Nota 3,0 Razoável trama prende a atenção, mas é impossível não se incomodar com as falhas
Nas aulas de História oferecidas
nas escolas não há tempo hábil para conhecermos profundamente os pormenores de
fatos marcantes do passado que podem justificar situações atuais. Por outro
lado, o cinema é uma excelente ferramenta para abrir nossas mentes e nos
oferece um farto cardápio de opções de filmes que lidam com fatos reais e
históricos, mas é óbvio que nem tudo é de boa digestão. Por exemplo, a famosa
Guerra do Vietnã já rendeu excelentes e marcantes produções, como Platoon, no caso uma superprodução
comandada por Oliver Stone, cineasta com coragem, estilo e talento para tanto. Mas
por que será que cineastas desconhecidos resolvem se meter com temas do tipo
sabendo que contam com um orçamento limitado e que o roteiro oferecido
claramente possui falhas? Espaço livre na agenda ou falta de propostas de
trabalho, só podem ser essas as respostas para alguém embarcar em projetos que
desde sua concepção já demonstram baixo poder de fogo. É impressionante como
alguns filmes parecem carregar como cartão de visitas um sinal de perigo,
apesar de alguma coisa lhe dizer que você deve dar um voto de confiança. Quem
nunca se deparou com uma produção que pelo título, material publicitário ou
sinopse não dava absolutamente nada e acabou gostando do resultado final? É uma
pena que existam obras como O Veterano para nos lembrar que as
decepções nestes casos são quase onipresentes. Dirigido por Sidney J. Furie,
que antes havia obtido mais sucesso com a temática guerra em American Soldiers – A Vida em um Dia, o
longa já começa de forma bastante comum apresentando em forma de texto escrito
um brevíssimo resumo sobre os tempos do conflito no Vietnã, mais precisamente
falando sobre a situação dos norte-americanos que foram enviados para lá.
Impressionantemente, mesmo após três décadas do ápice do conflito, muitos
prisioneiros de guerra continuavam desaparecidos, tanto que em Washington foi
fundado o Comitê de Ação dos Veteranos do Vietnã para relembrar suas histórias
e dar continuidade as buscas de ex-combatentes, vivos ou mortos, qualquer
notícia é importante. É nessa associação que trabalha Sara Reid (Ally Sheedy),
uma civil contratada para procurar soldados desaparecidos ou dados como mortos
sem os corpos terem sido encontrados.
Sara recebe informações de que
voltará ao Vietnã o ex-sargento Ray Watson (Bobby Hosea) para resolver algumas
pendências dos tempos de combate com um anônimo que lhe enviou uma carta
marcando um encontro. Este homem ao longo dos anos investiu na carreira
política e está prestes a ocupar uma vaga no Congresso da Califórnia, mas seu
futuro está ameaçado. Ao encontrar um desconhecido armado e perturbado em seu
quarto de hotel, Ray não se recorda imediatamente que ele é Doc (Michael
Ironside), um soldado do pelotão que ele comandou há cerca de trinta anos e
considerado morto há muito tempo. Enquanto ambos colocam o passado em pratos
limpos, no quarto ao lado está na escuta Sara e mais algumas pessoas na
esperança de obterem informações sobre outros sobreviventes. Bem a premissa é
bastante interessante e o roteiro de J. Stephen Maunder consegue prender a
atenção quase todo o tempo investindo em uma narrativa razoavelmente intrigante
e com vários flashbacks retratando os tempos da Guerra do Vietnã. Contudo,
quando faltam cerca de quinze minutos para o término as coisas desmoronam com
uma rapidez estonteante. Todas as expectativas que alimentamos até então sobre
o passado dos ex-militares e quais seriam as reais intenções de Sara em ouvir a
conversa deles são implodidas em questão de minutos. O sentimento ruim que Doc
alimentou por anos não se deve apenas ao fato do batalhão de Ray declará-lo
como morto, o que o impediu de levar uma vida normal durante anos, mas o
argumento utilizado para justificar sua mágoa é extremamente frágil. Embora uma
figura perturbada, o ex-soldado é o personagem mais definido da trama e quem
ajuda a segurar o espectador durante a arrastada narrativa, ainda que ela seja
relativamente curta. Sara em determinado momento diz que seu interesse no
assunto vai além do profissional já que seu próprio pai é um desaparecido de
guerra, mas tal gancho não é desenvolvido. E quem seria Ray? Ficamos sabendo
que no passado ele já foi preso e teve problemas ligados ao álcool, mas
tornou-se uma pessoa respeitável no meio político. Segundo Doc, o sargento era
um homem bom no início do conflito, mas aos poucos mudou seu comportamento,
tanto que teve um rápido relacionamento com uma vietnamita e a abandonou
grávida, mais um bom gancho narrativo que foi jogado fora no final das contas.
É muito chato acompanhar um filme mesmo que minimamente interessante e nos
depararmos com um final frustrante e abrupto. Ao subirem os créditos finais, o
que resta de lembrança positiva de
O Veterano são seus primeiros
minutos em tom documental. Faltaram ritmo e roteiro mais apurado, sendo esta
apenas mais uma obra para suprir as necessidades dos aficionados pela temática quando
já esgotaram as demais possibilidades cinematográficas sobre a mesma.
Drama - 89 min - 2006
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