Nota 7,5 Comédia romântica baseada em longa francês é uma excelente pedida desconhecida
Apesar de muitos decretarem a morte do mercado de vídeo doméstico
há anos, as vezes acontecem coisas que nos fazem crer que ele ainda tem muito a
nos oferecer apesar das dificuldades. Entre 2006 e 2008, diversas
distribuidoras novas surgiram, claro que oferecendo produções mais modestas,
desconhecidas e sobrevivendo apenas com a venda de produtos lançados
diretamente em DVD sem passagem pelos cinemas. Algumas delas seguiram adiante com
o mesmo modelo de negócio e outras infelizmente não ficaram nem um ano em
atividade. Apesar de muitos títulos de gosto duvidosos que as empresas
precocemente falidas trouxeram para o Brasil, há também algumas pequenas
surpresas que passaram despercebidas e que merecem serem descobertas. Este é o
caso de Eu, Meu Amigo e o Armário!, escrita e dirigida por Dave Diamond
que se inspirou em O Closet, produção francesa que fez muito sucesso nos
circuitos alternativos de cinema. Tão eficiente quanto uma comédia romântica
protagonizada por Julia Roberts ou Jennifer Lopez, o título em questão é uma
divertida opção que, como o próprio título denuncia, trata sobre o
homossexualismo, mas de uma forma leve e respeitável. O enredo nos apresenta a
Dave (Jay Harrington), um advogado na casa dos trinta anos que divide um
apartamento com o amigo Christopher (Michael Ian Black), um gay assumido.
Devido ao fato de morarem juntos, surgem rumores de que eles formam um casal de
verdade. Inicialmente, o rapaz, hétero convicto, tenta desfazer o mal
entendido, mas logo muda de opinião visando lucrar com os boatos. Sua empresa
está trabalhando em um caso de discriminação no ambiente de trabalho por causa
de orientação sexual e uma pessoa considerada muito sensível seria perfeita
para ajudar a ganhar a causa. Quem conseguisse esse feito iria firmar sociedade
com Matthew (Sal Rubinek), o chefe do escritório. Já que está com a fama, por
que não aproveitá-la? Fingindo realmente ter um caso com Christopher e
conquistando a confiança do chefão, tudo parecia caminhar bem para o rapaz,
isso se não fosse pela impertinência de Katherine (Julie Bowen), uma mulher sem
escrúpulos que também está de olho na possibilidade de ser sócia do escritório
e fará de tudo para impedir que seu rival leve sua mentira adiante. As coisas
complicam quando a filha de Matthew, Lucy (Brooke Langton), balança o coração do
advogado. Mesmo com um histórico de conquistador de belas mulheres, ele precisa
levar adiante a farsa de que antes vivia confuso quanto aos seus sentimentos e
que agora realmente é feliz assumindo sua homossexualidade. Pode se dar bem
profissionalmente, mas assim ele estaria abrindo mão daquela que poderia
realmente ser a mulher de sua vida.
Esta é mais uma daquelas agradáveis surpresas que somente
temos acesso se caso a curiosidade falar mais alto ou através de indicações.
Muita coisa lançada diretamente para locação ou venda direta ao consumidor
revela-se bem melhor que badaladas produções do cinema, mas o preconceito que
ainda impera acerca de filmes desconhecidos e cujo elenco também não seja
famoso nos impede de curtir muita coisa que vale a pena. Seguindo uma linha
narrativa parecida com a de Imagine Eu e Você, que aborda o lesbianismo,
este filme também adota um tom romântico, mas investe mais no humor, porém,
muito sutil, inteligente e sem piadas escatológicas ou apelativas. Todo o
elenco tem o seu momento de brincar de fazer rir, mas quem tem as melhores
tiradas são Tom (Josh Cooke) e John (Jay Paulson), dois funcionários também da
empresa de advocacia. Vira e mexe eles entram em cena comentando as atitudes do
colega Dave, mas não de forma pejorativa, pelo contrário, eles tentam
compreender o universo gay e acabam caindo em contradição passando a duvidar da
própria sexualidade. A mentira está sendo desenvolvida com tanto perfeccionismo
que até mesmo o protagonista também passa a questionar se não seria mesmo
homossexual devido as suas condições e hábitos de vida, desconstruindo um pouco
o estereótipo negativo que muitos têm destas pessoas e até mesmo dos homens que
são mais vaidosos ou estão solteiros mesmo passando da casa dos trinta anos. Apresentando
uma visão muito mais verossímil e aceitável da vida dos gays, mas com um humor
que certamente conquista qualquer espectador adepto do gênero independente da
orientação sexual, o longa prova que não é preciso ter um elenco repleto de
astros para realizar um bom trabalho, mas sim pessoas talentosas e um roteiro
caprichado. Eu, Meu Amigo e o Armário! é uma produção que certamente não é
revolucionária tampouco excepcional, mas é uma pequena e desconhecida jóia em
meio a tantas comédias de mau gosto lançadas todos os anos e que usam e abusam
da discriminação para gerar risadas fáceis de plateias desatentas ou
declaradamente descerebradas. Infelizmente, a distribuidora do longa no Brasil
parece que fechou as portas após um curto período de vida, mas ele ainda deve
ser encontrado em boas lojas ou locadoras que dão o devido valor a um bom
filme. Achá-lo é um trabalho de garimpo, mas vale muito a pena. Quem sabe
alguma outra empresa se interesse em breve trazer de volta ao mercado esta
pérola, no bom sentido.
Comédia - 91 min - 2005
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