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domingo, 28 de junho de 2015

NO TOPO DO MUNDO

Nota 2,0 Estrelado por astro de American Pie, longa é um equívoco desde a concepção da ideia

Muitos atores enchem a boca para falarem daquele que seria o personagem mais importante de sua carreira, contudo, tal afirmação é usada já prevendo que sempre o próximo papel deverá ocupar tal lugar e assim por diante. Teoricamente as coisas deveriam funcionar desse jeito até porque com o acúmulo de experiências de trabalho e de vida a tendência é que o ator cada vez aprimore mais a sua arte, mas parece que para algumas pessoas não basta ter apenas esse raciocínio e força de vontade. É preciso contar com a sorte, muita sorte. Jason Biggs é um exemplo disso. Quem? Seu nome não é muito conhecido, mas seu rosto sim. Basta dizer que ele é o protagonista dos três primeiros filmes da série American Pie. Com cara de bobo, se metendo em inúmeras confusões e trabalhando no limite do aceitável em termos de besteirol e escatologia, ele fez bastante sucesso na época, mas não chegou a se tornar um ídolo, nem mesmo dos adolescentes que podiam se identificar com os dilemas e sensações de seu personagem. Percebendo a estagnação da carreira, felizmente ele pulou fora das demais (e terríveis) continuações da série que o lançou e procurou trilhar novos caminhos. Até o mestre Woody Allen lhe estendeu a mão e o rapaz protagonizou sua comédia romântica Igual a Tudo na Vida, mas realmente o futuro não foi generoso com ele. No Topo do Mundo, por exemplo, até poderia ser um filminho razoável para matar o tempo ocioso, mas torna-se maçante a começar pelas próprias expectativas de quem assiste. Sinônimo de comédia, o nome do ator atrelado a essa produção nos remete ao gênero inevitavelmente, algo reforçado pela sinopse. Na trama roteirizada por John Paul Chapple e Steve Atridge, o ator dá vida ao Cabo Rudy Spruance, um Oficial de informações Públicas que em junho de 1979 é enviado por engano para trabalhar em uma base militar na Groelândia quando na verdade deveria estar servindo no Havaí. Confusões à vista! É óbvio que o rígido lugar vai ficar de pernas pro ar com a presença de um recruta totalmente perdido por lá. Seria bom se o roteiro seguisse tal viés. Fora a introdução em que Spruance acaba sendo vítima de um enxame de mosquitos e logo em seu primeiro dia na base já experimenta a enfermaria, não há resquício de humor no que vem a seguir.

Devido ao acidente com os insetos, Spruance já começou com o pé esquerdo e vira alvo de chacota de alguns colegas que automaticamente o rotulam como um zero a esquerda. Todavia ele faz amizade com o soldado Henry Lavone (Sean Tucker), que também não parece ser muito popular e tampouco com a mente completamente sã, e conversa muito com a Sargento Irene Teal (Natasha McElhone) com quem demonstra ter muita química, mas o problemas é que ela parece enrolada em um caso amoroso com  o com o Comandante Lane Woolwrap (Jeremy Northan), um homem  linha dura e que não demonstra muito apreço por Spruance. Dizem que só é enviado para a base da Groelândia os militares que fizeram algo de errado em suas bases originais, assim a temporada nessa terra que não tem para onde fugir, o sol brilha intensamente boa parte do ano, mas o período de frio é implacável, serve como uma espécie de reformatório. Certa vez Woolwrap adverte que seus soldados precisam se preocupar em como eles serão lembrados depois de morrerem, o que eles fizeram de bom na vida, mas o tempo passa e o relações públicas local nada mais faz que obrigatoriamente redigir textos para um periódico militar exaltando o trabalho do comandante. Explorando o local, Spruance finalmente faz uma descoberta que poderia render uma repercussão e tanto. Um homem muito doente está esquecido em uma ala da enfermaria da base e em sua ficha de dados consta seu nome como Sr. X (Michael Ironside). Ele sabe de coisas que podem complicar a vida de Woolwrap, mas tem dificuldades para falar e parece que certos assuntos são terminantemente proibidos por lá. Com direção de Saul Metzstein, No Topo do Mundo sofre com um acúmulo de pontos desfavoráveis. Crise de identidade é um dos mais graves. Regra geral é um drama dos mais sem graça, opção que poderia ter sido revertida a favor de um suspense leve trabalhando melhor o gancho do misterioso paciente esquecido no hospital militar. E como explicar os minutos iniciais que apontavam outra direção? É certo que Biggs precisa e merece explorar outros gêneros, mas não é fazendo uma ponte truncada de seu habitat natural para um campo desconhecido que o milagre acontece. Um trabalho de publicidade em cima dessa decisão do ator em amadurecer seu currículo seria bem-vinda, mas possivelmente o longa por onde passou foi fracasso e lançado sem barulho algum. Quando a própria distribuidora faz questão de poupar confete com seus produtos é porque tem algo errado com a produção.

Drama - 101 min - 2005 

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