Nota 3,5 Apesar de bem feito, terror peruano faz coletânea enfadonha de clichês hollywoodianos
Assim como o cinema oriental já
teve sua fase de ser considerado o reduto das produções de horror, entrando em
decadência com o excesso de produções repetitivas e refilmagens americanas, não
demorou muito para a indústria espanhola e latina sentir os efeitos negativos
do sucesso. O frescor e criatividade trazidos por produções como O Orfanato e
Rec pouco a pouco foram cedendo espaço para a repetição de ideias e os mais
manjados clichês do gênero, culminando em produções esquecíveis e que na
ausência das videolocadoras acabam servindo para rechear os serviços de
streaming , tapar buraco em canais fechados ou na pior das hipóteses figurar
entre as exclusividades de sites de pirataria devido a falta de distribuidores.
Jogo Sinistro conseguiu abrigo no
catálogo da Netflix, mas seu título genérico já é uma baita contrapropaganda. De
fato, trata-se de uma produção bastante comum, sem nenhum grande atrativo. Talvez
o imbróglio envolvendo seu lançamento seja mais interessante que seu próprio
enredo. Fernanda (Milene Vásquez) é psicóloga em uma instituição no México que
cuida de pacientes com transtornos mentais severos e fica bastante abalada com o
aparente suicídio de um deles. Ela ganha o direito de se ausentar por alguns
dias para descansar e aproveitar para cuidar de Úrsula (Claudia Dammert), que
também sofre de distúrbios psiquiátricos e está internada em uma clínica no
Peru. Ela e o filho pequeno Julio (Matías Raygada) foram indicados a se hospedar
em um prédio em específico e são recebidos de forma muito hospitaleira pela
simpática Rosa (Attilia Boschetti), uma senhora que até se prontifica a cuidar quando
necessário do garoto que logo na primeira noite percebe que não terá paz no
novo endereço. Da janela de seu quarto ele vê o vulto de uma garota de idade
semelhante a sua e a mesma começa a aparecer para ele com frequência cada vez
maior, mas não tem como avisar ninguém sobre o que está acontecendo por ser
mudo. Claro que chega um momento em que a mãe se dará conta de que algo ou alguém
está perseguindo seu filho e passará a investigar, culminando em informações
que podem ligar as estranhas aparições à sua própria mãe. Úrsula estaria
envolvida com as mortes de crianças que teriam a ver com rituais usando a
famosa tábua ouija, artefato utilizado para fazer comunicação com os mortos.
Assim, as aparições do tal espírito podiam ser um aviso de que Julio poderia
ser a próxima vítima.
O roteiro de Adrián Ochoa trata
de alinhavar o maior número de clichês possível, incluindo a dispensável introdução
envolvendo o paciente encontrado morto, e desde os primeiros minutos da chegada
de mãe e filho no novo endereço vai jogando pistas que ajudam a desvendar o
mistério muito antes da hora, assim enfraquecendo o clímax. O longa é até digerível,
mas para quem é escolado no gênero fica o gosto amargo de ver mais do mesmo que
já foi apresentado em tantas outras produções semelhantes de Hollywood e da
própria cinematografia latina e espanhola. Como dito, a história por trás do
lançamento do filme soa bem mais interessante que ele em si. A escolha do
título Jogo Sinistro foi uma
estratégia do serviço de streaming para dar independência ao longa, embora
pesquisas na internet também o apontem com o nome de Círculo Sinistro e
curiosamente marquem anos diferentes de produção para cada batismo. Na verdade,
esta seria uma continuação do primeiro longa de terror produzido no Peru, Cemitério
Geral, que praticamente ficou no ostracismo. Dorian Fernández-Moris assina
a direção dos dois longas, porém, ambos podem ser vistos como obras independentes.
Esta segunda parte não exige necessariamente conhecimento prévio dos acontecimentos
da fita original, resgatando apenas a temática envolvendo a tábua ouija e o tal
cemitério que aparece no título original e era cenário principal anteriormente.
Aqui a necrópole aparece bem menos, mas não deixa de ter sua importância
narrativa visto que é nesse local que se encontram as respostas finais para o plot
principal do filme. Felizmente o diretor foge da armadilha de repetir
totalmente o argumento de seu trabalho anterior e também dispensa o uso de
cenas de gravações amadoras, o “found footage”, que antes era um recurso
narrativo essencial. Assim, ele constrói uma obra que caminha com suas próprias
pernas, mas desprovida de qualquer senso de criatividade ou inovação. Em tempo:
Édgar Vivar, o eterno Sr. Barriga do seriado “Chaves”, faz uma ponta como
diretor de um hospital.
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