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sábado, 2 de abril de 2016

ALMAS CONDENADAS

Nota 2,0 Mesmo tentando fazer algo levemente diferenciado, longa tropeça no acúmulo de clichês

Os filmes de fantasmas com certeza eram mais atraentes antigamente quando suas almas vagavam pelos cemitérios ou se recusavam a abandonar suas antigas casas. Com a invasão dos filmes de horror asiáticos, infelizmente parece que virou regra que as assombrações aparecessem em tudo que é canto, independente de o Sol estar brilhando, e que as histórias sempre envolvam crianças e algum mistério mal resolvido pinçado do fundo do baú. Embora Almas Condenadas não seja a refilmagem de nenhum produto oriental, é nítido que sua existência se deve a tal febre, ainda que tenha sido lançado quando os fantasminhas de olhos puxados e suas versões americanizadas começavam a dar seus últimos suspiros. O fracasso então é justificado, ainda mais pela premissa que parece inspirada em programas sensacionalistas que exploram crendices populares. O roteiro escrito por Brian e Jason Clevenland gira em torno de Melanie (Leah Pipes), uma jovem que acaba de escapar da morte por conta de uma overdose de drogas. Após passar um tempo em uma clínica de reabilitação, ela decide retornar à sua pequena cidade natal no Texas para voltar a conviver com sua família. Além de se readaptar a rotina, a garota vai fazer novas amizades que a levam a conhecer uma lenda urbana local que vai deixá-la ainda mais perturbada. Há cerca de 50 anos um terrível acidente envolvendo um trem matou grande parte da população infantil da cidade e depois que Melanie esteve pessoalmente no mesmo lugar da tragédia passou a ter visões dos mortos que parecem querer se comunicar com ela. Para agravar a situação, uma sequência de misteriosos assassinatos começa a ocorrer e parece querer encobrir detalhes do fatídico episódio, assim a jovem se sente no dever de investigar as relações entre as mortes do passado e as do presente. Como diz o ditado, quem procura acha e Melanie vai acabar se envolvendo em uma perigosa situação que pode não ser uma história totalmente do além e correr grandes riscos.

A sinopse mirabolante é típica de fitas de horror asiáticas, mas infelizmente as semelhanças não ficam restritas ao enredo e se estendem a outros pontos, ou seja, os erros comuns aqui também são repetidos aos montes. Diálogos sofríveis, interpretações fracas, suspense anunciado por ângulos de câmera manjados ou sons estridentes e o pior dos pecados de produções do tipo: sustos canastrões que não metem medo. O diretor Harry Basil até teve boa vontade em tentar fazer algo mais digno misturando os clichês de filmes de fantasmas com os de fitas de seriais killers, mas em determinado momento o gancho sobre assassinatos no presente acaba tomando conta da narrativa parecendo que toda aquela história de assombrações mirins ficaria registrada como um grande deslize. Contudo, conforme a protagonista vai colecionando pistas, os dois mistérios começam a se encaixar e se fundem em um final inesperado, mas nada que torne Almas Condenadas um produto memorável, pelo contrário, é facilmente esquecível e até o pessoal que cuidou de sua publicidade deve ter ficado com um pé atrás, provavelmente não assistiram mais que vinte minutos e fizeram a arte baseando-se em outros exemplares do gênero, só assim para explicar o porquê de uma criança com cara de zumbi estampar a capa do DVD. O genérico título nacional já deixa explícito que se trata de um terror com espíritos afoitos, não mortos-vivos. Aliás, nem as próprias almas sofredoras são o enfoque principal. Mais puxado para o suspense do que para o terror em sua melhor definição, o longa no fundo tem como objetivo discutir a demência do ser humano diante da oportunismo, a chance de tirar proveito em cima de uma situação sem levar em consideração as consequências negativas para outras pessoas. Louvável a tentativa de trazer alguma mensagem dentro de uma narrativa que visa assustar e ser um passatempo ligeiro, mas as boas intenções vão por água abaixo diante de passagens que ficam mal explicadas, fragilidade da narrativa e da própria interpretação do elenco que trabalha no piloto automático como se já soubessem que o destino desta fita seria o esquecimento. Talvez só não esperavam que o ostracismo viesse tão rápido. 

Terror - 95 min - 2006 

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