Uma
história de amor à moda antiga e porque não dizer um clássico romântico dos
anos 2000. Assim podemos nos referir à Diário de
Uma Paixão baseado num best-seller de Nicholas Sparks,
autor que está para o romance e o drama tal qual Stephen King para o suspense e
o terror. Diversas obras do romancista ganharam adaptações cinematográficas,
mas nenhuma teve tanto destaque quanto este conto que se divide entre o passado
e o presente para versar sobre um amor que desde o início sofreu percalços, mas
talvez seu maior desafio seja sobreviver aos últimos anos de vida do casal. A
trama começa em um asilo onde um bondoso senhor costuma visitar uma paciente
com problemas de memória e conta uma história romântica para distraí-la. Nos
anos 1940, o jovem Noah Jr. (Ryan Gosling) mora numa cidade de interior e
trabalha como ajudante em uma madeireira e com o pouco que ganha tenta
aproveitar ao máximo os bons momentos da vida. Ele se apaixona à primeira vista
por Allie Hamilton (Rachel McAdams), uma garota de família mais abastada que
está passando férias na cidadezinha, mas com data marcada para voltar à Nova
York e retomar seus estudos. Após muita insistência do rapaz, ela acaba
aceitando sair com ele cativada por sua simpatia e espírito livre, assim logo
se veem apaixonados. Contudo, a relação é abalada quando a moça o leva para
conhecer sua família que logo no primeiro encontro evidencia a diferença de
classes, principalmente Anne (Joan Allen), a mãe dela disposta a afastá-los.
Ela chega a antecipar a volta da família para casa, mas Noah promete esperar
sua amada voltar e que eles manteriam contato por meio de cartas. E assim ele
fez.
Durante
um ano inteirinho Noah escreveu uma carta por dia, mas elas eram interceptadas
por Anne e nunca chegavam as mãos da destinatária. O jovem então decide seguir
sua vida enquanto sua amada, acreditando ter sido esquecida, resolve que é hora
de procurar um novo amor, desta vez alguém que agrade sua família. Voluntária
como enfermeira durante a Segunda Guerra, ela se apaixona por um de seus
pacientes, o soldado Lon Hammond (James Marsden), alguém de berço, que a amava
e com condições de lhe oferecer uma vida digna. É claro que antes de subir ao
altar o destino dá uma mãozinha e faz com que Allie retorne ao interior e
reencontre seu grande amor que, apesar de suas aventuras amorosas com uma
mulher comprometida, nunca mais pensou em se casar. A paixão reascende e agora
mais maduros é hora de enfrentarem preconceitos e desavenças, embora Noah já
não seja mais um pobretão. Esforçado, conseguiu juntar o suficiente para
comprar um belo casarão, mas sem a companhia da mulher da sua vida aquele lugar
não fazia sentido. Allie sentiu vontade de procurá-lo justamente por ver a
notícia num jornal de que ele estaria vendendo um imóvel, mas em nenhum momento
fica latente que o dinheiro falou mais alto.
O roteiro de Jeremy Leven consegue transparecer o tempo todo que os protagonistas são motivados pelo amor e não faz questão alguma de esconder aquilo que poderia ser o grande trunfo do longa. Os velhinhos do prólogo são os próprios Noah e Allie, agora defendidos pelos veteranos James Garner e Gena Rowlands. Ela sofre de Alzheimer e não se lembra mais do companheiro de cinco décadas, assim ele pacientemente vai todos os dias à clínica e lhe conta a história deles mesmos na esperança da memória dela voltar. O retorno aos poucos das lembranças a fazem reconhecê-lo, mas é apenas um lapso de poucos minutos, assim esta monótona rotina se repete dia após dia e tanta dedicação do senhor encanta a todos na instituição. Se o casal de idade surgisse apenas na introdução e no final quando essa situação é exemplificada às claras, o filme poderia deixar um leve ar de mistério quanto as suas identidades, mas algumas cenas que entremeiam a ação do passado, como a da visita dos filhos e netos à senhora que também não os reconhece, trata de abrir logo o jogo para aqueles que não mataram a charada. Contudo, nada que estrague o prazer de acompanhar esta produção dirigida por Nick Cassavetes, filho da própria Rowlands com o famoso cineasta John Cassavetes. Seus esforços para não deixar a fragilidade do texto vir a tona são compensados com imagens belíssimas que transportam o espectador para uma espécie de paraíso onde o lago reluz os raios solares, a grama é completamente verde, as flores desabrocham o ano inteiro e uma agradável melodia parece ser executada por divindades.
Apesar dos boatos que os protagonistas não se suportavam nos intervalos das filmagens, o que vemos em cena é uma química afinada de um casal digno da era de ouro de Hollywood. Gosling e McAdams ganhavam então um de seus primeiros papeis de destaque, sendo que ele teve mais sorte nas escolhas futuras chegando a indicações a prêmios e transitar com passe livre entre o cinemão comercial e as produções independentes. Já a moça se aventurou por diversos gêneros, mas acabou com a imagem bastante atrelada a romances, mas ainda um tipo desconhecido, daquelas atrizes que quando você vê sabe que a conhece de alguma outra produção, porém, seu nome lhe escapa. A dupla segura a maior parte das duas horas de duração, saindo-se melhor quando se reencontram com seus personagens já maduros, mas nada que tire o brilho da participação de Rowlands e Garner que engrandecem a obra com experiência e carisma. Vê-los em cena é um deleite e o encontro de mestres só não é melhor porque fica um pouco prejudicado pelo desnecessário alongamento do ato final, uma obsessão em mostrar que o amor deles era tão forte que predestinadamente duraria até o último minuto da vida de ambos. Não importa se o segredinho da trama ou como ela acaba já saibamos de antemão. O que interessa é saborear a forma como um enredo de cartas marcadas é desenvolvido, neste caso com uma carga emotiva que dificilmente não envolve até o espectador mais arredio.
A
trama pode parece ultrapassada, mas não tem medo de optar pelo trivial e, por
trás de uma aparentemente simplória história de amor, existe a defesa das
convenções de um gênero que infelizmente caiu em desuso. Até a época retratada
em flashback remete aos tempos áureos do melodrama. A busca de pelo sonho
americano, o desejo de vencer na vida, é bem explicitada, porém, a inserção do
período de guerra em rápidas cenas não acrescenta em nada à espinha dorsal do
enredo, apenas uma forma desnecessária de reforçar a vocação para clássico da
produção. Diário de Uma Paixão encanta
justamente pelas memórias que resgata. Para os mais velhos, momentos de
simplicidade em que um amor poderia nascer num simples passeio no parque e um
convite para ir ao cinema não passava de uma inocente paquera. Para os mais
jovens, o contato com uma realidade completamente diferente e capaz de
despertar o desejo de viver um amor puro que possa começar com um beijo no
rosto ou no caminhar de mãos dadas por uma praça, deixando as libertinagens em
último plano.
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