NOTA 10,0 Longa ressuscita o gênero musical em grande estilo, apostando em história de amor contada de maneira vibrante |
Durante muitos anos os musicais foram sinônimos de cinema de
primeira e marcaram uma fase de ouro de Hollywood. Em meados dos anos 60 o
gênero começou a sua decadência sendo sucumbido por produções mais ousadas e
realistas. Em tempos de guerras, ganância e luta pela liberdade e direitos, já
não havia mais espaço para a magia do casamento da sétima arte com o mundo da
música. Um ou outro musical como Cabaret ou Grease – Nos Tempos
da Brilhantina conseguiu fazer sucesso e atravessar décadas sendo lembrado
de forma ativa e indicado às novas gerações, mas definitivamente as produções
do tipo pareciam fadadas ao ostracismo. Eis que em pleno início do novo século
o mundo foi surpreendido com o lançamento de Moulin Rouge – Amor em
Vermelho, um ousado e criativo projeto do diretor e roteirista Baz Luhrmann,
antes responsável por uma versão mais moderninha de um conto clássico, Romeu
+ Julieta. Sua especialidade parece ser oferecer verdadeiros espetáculos
visuais e sem medo de reinventar fórmulas. No caso ele reinventou os musicais e
entregou ao público uma obra ímpar utilizando ao máximo os recursos sonoros e
visuais a favor de sua narrativa, optando por toques sutis de computação
gráfica e exaltando o lado artesanal de se fazer cinema. Tudo isso sem abrir
mão de imprimir sua marca: o exagero, no bom sentido. A história começa na
virada do século 19 para o 20 nos apresentando ao jovem Christian (Ewan
McGregor), um escritor que está passando por um bloqueio criativo por perceber
que nunca se apaixonou de verdade e assim não poderia jamais escrever sobre o
amor de forma clara e sincera. Em Paris, no bairro boêmio de Montmartre, ele
recebe o apoio do artista plástico Henri de Toulouse-Lautrec (John Leguizano) e
de uma trupe de artistas que o ajudam a participar da vida social e cultural do
local que giram em torno do famoso cabaré Moulin Rouge. Ao visitar o local,
Christian se apaixona a primeira vista por Satine (Nicole Kidman), a grande
estrela da casa de espetáculos, que na realidade é um bordel. Graças a um
mal-entendido, os dois têm a chance de ficarem a sós por alguns minutos, tempo
suficiente para que a moça correspondesse ao amor do rapaz, porém, ela já está
prometida ao Duque de Monroth (Richard Roxburgh), que em troca do casamento
promete transformá-la em uma grande atriz e o Moulin Rouge em um elegante teatro.
Mesmo pressionada por Harold Zidler (Jim Broadbent), o ganancioso dono do
cabaré, em comum acordo Satine e Christian decidem viver seu romance às
escondidas, mas uma hora ela deverá escolher entre viver um amor verdadeiro ou
realizar-se profissionalmente.
A premissa assumidamente não é original e se sustenta em
cima de um triângulo amoroso clássico, mas a forma de narrar essa história de
amor é que faz toda a diferença. Tal qual aos musicais de outrora, as canções
são utilizadas aqui para ajudar a contar a história proposta, podendo
substituir diálogos ou simplesmente reforçar mensagens, porém, o diretor optou
por escolher a dedo composições contemporâneas e famosas que casassem com sua
narrativa, todas devidamente adaptadas e com novos arranjos instrumentais,
sendo apenas uma canção escrita especialmente para o filme. Apostando em uma
empolgante mistura de cores, cenários grandiosos e riquíssimos em detalhes,
todos construídos de verdade em um enorme estúdio, diga-se de passagem,
Luhrmann também conseguiu transformar o extravagante em luxo, mas nem mesmo
todo o brilho existente a cada nova cena consegue ofuscar o talento do elenco
reunido destacando-se, obviamente, os protagonistas. Nicole e McGregor
surpreendem com a desenvoltura nas cenas de dança e canto, lembrando que todas
as músicas foram gravadas pelos próprios atores, o que dá ainda mais vivacidade
ao longa. Aliás, este trabalho foi de suma importância para ambos os astros. A
atriz vivia um momento de renovação tanto em sua vida pessoal quanto na pessoal.
Após se separar de Tom Cruise, parece que a estrela finalmente libertou seu
talento. Já McGregor, embora já fizesse parte da mais recente trilogia Star
Wars, pela primeira vez ganhou um personagem a altura de seu talento em um
filme comercial. Antes seu personagem mais marcante era no drama
independente Trainspotting. Lançado primeiramente sob os holofotes do
Festival de Cannes e só depois ganhando espaço no circuito comercial americano,
ainda que no início em algumas poucas salas, talvez nem os produtores ou o
próprio Luhrmann imaginassem as proporções de sucesso que este musical
atingiria. Realmente lançar um filme do tipo em pleno século 21 era uma ideia
um tanto arriscada, mas o megalomaníaco cineasta topou o desafio de inserir
novamente este gênero no mapa do cinema mundial. Para tanto, adotou estratégias
que transformaram sua obra não apenas em um filme, mas sim em um arrebatador
espetáculo visual, auditivo e emocional.
Tingindo cada fotograma de tons avermelhados, graças aos
figurinos, cenários e objetos de adorno, a atmosfera vibrante do cabaré esconde
o que há de podre quando os clientes não estão olhando. Intrigas, traições,
inveja, ambição, enfim tudo o que poderia haver de sórdido neste mundo boêmio é
escamoteado e as vezes nem mesmo o espectador pode se dar conta disso diante de
frenéticos números musicais em ritmo de videoclipe. Além disso, Luhrmann não se
preocupa em errar e costura sua exaltação ao amor com momentos cômicos que se
alternam com outros extremamente dramáticos, até culminar em um dos finais mais
arrebatadores que o cinema já nos apresentou. Poesia e arte cuidadosamente
inseridas da primeira a última cena. É muito bom ver que os anos passam, mas o
brilhantismo deste show cinematográfico continua sendo perpetuado e conquistando
novos fãs a cada dia. Moulin Rouge – Amor em Vermelho não é apenas
uma exaltação ao amor, vai além. É a celebração do que é fazer cinema de
verdade e é até difícil selecionar uma cena que o represente dignamente. Cada
uma delas é uma verdadeira obra de arte que merece ser contemplada em seus
mínimos detalhes. Em sua trajetória de sucesso, que como já dito continua até
hoje, só é uma pena constatar que os membros da Academia de Cinema de Hollywood
perderam a chance de enaltecer sua própria imagem premiando esta produção,
afinal ela é a tradução visual da alcunha “sétima arte”. Infelizmente optaram
pela política da boa vizinhança ou pelo lado comercial que o evento agrega e
tiraram a chance de Luhrmann e sua trupe terem a cereja do bolo. Após mais de
duas décadas de ausência da festa, o gênero musical voltava com força total
para disputar com os gigantes da época. O Oscar perdeu a chance de fazer
História e enaltecer a sua própria, afinal eram os musicais os grandes
destaques da premiação no passado, mas de qualquer forma o romance de Satine e
Christian não só fez como continua fazendo seu próprio conto de sucesso. Uma
dica para ver e rever quantas vezes forem possíveis. E viva o amor! Em vermelho
de preferência.
Vencedor do Oscar de direção de arte e figurino
Romance - 126 min - 2001
Moulin Rouge, kkkkkk, só vi umas 50 vezes, vi num cinema aqui da cidade, numa saleta, que até ja fechou, mas apesar da tela minima me deixou encantado... comprei os 2 cds da trilha, cantei, chorei, enfim... sou fã do filme, para quem curte um bom drama e musical de qualidade, assista!
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