Nota 7,5 Terror mexicano mistura zumbis e fatos históricos e coloca mocinhas dúbias em destaque
Filmes com zumbis existem aos
montes na filmografia hollywoodiana, aliás poderia até ser considerado um subgênero
tamanha importância e quantidade de obras no estilo, contudo, não é uma
propriedade ianque. Qualquer país tem o direito de explorar o filão, basta ter
criatividade e coragem para enfrentar as críticas que certamente já seriam
disparadas antes mesmo das fitas serem lançadas. Puro preconceito como prova Ladronas de Almas, produção do México que não joga
simplesmente na tela mortos-vivos sedentos por carne humana, mas os
contextualiza em um aspecto da História do país, a Guerra da Independência. Em
1815, um grupo de mercenários chega a uma fazenda habitada por uma família
aristocrática aparentemente decadente, os Cordero, para pedir asilo por alguns
dias e se apresentam como desertores do conflito. Embora já tenha sofrido com a
traição de outros que tentou ajudar no passado, Don Agustín (Luis Gatica), o patriarca,
permite que eles fiquem, mas com a condição de que não saiam em hipótese alguma
a noite do abrigo que lhes fora destinado. O local é cercado de lendas sobre
ruídos e visões noturnas estranhos, mas os insurgentes, como eram conhecidos os
rebeldes, acreditam que tudo não passa de invenções para evitar que estranhos
invadam a propriedade da família em busca do ouro que escondem, real motivo que
os levou até lá. De quebra, eles esperam encontrar o antigo capitão do bando
que meses atrás desapareceu nas imediações da mesma fazenda. No entanto, esses
criminosos não contavam com a astúcia e determinação de Maria (Sofia Sisniega),
Roberta (Natasha Dupeyrón) e Camila (Ana Sofia Durán), as filhas de Augustín, garotas
astutas e determinadas que aprenderam a se defender após a morte da mãe por outro
grupo de insurgentes e contam com um trunfo: dominam a magia de trazer mortos
de volta a vida e escravizá-los. Assim contam com a ajuda de um zumbi (Pablo
Valentín) para estragar os planos dos invasores, além de Indalésio (Harding
Junior), um criado de confiança.
Dirigido por Juan Antonio de la Riva, não é comum uma produção de terror mexicana ultrapassar fronteiras, mas Ladronas de Almas chamou a atenção em alguns festivais e tem conseguido distribuição mundial em serviços de streaming, o que é ótimo para fugir da mesmice das fitas do gênero de Hollywood, asiáticas ou até mesmo espanholas que já passaram da fase de surpreender. O roteirista Christopher Luna, a partir de uma mórbida lenda local, foi bastante criativo e original ao unir zumbis e fatos históricos do país, duas temáticas bastante diferentes, mas a fusão resulta em um filme interessante e envolvente. Embora não se proponha a dar uma aula de História e felizmente evite o uso de palavras e expressões datadas, a trama preza pela seriedade e evita qualquer sugestão de humor involuntário, o que seria uma armadilha fácil de se cair. Até a caracterização dos mortos-vivos, embora apenas um ganhe mais tempo e importância na trama, é bem feita e não dá margens para ridicularizações. A atmosfera conseguida também é digna de nota. As ruínas da fazenda incrustrada em uma região desértica está dentro do contexto histórico e ajuda a criar a sensação de que a qualquer momento algo inesperado pode acontecer, embora a verdadeira ameaça encontre-se dentro da residência dos Cordero. Interessante a inversão de papéis proposta. Os mercenários que surgem com postura mansa para depois revelar suas reais intenções são alçados ao posto de vítimas, mas dificilmente sentimos pena deles. As donzelas da casa mostram-se espertas e preparadas o bastante para defender suas honras e patrimônio, além de vingar a morte da mãe, assim é bem mais fácil criar empatia com elas e por mais que sejam violentas e sanguinárias é difícil as enxergar como vilãs. Contudo, o diretor sabe usar a violência e o gore com parcimônia, jamais deixando a trama refém desses artifícios. Seu foco é delinear bem as personagens em um primeiro momento para aos poucos subverter as posições conforme fatos do passado da família e dos insurgentes vão sendo esclarecidos. Só por apresentar em uma seara atípica as mulheres como heroínas, mas longe do estereótipo clássico que a palavra evoca, este filme já mereceria destaque, porém, vai além despertando interesse em conhecer a História do México e sua filmografia, assuntos infelizmente ainda restritos à sua própria pátria.
Dirigido por Juan Antonio de la Riva, não é comum uma produção de terror mexicana ultrapassar fronteiras, mas Ladronas de Almas chamou a atenção em alguns festivais e tem conseguido distribuição mundial em serviços de streaming, o que é ótimo para fugir da mesmice das fitas do gênero de Hollywood, asiáticas ou até mesmo espanholas que já passaram da fase de surpreender. O roteirista Christopher Luna, a partir de uma mórbida lenda local, foi bastante criativo e original ao unir zumbis e fatos históricos do país, duas temáticas bastante diferentes, mas a fusão resulta em um filme interessante e envolvente. Embora não se proponha a dar uma aula de História e felizmente evite o uso de palavras e expressões datadas, a trama preza pela seriedade e evita qualquer sugestão de humor involuntário, o que seria uma armadilha fácil de se cair. Até a caracterização dos mortos-vivos, embora apenas um ganhe mais tempo e importância na trama, é bem feita e não dá margens para ridicularizações. A atmosfera conseguida também é digna de nota. As ruínas da fazenda incrustrada em uma região desértica está dentro do contexto histórico e ajuda a criar a sensação de que a qualquer momento algo inesperado pode acontecer, embora a verdadeira ameaça encontre-se dentro da residência dos Cordero. Interessante a inversão de papéis proposta. Os mercenários que surgem com postura mansa para depois revelar suas reais intenções são alçados ao posto de vítimas, mas dificilmente sentimos pena deles. As donzelas da casa mostram-se espertas e preparadas o bastante para defender suas honras e patrimônio, além de vingar a morte da mãe, assim é bem mais fácil criar empatia com elas e por mais que sejam violentas e sanguinárias é difícil as enxergar como vilãs. Contudo, o diretor sabe usar a violência e o gore com parcimônia, jamais deixando a trama refém desses artifícios. Seu foco é delinear bem as personagens em um primeiro momento para aos poucos subverter as posições conforme fatos do passado da família e dos insurgentes vão sendo esclarecidos. Só por apresentar em uma seara atípica as mulheres como heroínas, mas longe do estereótipo clássico que a palavra evoca, este filme já mereceria destaque, porém, vai além despertando interesse em conhecer a História do México e sua filmografia, assuntos infelizmente ainda restritos à sua própria pátria.
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