Nota 6 Antigo e esquecido filme de psicopatas não assusta, mas vale pela nostalgia que desperta
Uma fobia muito comum, tanto entre crianças quanto em adultos, é o medo de palhaços, justamente profissionais que deveriam levar alegria e entreter às pessoas. Rompantes de pânico, perda de fôlego, suores, náuseas e até ataques cardíacos são alguns sintomas comuns de quem sofre desse transtorno que estaria ligado ao temor em descobrir quem pode se esconder por trás da fantasia e maquiagem colorida. Já existiram casos reais de sequestros e mortes envolvendo criminosos e psicopatas que usaram a figura do palhaço para atrair crianças e até o universo da cultura pop já tirou proveito de situações do tipo. Lançado no início dos anos 1990, IT - Uma Obra-Prima do Medo, inspirado em um livro de Stephen King, é um dos exemplos mais notórios e que anos mais tarde ainda originou uma refilmagem que ganhou continuação. Contudo, pouco antes, um outro filme também trabalhou a temática, mas infelizmente foi esquecido com o passar dos anos. Trata-se de Palhaço Assassino, mais conhecido como Máscaras do Terror por suas diversas exibições na TV para não ser confundido com outra fita praticamente homônima. Ironicamente, o mesmo título, só que no plural, é a alcunha da produção semelhante, mas se ajustaria perfeitamente ao longa em questão.
Trata-se da história de um grupo de jovens perseguidos por um trio de malucos que fugiu de um hospital psiquiátrico, mas espertos o bastante para invadirem um circo, assassinarem os palhaços e usarem suas roupas e maquiagens para perambularem à vontade pelas ruas durante a madrugada, ainda que chamariam até mais a atenção. Licença criativa do roteiro e segue o bonde. Os marginais acabam atraídos para a casa de Casey (Nathan Forrest Winters), Geoffrey (Brian McHugh) e Randy (Sam Rockwell), irmãos que justamente esta noite iriam ficar sozinhos em casa e, na ausência dos pais, planejavam se divertir até altas horas contando histórias de terror, no entanto, não imaginavam que eles mesmos seriam protagonistas de uma delas. Casey é o mais novo e seu maior pavor é quanto as imagens de palhaços, fobia perfeita para torná-lo alvo de brincadeiras e sustos fáceis, assim Randy, o mais velho, tira o máximo de proveito disso.
O longa trabalha mais na base do suspense e sustos leves, evitando violência e sangue explícitos, assim contrariando o estilo tradicional dos slashers movies, mas o diferencial é apenas esse. O diretor Victor Salva tenta seguir a cartilha deixada pelo clássico Halloween - A Noite do Terror e procura ao máximo esconder seus vilões atrás de arbustos no jardim e pelos cômodos da casa quando conseguem invadi-la. Casey é o primeiro a descobrir que seu pior pesadelo está por perto, mas obviamente é ignorado pelos irmãos que dão sopa para o azar ao decidirem saírem tarde da noite simplesmente para comprarem pipocas, pasmem! Contudo, os deslizes das vítimas fazem parte dos clichês do subgênero e o diretor claramente não tinha intenção alguma de inovar e não dispensa nem mesmo uma estratégica queda de luz para tornar tudo ainda mais assustador, embora em diversos momentos a escuridão trabalhe contra a obra ao esconder demais os personagens e situações.
Salva então fazia sua estreia como diretor e roteirista em longas-metragens sob a batuta de ninguém menos que Francis Ford Coppola, da trilogia O Poderoso Chefão, que havia ficado impressionado com um dos seus curtas. Apostando alto no pupilo, além de bancar a produção, o cultuado diretor também cedeu sua própria casa para as filmagens, contudo, decidiu retirar seu nome dos créditos como produtor após uma grave polêmica envolvendo um dos atores-mirins. Poucos meses após o lançamento, Winters, então com apenas doze anos de idade, revelou ter sido molestado sexualmente por Salva durante as filmagens sendo apenas ele convocado repetidas vezes para ensaios fora de horário, trauma que implicou em sua desistência da carreira sendo esse seu único filme. Embora não tenham encontrado nada que especificamente comprovasse os abusos ao jovem, de fato, quando foi preso, a polícia encontrou muitas fitas de conteúdo de pedofilia na casa do diretor que foi condenado a três anos de prisão, ainda que em regime de liberdade condicional.
Coppola voltaria a apoiar Salva anos depois produzindo Olhos Famintos, única obra relevante no currículo do ex-presidiário que visava uma lucrativa franquia, mas que não soube conduzir apesar de ter criado um perfil de vilão dos mais interessantes e com fôlego para muitas carnificanas. É uma pena que nem a imagem dos algozes de Palhaços Assassinos salvam a produção do esquecimento. São criminosos que simplesmente agem movidos pela loucura inerente a seus problemas psicológicos, mas para seus instintos perversos e inteligência para arquitetar emboscadas não são apresentadas justificativas, assim seus perfis são enfraquecidos e desprovidos de características marcantes. Está certo que a direção fraca e os sustos brandos fazem o filme parecer uma inofensiva sessão da tarde, mas para os nostálgicos da década de 1980 vale uma conferida. O clima inocente, divertido e ao mesmo tempo tenso de uma noite com os amigos para assistir filmes e contar histórias assustadoras desperta boas lembranças.
Suspense - 81 min - 1989
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