu trabalho anterior ele focava a narrativa em cima de um grupo de jovens,
aqui ele transfere as atenções para uma família que consegue cativar o
espectador rapidamente.
A história gira em torno do casal Kate (Vera Farmiga) e John
Coleman (Peter Sarsgaard) que está arrasado devido a um aborto. Apesar de já
terem dois filhos, Daniel (Jimmy Bennett) e a surda e muda Maxime (Aryana
Engineer), eles decidem adotar mais uma criança. Durante uma visita a um
orfanato, os dois se encantam pela pequena Esther (Isabelle Fuhrman), de nove
anos, e optam rapidamente por sua adoção. Ou será que a própria garota os tenha
escolhido? Ela inicialmente parecia uma criança que qualquer pai gostaria de
ter, muito obediente e educada. O que eles não sabiam é que estranhos
acontecimentos fazem parte do histórico da menina, incluindo a misteriosa morte
de sua família adotiva anterior em um incêndio. Dia após dia Esther vai mudando
seu comportamento e coisas estranhas passam a acontecer com pessoas próximas
aos seus novos parentes. Intrigada, Kate desconfia que Esther não é quem
aparenta ser e o relacionamento entre as duas começa a estremecer. Ela fica
mais atenta a cada passo da garota, mas devido ao seu passado com problemas de
alcoolismo ela tem dificuldades de provar sua teoria de que a menina não é tão
inocente quanto parece, o que gera vários conflitos em família, pois seu marido
já criou vínculos com a nova filha. As coisas pioram quando a garotinha deixa
claro que quer ver a mãe fora de seu caminho e passa a manipular a irmã mais
nova e jogar os pais contra o irmão. Embora a cena inicial seja um tanto clichê
mostrando Kate chegando as pressas no hospital para dar a luz sob intensa
hemorragia e logo em seguida acordando deste pesadelo, Collet-Serra acerta em
cheio ao deixar a obsessão por sangue de lado e optar pelo desenvolvimento das
relações entre os membros da família Coleman antes de começar a trilhar os
caminhos do suspense propriamente dito. A primeira meia hora é dedicada a
explorar os conflitos existentes nesse núcleo e mesmo sem se aprofundar nos
assuntos consegue fisgar a atenção do espectador que a partir de então irá
sentir mais profundamente os efeitos que a mudança de comportamento radical de
Esther irá provocar em seus novos parentes. Aliás, sua pequena intérprete é o
grande destaque da produção. Muito versátil, ela convence fácil qualquer um
quando está na fase boazinha da personagem e convence ainda mais mostrando seu
lado perverso, chegando ao ápice quando estreita sua relação com o pai adotivo,
momento em que surge a grande revelação da história que infelizmente culmina em
um final que não faz jus as demais duas horas do filme, embora não seja tão
frustrante.
Dizer que este trabalho é a mais nova obra-prima do suspense
é um pouco demais, até porque a maioria dos sustos são previsíveis e há muitos
clichês, mas é inegável que a produção se destaca em meio a tantas outras que
são lançadas reciclando velhas fórmulas. O argumento é um tanto interessante e
dificilmente o espectador vai querer desgrudar os olhos do filme. O roteiro de
David Leslie Johnson não trabalha a favor da violência explícita, sendo que o
foco é criar um clima de tensão constante com momentos estratégicos de
relaxamento. A cada nova cena de impacto aumenta ainda mais a vontade de saber
até onde vai aquela relação doentia da garota com a família. Como tudo na vida
e no cinema, este trabalho não agrada a todo mundo. Como já dito, há quem o
condene por expor menores de idade em situações impróprias e também existem aqueles
mais exaltados que apontam a obra como uma propaganda contra a adoção. A intenção
obviamente não era mesmo fazer uma campanha a favor, mas também passa longe de
ser uma ofensa a iniciativa, remotamente podendo influenciar negativamente
apenas mentes fracas e sugestionáveis. Polêmicas à parte, a palavra que melhor
define este thriller psicológico é surpreendente. Sim, o que poderia ser um
roteiro absurdo e beirando o trash foi tão bem desenvolvido que transformou
esta obra de terror em uma das mais bem sucedidas do gênero em termos de repercussão
popular dos últimos anos. Já entre os
críticos, um bom número deles afirma que o filme quase chegou lá em seus
objetivos, mas não assumem que devem ter ficado com os olhos grudados
acompanhando a macabra trama. Sabe como é, pode pegar mal. A Órfã, mesmo
com suas limitações, é sim um dos melhores títulos de terror dos últimos
tempos e disfarça seus tão comentados clichês muito bem com roteiro acima da
média e uma atmosfera amedrontadora, além do fato de ser louvável que consiga
prender a atenção mesmo com sua longa duração. Guardada as devidas proporções,
nem parece que foi feito em Hollywood. Vale a pena uma conferida.
Terror - 123 min - 2009
Sinceramente é um dos melhores filmes do gênero dessa década que acabou de acabar...
ResponderExcluirBelas atuações, principalmete de Vera Farmiga e Isabelle Fuhrman, ótimo roteiro, mesmo que - como você mesmo disse - à primeira vista não tão interessante, mas muito bem desenvolvido...
Sem contar o grande finale, muito surpreendente e totalmente diferente do que qualquer pessoa poderia imaginar...
É um ótimo filme!!!
Tem um dos grandes finais dos últimos 10 anos. Isabelle Fuhrman é uma revelação.
ResponderExcluirhttp://cinelupinha.blogspot.com/
Este é um ótimo filme, não pensei que iria gostar tanto do filme quando comecei a assisti mas logo mudei de opinião.
ResponderExcluir__________
http://algunsfilmes.blogspot.com/