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sexta-feira, 11 de setembro de 2015

TÃO FORTE E TÃO PERTO

NOTA 7,5

Abordagem diferenciada
sobre fatídico episódio e suas
consequências trazem certo
frescor e leveza à drama
As tristes e chocantes lembranças do fatídico dia 11 de setembro de 2001 envolvendo o ataque às Torres Gêmeas nos EUA ainda estão presentes na memória de todos aqueles que acompanharam as notícias inacreditáveis que iam sendo informadas minuto a minuto pela imprensa mundial e continuam sendo perpetuadas já que servem como uma grande fonte de inspiração para os diretores de cinema. Entre documentários, grandes produções e outras de proporções modestas, são vários os exemplos de filmes que retrataram de forma realista, amena ou com forte apelo dramático este episódio marcante da História moderna. Dez anos após a tragédia, foi a vez do cineasta Stephen Daldry, especialista em dramas e três vezes indicado ao Oscar, abordar o tema em Tão Forte e Tão Perto. Sem dúvidas esta obra está longe de ser um dos seus melhores trabalhos, mas está acima da média de outros produtos que trataram desta temática, tanto que surpreendentemente foi indicada pela Academia de Cinema ao prêmio de Melhor Filme, embora tal feito em nada ajudou em sua repercussão e bilheteria. Todavia, é uma obra a ser descoberta pelo grande público. A trama gira em torno de Oskar Schell (Thomas Horn), um garoto que tem um ótimo relacionamento com o pai, Thomas (Tom Hanks), este que sempre estimulou o lado aventureiro e lúdico do filho. Infelizmente, ele perde esta figura paterna no citado atentado terrorista e tal fato foi um grande baque em sua vida e também na da sua mãe, Linda (Sandra Bullock), de quem ele procura esconder a última mensagem que o pai deixou na secretária eletrônica a qual até ele mesmo recusa-se a ouvir.  Algum tempo depois, Oskar encontra em meio aos pertences do pai uma chave dentro de um envelope. O menino então desconfia que este é mais um dos costumeiros enigmas que seu pai lhe propunha e parte para uma expedição pela cidade de Nova York em busca de pessoas cujo sobrenome seja Black, a única palavra escrita no tal envelope que encontrou. Assim, ele passa a entrar em contato com os mais diversos tipos de pessoas e situações, certamente amizades e aprendizados que mais cedo ou mais tarde farão diferença na vida do garoto.

Baseado no livro “Extremamente Alto e Incrivelmente Perto”, de Jonathan Safran Foer, o roteiro foi escrito por Eric Roth, autor dos elogiados Forrest Gump – O Contador de Histórias O Curioso Caso de Benjamin Button. Ao contrário da maioria dos filmes sobre o 11 de setembro, aqui o enfoque é causar emoção pela jornada do garoto na tentativa de receber uma última mensagem deixada pelo pai e não necessariamente nas dores causadas pelo triste episódio, mas ainda assim o desespero das pessoas sem entender o que estava acontecendo naquela ensolarada manhã se faz presente. Logo o céu escurece devido ao excesso de fumaça dos incêndios e todos os sobreviventes precisam aprender a lidar com as lembranças da tragédia. Os eventos que ocorreram na citada data e suas consequências são apresentados ao espectador de forma fragmentada, alternando momentos em flashback esmiuçando o relacionamento harmonioso entre Oskar e Thomas e inserido sequências revelando os passos da jornada do garoto pela cidade grande. A premissa do longa é ótima, principalmente por destronar os atentados do posto de maiores tragédias. Esquecemos que mais de vinte mil pessoas foram vitimadas direta ou indiretamente e focamos a atenção nos problemas pessoais dos personagens que poderiam ser tão grandes quanto um prédio em chamas, basta colocar-se em seus lugares. Porém, o resultado final divide opiniões, tornando-se uma obra do tipo ame-a ou odeie-a. Daldry não esconde que seu objetivo é levar o espectador às lágrimas e não poupa esforços para tanto, deixando a emoção latente a todo instante. Além disso, ele se cercou com o máximo possível de recursos para que seu trabalho fosse perfeito do início ao fim. Atores bem dirigidos, bons diálogos, fotografia esplêndida, edição esperta para ajudar a dar ritmo à narrativa, trilha sonora meticulosamente estudada, enfim tudo do bom e do melhor seguindo a fórmula de sucesso que lhe rendeu elogios em seus trabalhos anteriores (Billy Elliot, As Horas O Leitor) Porém, desta vez ele pecou por alguns excessos, como as excessivas e redundantes narrativas em off que nada mais eram que traduções verbais das cenas, o que para alguns pode ser interpretado como uma falta de respeito à inteligência do público.

Por outro lado, essas ideias esmiuçadas podem ter sido utilizadas propositalmente para reforçar o aspecto psicológico de Oskar, outro ponto que desperta discussões. Um personagem realista ou chato e estereotipado? Um ator-mirim talentoso ou mal escalado? O garoto tem a Síndrome de Asperger, uma espécie de autismo em que o indivíduo ao mesmo tempo em que resiste à interação social, também demonstra disposição para falar ininterruptamente, ora parece problemático, ora extremamente inteligente. Essa ambiguidade do personagem não é algo fácil de lidar e engloba muitos aspectos psicológicos e emocionais a serem incorporados a uma só pessoa, tornando-se um desafio para qualquer ator, imagine então para uma criança. O texto e a direção nesse sentido infelizmente falharam e ajudaram a construir as críticas negativas que o novato Thomas Horn recebeu resumindo seu protagonista a um garoto nada carismático. Se o protagonista não é dos melhores, ao menos os coadjuvantes são bem competentes e ajudam a disfarçar a falta de experiência do menino. Tom Hanks e Sandra Bullock, embora longe de seus melhores momentos, defendem bem seus personagens, mas os elogios ficam mesmo para Max Von Sydow e Viola Davis. O veterano ator sem dizer uma só palavra rouba a cena vivendo o misterioso inquilino da avó de Oskar, papel que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de ator coadjuvante. Já a atriz, em alta em Hollywood na época, é a primeira e também a penúltima Black que o menino vai encontrar, tornando-se peça fundamental na conclusão de sua peregrinação. No final das contasTão Forte e Tão Perto cumpre seu papel de emocionar e pode vir a ocupar uma vaga em listas de filmes recomendados por populares. Pelas indicações ao Oscar, ainda que apenas duas, poderá ter certa visibilidade por muitos anos, mas de qualquer forma é um projeto que se esperava mais pelo potencial do enredo. Em qualquer parte do mundo é possível encontrar histórias interessantes a respeito do 11 de setembro de 2001, ironicamente até mesmo sobre nascimento, afinal de contas o tempo aparentemente apenas parou naquele dia, mas a Terra continuou a girar e os ponteiros do relógio a caminhar. Uma pena que ao subirem os créditos finais temos a sensação de que vimos mais do mesmo. Apenas um pequeno fragmento de um dia histórico tão importante e avassalador quanto a Segunda Guerra Mundial que durou anos. Imagine quantas histórias há no mundo a respeito desse dia marcante do século 21 esperando ainda para serem contadas.

Drama - 129 min - 2011 

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