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sábado, 6 de abril de 2024

VENOM (2005)


Nota 3 Mais um serial killer indestrutível e repetitivo tenta, em vão, inaugurar franquia de terror


Entre os anos de 1970 e 1980 ao menos três filmes de terror fizeram estrondoso sucesso apoiando-se nas enigmáticas e arrepiantes figuras de seus protagonistas psicóticos. Michael Myers, Jason Voorhees e Freddy Krueger, respectivamente de Halloween, Sexta-Feira 13 e A Hora do Pesadelo, acabaram entrando com tudo na cultura pop de todo o mundo, mas suas continuações com narrativas repetitivas e declínio em termos de qualidade, além das centenas de produções genéricas que pegaram carona na moda dos slashers, acabaram esgotando a fórmula. Nas décadas seguintes muitos tentaram lançar um novo serial killer que fizesse tanto sucesso quanto seus antecessores, mas apenas o assassino da série Pânico teve êxito acima do esperado. A mente brilhante por trás dessa revitalização do subgênero atende pelo nome de Kevin Williamson que roteirizou, produziu e/ou dirigiu diversos filmes que se tornaram horror cults entre o final da década de 1990 e início dos anos 2000. Ele roteirizou, por exemplo, Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado, este dirigido por Jim Gillespie. A dupla voltou a trabalhar junta em Venom, desta vez com Williamson assinando como produtor e o amigo voltando ao cargo de direção.

Apesar do título homônimo, esta obra não é sobre um dos mais famosos inimigos do Homem-Aranha (que viria a ganhar seu filme solo anos mais tarde), mas sim uma tentativa de criar um novo nome para o cenário slasher. Apesar da boa premissa, o longa não conquistou o público, em muitos países foi lançado diretamente para consumo doméstico, e a caracterização do vilão não caiu no gosto popular. Mesmo com o passar dos anos, que costuma beneficiar produções de horror com a divulgação boca-a-boca, o longa não escapou do ostracismo. O enredo é o basicão de sempre. Um grupo de adolescentes que temos vontade de trucidar com nossas próprias mãos, tamanha a empatia que se estabelece, passa a ser perseguido por um assassino implacável.  Ele é Ray Sawyer (Rick Cramer), frentista que se envolve em um acidente fatal com a Sra. Emmie (Deborah Duke), uma mulher misteriosa conhecida por lidar com rituais de vodu. No momento da tragédia ela trazia uma maleta que guardava serpentes com dons sobrenaturais que caem em um pântano junto com o corpo do rapaz que é picado por elas e imediatamente volta à vida, porém, com uma força descomunal e parecendo imune a qualquer tipo de ameaça. 


Não há magia que salve o roteiro de Flint Dille, John Zuur e Brandon Boyce da mesmice. Três cabeças para pensar em uma trama que se resume as mesmas perseguições, gritarias e banhos de sangue que preenchem dez em cada dez filmes de seriais killers? O filme não traz novidade alguma e até repete erros de outras produções do tipo, como a fotografia excessivamente escura que esconde alguns momentos principais, ou seja, quando os adolescentes babacas são mutilados. O casal de namorados Eric (Jonathan Jackson) e Eden (Agnes Bruckner) encabeçam o grupo de jovens a serem perseguidos incansavelmente por Sawyer que agora carrega em seu corpo  a maldade de dezenas de pessoas exorcizadas em rituais de magia negra e, como uma máquina de matar, não pensará duas vezes quando alguém cruzar seu caminho. Cece (Meagan Good), a neta da mulher dos tais rituais, acredita que sua casa é protegida por mandigas e oferece abrigo aos sobreviventes. De fato, o morto-vivo parece barrado de entrar por uma força sobrenatural, mas ele encontra outros meios para puxar suas vítimas para solo não consagrado.

Tendo como arma principal um pé-de-cabra, mas sabendo manejar tantos outros instrumentos e se aproveitar dos pontos de perigo das ambientações, o assassino em vida foi vítima de humilhações do grupo de jovens que o perseguiam simplesmente por ser um tipo mais acanhado, um prato cheio para os descolados tripudiarem. A se todos os tímidos pudessem se vingar tão cruelmente... Epa! A vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena. Literalmente é alimentado de veneno que nosso vilão ressurge do mundo dos mortos com seu porte físico e aspecto de arrepiar, mas é uma pena que sua odisseia seja igual a de tantos outros assassinos que são perfurados, baleados, extirpados e até queimados. Como uma compilação de arquétipos dos principais assassinos em série do cinema, inclusive de Creeper, da franquia Olhos Famintos, já que também possui seu próprio veículo utilitário modificado para servir a seus propósitos, o vilão de Venom sofre o diabo, porém, quando menos se espera, volta à cena indicando uma possível e desnecessária continuação. Felizmente, nosso homem-cobra, desculpe o trocadilho, foi jogado para as cobras, mas no mundo cinema as portas nunca se fecham, assim não estranhe se algum corajoso resolver se aventurar por este universo pantanoso novamente.


Gillespie demonstra ter sangue frio e cria dolorosas e violentas cenas de assassinatos, com destaque para uma jovem que perde a vida empalada num galho de uma árvore, um dos poucos takes bem registrados pela câmera. A trama é desenvolvida sem grandes momentos, mas vale um elogio pelo clima dark concebido, uma noite de horror que podia ir além, mas esbarra em bobagens típicas deste subgênero. O resultado entregue é apenas mais um slasher comum que busca em vão alguma oxigenação neste saturado universo apoiando-se sobre o tema da magia negra e vodu para compor uma história que transforma um pacato cidadão em uma máquina de matar quando ressuscitado. Sabemos com antecedência como será o desfecho, que sempre é o mesmo na grande maioria dos filmes similares, e nem mesmo conseguimos torcer para que alguém sobreviva ao massacre. O elenco, um tanto inexpressivo, compõem personagens  tão fúteis e descartáveis que apenas conseguem despertar uma maquiavélica vontade no espectador de vê-los morrerem o mais rápido possível e de preferência das formas mais dolorosas e violentas.

Terror - 85 min - 2005

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