NOTA 7,5 Abordagem diferenciada sobre fatídico episódio e suas consequências trazem certo frescor e leveza à drama |
As tristes e chocantes lembranças do fatídico dia
11 de setembro de 2001 envolvendo o ataque às Torres Gêmeas nos EUA ainda estão
presentes na memória de todos aqueles que acompanharam as notícias
inacreditáveis que iam sendo informadas minuto a minuto pela imprensa mundial e
continuam sendo perpetuadas já que servem como uma grande fonte de inspiração
para os diretores de cinema. Entre documentários, grandes produções e outras de
proporções modestas, são vários os exemplos de filmes que retrataram de forma
realista, amena ou com forte apelo dramático este episódio marcante da História
moderna. Dez anos após a tragédia, foi a vez do cineasta Stephen Daldry,
especialista em dramas e três vezes indicado ao Oscar, abordar o tema em Tão
Forte e Tão Perto. Sem dúvidas esta obra está longe de ser um dos seus
melhores trabalhos, mas está acima da média de outros produtos que trataram
desta temática, tanto que surpreendentemente foi indicada pela Academia de
Cinema ao prêmio de Melhor Filme, embora tal feito em nada ajudou em sua
repercussão e bilheteria. Todavia, é uma obra a ser descoberta pelo grande
público. A trama gira em torno de Oskar Schell (Thomas Horn), um garoto que tem
um ótimo relacionamento com o pai, Thomas (Tom Hanks), este que sempre
estimulou o lado aventureiro e lúdico do filho. Infelizmente, ele perde esta
figura paterna no citado atentado terrorista e tal fato foi um grande baque em
sua vida e também na da sua mãe, Linda (Sandra Bullock), de quem ele procura
esconder a última mensagem que o pai deixou na secretária eletrônica a qual até
ele mesmo recusa-se a ouvir. Algum tempo depois, Oskar encontra em
meio aos pertences do pai uma chave dentro de um envelope. O menino então
desconfia que este é mais um dos costumeiros enigmas que seu pai lhe propunha e
parte para uma expedição pela cidade de Nova York em busca de pessoas cujo
sobrenome seja Black, a única palavra escrita no tal envelope que encontrou.
Assim, ele passa a entrar em contato com os mais diversos tipos de pessoas e
situações, certamente amizades e aprendizados que mais cedo ou mais tarde farão
diferença na vida do garoto.
Baseado no livro
“Extremamente Alto e Incrivelmente Perto”, de Jonathan Safran Foer, o roteiro
foi escrito por Eric Roth, autor dos elogiados Forrest Gump – O
Contador de Histórias e O Curioso Caso de Benjamin Button. Ao
contrário da maioria dos filmes sobre o 11 de setembro, aqui o enfoque é causar
emoção pela jornada do garoto na tentativa de receber uma última mensagem
deixada pelo pai e não necessariamente nas dores causadas pelo triste episódio,
mas ainda assim o desespero das pessoas sem entender o que estava acontecendo
naquela ensolarada manhã se faz presente. Logo o céu escurece devido ao excesso
de fumaça dos incêndios e todos os sobreviventes precisam aprender a lidar com
as lembranças da tragédia. Os eventos que ocorreram na citada data e suas
consequências são apresentados ao espectador de forma fragmentada, alternando
momentos em flashback esmiuçando o relacionamento harmonioso entre Oskar e
Thomas e inserido sequências revelando os passos da jornada do garoto pela
cidade grande. A premissa do longa é ótima, principalmente por destronar os
atentados do posto de maiores tragédias. Esquecemos que mais de vinte mil
pessoas foram vitimadas direta ou indiretamente e focamos a atenção nos
problemas pessoais dos personagens que poderiam ser tão grandes quanto um
prédio em chamas, basta colocar-se em seus lugares. Porém, o resultado final
divide opiniões, tornando-se uma obra do tipo ame-a ou odeie-a. Daldry não
esconde que seu objetivo é levar o espectador às lágrimas e não poupa esforços
para tanto, deixando a emoção latente a todo instante. Além disso, ele se
cercou com o máximo possível de recursos para que seu trabalho fosse perfeito
do início ao fim. Atores bem dirigidos, bons diálogos, fotografia esplêndida,
edição esperta para ajudar a dar ritmo à narrativa, trilha sonora
meticulosamente estudada, enfim tudo do bom e do melhor seguindo a fórmula de
sucesso que lhe rendeu elogios em seus trabalhos anteriores (Billy
Elliot, As Horas e O Leitor). Porém, desta vez ele pecou por alguns
excessos, como as excessivas e redundantes narrativas em off que nada mais eram
que traduções verbais das cenas, o que para alguns pode ser interpretado como
uma falta de respeito à inteligência do público.
Por outro lado, essas ideias esmiuçadas podem ter
sido utilizadas propositalmente para reforçar o aspecto psicológico de Oskar,
outro ponto que desperta discussões. Um personagem realista ou chato e
estereotipado? Um ator-mirim talentoso ou mal escalado? O garoto tem a Síndrome
de Asperger, uma espécie de autismo em que o indivíduo ao mesmo tempo em que
resiste à interação social, também demonstra disposição para falar
ininterruptamente, ora parece problemático, ora extremamente inteligente. Essa ambiguidade
do personagem não é algo fácil de lidar e engloba muitos aspectos psicológicos
e emocionais a serem incorporados a uma só pessoa, tornando-se um desafio para
qualquer ator, imagine então para uma criança. O texto e a direção nesse
sentido infelizmente falharam e ajudaram a construir as críticas negativas que
o novato Thomas Horn recebeu resumindo seu protagonista a um garoto nada
carismático. Se o protagonista não é dos melhores, ao menos os coadjuvantes são
bem competentes e ajudam a disfarçar a falta de experiência do menino. Tom
Hanks e Sandra Bullock, embora longe de seus melhores momentos, defendem bem seus
personagens, mas os elogios ficam mesmo para Max Von Sydow e Viola Davis. O
veterano ator sem dizer uma só palavra rouba a cena vivendo o misterioso
inquilino da avó de Oskar, papel que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de ator
coadjuvante. Já a atriz, em alta em Hollywood na época, é a primeira e também a
penúltima Black que o menino vai encontrar, tornando-se peça fundamental na
conclusão de sua peregrinação. No final das contas, Tão Forte e Tão
Perto cumpre seu papel de emocionar e pode vir a ocupar uma vaga
em listas de filmes recomendados por populares. Pelas indicações ao Oscar,
ainda que apenas duas, poderá ter certa visibilidade por muitos anos, mas de
qualquer forma é um projeto que se esperava mais pelo potencial do enredo. Em
qualquer parte do mundo é possível encontrar histórias interessantes a respeito
do 11 de setembro de 2001, ironicamente até mesmo sobre nascimento, afinal de
contas o tempo aparentemente apenas parou naquele dia, mas a Terra continuou a
girar e os ponteiros do relógio a caminhar. Uma pena que ao subirem os créditos
finais temos a sensação de que vimos mais do mesmo. Apenas um pequeno fragmento
de um dia histórico tão importante e avassalador quanto a Segunda Guerra
Mundial que durou anos. Imagine quantas histórias há no mundo a respeito desse
dia marcante do século 21 esperando ainda para serem contadas.
Drama - 129 min - 2011
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