NOTA 7,0 Buscando criticar a ditadura da beleza, ídolos vazios e a influência da mídia na vida das pessoas, no fundo fita se prende a clichês e final feliz |
Pelo título piegas você já
deve pensar: lá vem mais uma comédia romântica bobinha e com final previsível.
Bem, a forma como esta história acaba não foge às regras da cartilha que rege o
gênero, mas dependendo da interpretação de cada um o longa pode não ser a
simplória diversão que promete. Nunca é Tarde Para Amar pode surpreender e esconder
algo a mais por trás do verniz de produção escapista e engraçadinha apostando
em um subtexto crítico, porém, não aprofundado. Buscando criticar o poder da
audiência para controlar a mídia ao mesmo tempo que ela manipula seus
consumidores, ironicamente o roteiro mostra-se um tanto amarrado a convenções,
provavelmente um cuidado para não desagradar seu público-alvo que busca
justamente uma diversão descompromissada e calcada em situações previsíveis.
Todavia, sobram farpas contra as estrelas de Hollywood que não assumem o
envelhecimento e também contra as jovens estrelas do mundo da música que tendem
a decair tão rápido quanto alcançam o estrelato. A história gira em torno de
Rosie (Michelle Pfeiffer), uma mulher já quarentona que impressiona pela sua
beleza, mas que está passando por momentos conturbados tanto em sua vida
pessoal quanto profissional. Ela é a mãe de Izzie (Saoirse Ronan), uma
pré-adolescente que entre os muitos problemas com os quais tem que aprender a
conviver nesta fase de transformações se vê perturbada pela vivência de seu
primeiro amor. Coincidentemente, o mesmo sentimento está sendo vivido de certa
forma por Rosie que até então nunca havia tido um relacionamento com alguém
mais jovem, mas cai de amores por Adam (Paul Rudd), um ator que não chegou nem
na casa dos trinta anos ainda. Eles se conhecem durante a escolha de elenco
para um seriado de TV do qual ela é a produtora e o rapaz a conquista com seu
extremo bom humor e maneira leve de viver a vida. Dando vida a um cativante
nerd estereotipado no programa, ele então se torna a arma secreta para
conquistar a audiência do público adolescente, caso contrário o horário seria
cedido a um reality show. O projeto vai de vento em popa, mas se as coisas vão
bem no trabalho para ambos, a vida pessoal só não está melhor porque esse
relacionamento entre uma mulher mais velha e um homem mais jovem é motivo de
inveja para alguns, como Jeannie (Sarah Alexander), uma invejosa colega de
trabalho do casal.
A tradução literal do título
original seria algo como “Eu Nunca Poderia Ser Sua Mulher”, algo condizente com
o principal argumento levantado pelo enredo, mas pouco comercial para uma
produção catalogada como comédia romântica. Em pleno século 21, apesar de
moderninhas, o filme revela como as mulheres mais vividas, digamos assim, ainda
se prendem a preconceitos do passado e tendem a se afastar da chance de serem
felizes com alguém mais jovem já que a sociedade ainda não vê com bons olhos
tais relacionamentos. No longa, a protagonista se arrisca a viver esta paixão,
mas vira e mexe põe o pé no freio impondo a si mesma barreiras, as vezes por
causa de se achar ridícula vivendo os mesmos sentimentos de uma adolescente e em
outras ocasiões por achar que a relação pode atrapalhar o campo profissional. A
produtora de TV ainda enfrenta o peso da idade ao ver que suas ideias para
novos seriados parecem ultrapassadas perante a interatividade proporcionada pelos
reality shows, praga que se alastrou por todo o mundo rapidamente. Além disso,
rodeada de ninfetas loucas por seus quinze minutos de fama, fica difícil não
parar para pensar sobre quando chegará o dia em que sua larga experiência
profissional seria trocada por alguns litros de silicone bem injetados. Em meio
a tantos conflitos, o roteiro obviamente é muito focado no papel de Pfeiffer,
atriz que curiosamente também sentiu o peso da idade na vida real. Estrela
consagrada e lindíssima, então quase uma cinquentona, ela ficou longe dos
cinema por cerca de cinco anos. A escassez de convites só veio a cessar em 2007
quando, além desta produção, ainda brilhou em Stardust - O Mistério da
Estrela como uma feiticeira e soltou a voz como uma megera no
musical Hairspray - Em Busca da Fama. Quanto a seu talento ela não tem nada mais a provar, porém, precisa
estar sempre atenta para sobreviver em meio a selva hollywoodiana onde meninas
bonitas da noite para o dia viram ídolos sem necessariamente terem talentos
para a interpretação. Já Rudd, ator que depois de vários papéis
coadjuvantes à sombra de sinônimos de comédia como Will Ferrell e Steve Carell,
finalmente conquistou a vaga de protagonista e se deu muito bem, mesmo já sendo
quase um quarentão vivenciando situações como se fosse um colegial. Todavia,
ele exala juventude tal qual sua parceira de cena, química perfeita.
Responsável por cults de bem
humoradas críticas sociais entre as décadas de 1980 e 1990, tendo como grandes
representantes o ousado Picardias Estudantis e o
caricatural (no bom sentido) As Patricinhas de Beverly Hills, ambos
acerca do universo dos adolescentes e servindo como registro de hábitos e
comportamentos de suas respectivas épocas, a diretora e roteirista Amy
Heckerling tentou fazer aqui um retrato de uma nova geração, mas sem se
esquecer daqueles que nasceram no século passado, mas que continuam cheios de
disposição para aproveitar as próximas décadas. Aqui entram em cena os
conflitos de uma turma que manteve a aura inocente até pelo menos os quinze
anos de idade batendo de frente com os anseios de uma nova prole que aos doze anos
já não deseja mais brincar com bonecas ou carrinhos. Forçados pela influência
da mídia, cotidiano corrido e pelas amizades nem sempre tão sinceras, os
próprios jovens parecem desejar o amadurecimento precoce, mas não sabem lidar
com os aspectos negativos da mudança. Prevalecendo a ótica feminina sobre os
assuntos, é uma pena que a diretora desta vez não conseguiu o mesmo nível de
eficiência na crítica quanto nos títulos citados de sua filmografia. O enfoque
poderia render uma história mais reflexiva, mas parece que houve medo em
afugentar o público-alvo que certamente só busca distração momentânea. Porém,
vale a ressalva que as várias referências a ídolos do momento e do passado e o
próprio artifício do programa de TV dentro do filme são muito eficientes para
datar a obra e criticar a ditadura da beleza sobrepondo o talento real. É uma
alfinetada leve na própria indústria de cinema de Hollywood, o próprio nicho
que gerou este produto. Fica a sensação de que Heckerling e sua equipe
resolveram fazer esse filme como uma espécie de desabafo quanto as regras
superficiais que os sufocam neste meio. Nunca é Tarde Para Amar é calcado em clichês, mas
cheio de boas intenções que, infelizmente, não foram bem desenvolvidas,
certamente até por imposições dos próprios produtores do longa. Quem se dispor
a assistir com boa vontade e atenção pode conseguir pescar as mensagens
implícitas e desenvolver os temas em sua mente por conta própria, assim
constatando que este trabalho está um pouco acima do convencional do gênero,
mas ainda assim bem abaixo do que poderia oferecer.
Apesar de ser realmente prevísivel, essa comédia me agradou. Acho que estava num bom dia para o gênero, passou bem o tempo.
ResponderExcluir