NOTA 7,5 História verídica sobre golpista homossexual rende um boa comédia com toques de drama e cenas polêmicas |
Quando não conseguimos definir
bem em que gênero se enquadra um filme das duas uma: ou ele é um projeto
inovador ou uma bobagem que atira para tudo quanto é lado sem ver no que vai
acertar. Digamos que O Golpista do Ano fica em cima do
muro entre estas duas opções. Ele tem drama, suspense leve, humor sarcástico e
também piadas no melhor estilo pastelão. O resultado é um trabalho que tem seus
altos e baixos, mas ainda assim um filme que não conseguimos odiar totalmente.
Tampouco elogiá-lo exageradamente. Baseado em fatos surpreendentemente reais, registrados
no livro de memórias “Eu Te Amo Phillip Morris” de Steve McVicker, acompanhamos
a história de Steven Russell (Jim Carrey), um policial que está vivendo um
período de crise em todos os sentidos, a começar pelos traumas de infância que
o amedrontam ainda, como o fato de ter sido abandonado pela mãe. Apesar de ser
casado com a religiosa e conservadora Debbie (Leslie Mann), ter filhos e ser
reconhecido na profissão, ele aparentemente vive uma felicidade de fachada, traindo
sua esposa com homens. Certo dia, voltando de uma de suas escapadelas, ele
sofre um acidente de carro e decide que se sobrevivesse mudaria completamente
de vida. Assim ele assume ser homossexual e passa a aproveitar tudo de bom que
a vida tem a oferecer, nem que para isso seja preciso sobreviver aplicando
golpes afinal, segundo o próprio, ser gay custa muita caro. Desempregado,
Steven se envolve em trapaças com seguradoras, lucra muito, mas não tarda para
que chegue o momento em que ele é preso e condenado à prisão. Todavia, esse
período recluso não é de todo mal. É na carceragem que ele finalmente conhece o
grande amor de sua vida, Phillip Morris (Ewan McGregor). A partir desse
momento, Steven passa a viver entre fugas e novas prisões, sempre agindo em
nome do amor. Bem, pelo menos as vidas de prisioneiro sua e a de seu namorado
não foram nada monótonas ou sofridas já que o golpista conseguia alguns
privilégios oferecendo certos serviços sexuais às escondidas para policias e
prisioneiros.
As relações homossexuais no
cinema já deixaram de ser uma novidade há muito tempo, mas ainda a forma como o
assunto abordado pode trazer novidades e até chocar. Neste caso em que há uma
ou outra cena mais picante ainda assim a opção pelo humor fica em primeiro
lugar. Só que para os padrões americanos talvez elas tenham sido demais e os
comentários foram se espalhando pelo mundo aguçando ou repudiando platéias. O
resultado é que quando chegou ao Brasil o longa estava sendo aguardado com
muita expectativa e quando se vai com muita sede ao pote... Muitos adoraram,
mas o número de decepcionados ao que tudo indica é bem maior. De qualquer
forma, ao mesmo tempo em que há pontos a serem criticados negativamente, como a
apelação a palavras de baixo calão, situações vexatórias e usar uma doença
fatal para fazer piada, também temos pontos positivos como tratar o
homossexualismo no humor de forma mais madura sem perder o rebolado, mas também
sem apelar para clichês como o personagem gay afetado que sempre rouba a cena
em comédias românticas e que fatalmente trabalha como cabeleireiro ou
costureiro. Mas o que há de tão interessante nesta história real? Bem, o
Russell da realidade, o já citado McVicker, ficou famoso por conseguir escapar
quatro vezes da prisão e forjar diversas identidades para aplicar seus golpes
dentro e fora da cadeia. Os roteiristas Glenn Ficarra e John Requa, que já
escreveram enredos leves como o de Como
Cães e Gatos e outros mais pesados como o de Papai Noel às Avessas, certamente foram seduzidos por esta
história, um material fértil e que já foi base de muitos outros filmes, como Prenda-me se for Capaz, também baseado
em fatos reais só que de um outro picareta. Porém, o que deve mesmo ter chamado
a atenção deles foi a possibilidade de trabalhar com o fetiche prisão versus
gays. Quem nunca ouviu boatos sobre estupros em cadeias ou que prisioneiro
recém-chegado é brinquedo novo? Estreando na direção, o detalhe é que a dupla
transformou o que poderia ser dramático em piada mostrando um casal de
homossexuais gozando de uma vida de prazeres enclausurados. Deboches à parte,
também podemos interpretar esta estadia na prisão como o momento em que eles
podem viver felizes sem se preocupar em criar um personagem para ser aceito pela
sociedade. Lá ninguém tem nome ou rosto, são apenas números ou bonecos
uniformizados. Ok, o jeito alegre e atrevido do nosso casal protagonista não os
deixa completamente despercebidos no meio da multidão.
Carrey, para variar, com o
papel do homossexual extremamente inteligente, mas de caráter duvidoso em mesma
proporção, conseguiu colher elogios e críticas negativas. Muitos adoram sua
interpretação como Russell, mas também chovem comentários de que o ator mais
uma vez exagerou nas caras, bocas e trejeitos. É certo que tal personagem
exigiu muito dele, pois é um papel de inúmeras facetas do início ao fim, assim
os excessos são até perdoáveis. Sua química com McGregor também não poderia ser
melhor, assim eles conseguem convencer como um casal apaixonado. A participação
do ator que adotou o visual “dando pinta” para o personagem, escancarando sua
opção sexual, é muito bem-vinda para dar novos rumos ao filme que corria o
risco de ser apenas mais um pastelão a la Jim Carrey. Com a relação dos dois a
trama ganhou peso dramático, mas ainda assim não abandonou o humor. E os
consecutivos golpes de Russell não só ajudaram a movimentar o longa, mas também
a afastar o fantasma da previsibilidade. Ah, e não podemos esquecer a
participação do brasileiro Rodrigo Santoro, na verdade uma ressalva apenas para
puxar a sardinha para o nosso país. O ator vive Jimmy, um dos primeiros namorados
do protagonista, mas aparece em poucas cenas, ainda que elas sejam importantes
para retratar a vida luxuosa idealizada por um gay recém-saído do armário. No geral, mesmo adotando cenários e figurinos
multicoloridos para dar uma plasticidade que flerta com o colorido universo
gay, recursos exaltados ainda mais pelos ótimos trabalhos de iluminação e fotografia,
O
Golpista do Ano não é uma obra que levanta bandeiras a favor dos
homossexuais, mas também não os agride ou ofende, pelo menos não em níveis
alarmantes. Podemos dizer que esta comédia é mais uma crítica a utopia da
sociedade americana ou a incansável busca da plena felicidade, uma carência que
não é preenchida por sentimentos ou apenas por coisas materiais, mas sim pelo
equilíbrio dessas duas necessidades. Vale a pena dar uma conferida neste
trabalho que como induz o próprio título nacional, muito criticado, mas
extremamente funcional, trata de mais uma história de um golpista profissional que
se deu bem na vida. O fato de ele ser homossexual digamos que é um bônus para
dar cara nova a um velho conto que provavelmente você já viu em outros tantos
filmes. Um pequeno detalhe que faz toda a diferença para darmos um voto de
confiança.
Comédia - 102 min - 2010
hehe, golpista do ano é um filme para rir e chorar, o protagonista é muito cara de pau, que alias Jim faz como poucos, é uma delicia de ver, recomendo!
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