NOTA 3,5 Embora com certos momentos de ousadia e algumas passagens divertidas e de fácil identificação, longa é um amontoado de gags que exaltam o bizarro |
Tudo junto e misturado. Esse bem
que podia ser o título de Os Farofeiros devido
ao leque de situações e de personagens que estão em cena em um enredo bizarro,
mas não muito distante da realidade. Quem nunca sonhou com as férias perfeitas
que no fim resultou em algum tipo de frustração? Imprevistos acontecem, mas
para a turma deste filme não foi uma ou outra coisinha que deu errado.
Desculpem o linguajar, mas como popularmente se fala, do início ao fim fodeu
tudo na viagem dessa galera como de costume em produções que abordam férias
frustradas. Tudo é válido para levar o espectador ao riso fácil e por mais
estapafúrdias que as situações possam parecer é duvidoso que nunca alguém tenha
vivenciado ao menos uma delas. É justamente nesse poder de identificação que o
roteiro de Paulo Cursino se sustenta sob a batuta do diretor Roberto Santucci.
A dupla é responsável por sucessos como De
Pernas Pro Ar e Até Que a Sorte nos
Separe, mas também por projetos nem tão bem sucedidos como O Candidato Honesto e Um Suburbano Sortudo, estes que mesmo
não caindo no gosto popular atraíram um público considerável aos cinemas. Esta
nova empreitada em conjunto se encaixa no segundo grupo. A história começa com
um garotinho em sala de aula sendo obrigado a ler sua redação sobre suas
férias. Ele relembra o episódio que vivenciou com a família durante o feriado
de Ano Novo. Alexandre (Antônio Fragoso), seu pai, teria motivos de sobra para
festejar a virada, afinal foi promovido a gerente de seu departamento, mas
junto com a boa nova veio a ingrata tarefa de realizar cortes na equipe assim
que a empresa retomasse suas atividades. Em paralelo, lhe apavora a ideia de
começar o ano brigado com a temperamental esposa Renata (Danielle Winits) que
está estressada por ter sido desconvidada por parentes a passar alguns dias em
Búzios. De última hora, o jeito é confiar nos amigos e assim ele aceita a
tentadora proposta de Lima (Maurício Manfrini) que diz ter arranjado uma
excelente casa na praia a preço irrecusável. O único inconveniente é que ele
também passaria o réveillon com a família nesse local e já teria convidado
outros colegas de trabalho. Assim, uma verdadeira gama de personagens
estereotipados coloca o pé na estrada.
Alexandre é o cara mais bem
sucedido da trupe, mas também o mais oprimido por conta do dilema que tem a
resolver no trabalho enquanto Renata é escandalosa, cheia de frescuras e se
acha superior a todos. Lima ocupa o posto de engraçadinho da turma, sempre com
alguma piadinha na ponta da língua mesmo quando leva uns tabefes de Jussara
(Cacau Protásio), sua mulher um tanto esquentadinha e barraqueira. Ambos os
casais levam na viagem sua prole, crianças esquecidas pelo roteiro e acionadas
apenas para uma ou outra piadinha, sendo a mais divertida a que uma boneca cai
em um piscina cuja água deu lugar a um denso lodo verde. Winits é escalada para
resgatar o brinquedo e acaba caindo dentro do criadouro do mosquito da dengue e
derivados (os insetos ganham uma passagem de destaque na trama mais adiante).
Quando consegue sair, este é o momento mais diferenciado do longa em uma
eficiente referência ao terror O Chamado,
com direito a edição peculiar para ressaltar o caminhar enrijecido da
personagem enlameada e uma significativa mudança na fotografia e iluminação para
criar uma ambientação mais soturna. Voltando a falar do grupo bizarro que se
reúne para essa viagem, ainda temos
Rocha (Charles Paraventi), que leva a filha pequena e sua esposa Vanete (Elisa
Pinheiro) que está grávida de oito meses e prestes a dar à luz a qualquer
momento, e Diguinho (Nilton Bicudo), um cara melancólico que vive pelos cantos
chorando por ter se separado da mulher e estar longe dos filhos, mas que é invejado
por agora estar pegando a sensual Elen (Aline Riscado). Essa galera então tem a
responsabilidade de encenarem uma série de gags e esquetes que poderiam muito
bem ser apreciadas de forma isolada em programas de humor. O perrengue já
começa na estrada com um congestionamento
monstruoso e muito tempo sem ir ao banheiro e se entupindo de porcarias
já sabemos que tipo de piadas vão surgir. Ao chegarem na tal casa de veraneio, muito
distante do mar, o pesadelo já começa com o portão caindo de podre e pichações
internas no muro de bandidos que já passaram por lá. Além da já citada piscina
imunda, o local ainda tem a fiação elétrica nas últimas, não há ventiladores,
os colchões e travesseiros são infestados de ácaros que provavelmente poderiam
ser vistos a olho nu, as redes de proteção anti-mosquitos tem rombos que até
ratazanas poderiam atravessar e o pior de tudo para um representante do século
21: o wi-fi não conecta nem com reza brava.
O filme poderia ser um lixo total
se fosse focado apenas em escatologia, barracos e no estranhamento dos
personagens em relação a uma casa que clama por demolição. Entretanto, o
roteiro de Cursino, complementado por cenas escritas por Odete Damico, se sustenta
em uma relevante questão: a dúvida de Alexandre quanto a quem demitir. E o pior
é que a lista de candidatos ao corte inclui os colegas com quem está viajando.
Olha a saia justa. Em um dia abraçará o azarado desejando um bom princípio e no
dia seguinte terá que tirar seu emprego, o que pode implicar em um ou vários
anos de tristezas. Inicialmente ninguém sabe nada sobre o assunto, mas os
colegas ficam sabendo secretamente e de forma nada sutil começam a bajular o
novo chefe, com exceção de um ingênuo alheio à questão. É esse gancho
ligeiramente mais sério que segura as pontas em Os
Farofeiros que apesar de todo o besteirol mostra certo
amadurecimento de Santucci no comando do circo. Ou seria melhor dizer ousadia?
Ele traz certo quê das produções de Hollywood do gênero, se arrisca a fazer uma
referência ao terror em determinado momento e até insere uma cena com uso de
computação gráfica para mostrar dois insetos conversando, embora a passagem
fique totalmente deslocada e cause risos não por seu conteúdo e sim por de
imediato nos remeter a anúncios de inseticidas. Se o já citado momento terrir
na piscina é uma grande sacada do longa, também não se pode deixar de mencionar
a metalinguagem de uma longa sequência passada dentro de uma sala de cinema em
que os personagens conversam sobre a relação ora amável ora espinhosa dos brasileiros
com os filmes nacionais. Contudo, o diretor derrapa feio na noção de tempo. O
ataque dos pernilongos que deixou quase todos com caroços enormes na pele
rapidamente é esquecido assim como as queimaduras provocadas por protetores
solares vencidos saram milagrosamente, isso sem falar nas cenas finais que
evidenciam a falta de cuidado no desenvolvimento da trama. E não estamos
falando a respeito de detalhes bobos que poderiam passar despercebidos. No
geral, Santucci prefere caminhar por terreno seguro e abusa do humor visual. Se
não fosse pelo casebre caindo aos pedaços, a impressão é que estaríamos vendo
uma releitura das confusões de Chaves e sua turma em Acapulco. Coincidência ou
não os episódios do seriado mexicano passados na praia tem o mesmo título desta
comédia que tinha potencial para ser um programa família, mas perde a chance de
ampliar seu público apostando em piadas que não condizem com o universo
infantil. Ou seria hipocrisia? Qual garoto nunca olhou com desejo para uma
mulher bonita de biquíni?
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