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terça-feira, 28 de junho de 2022

O JOGO DA VERDADE


Nota 7 A partir da possibilidade de um novo amor, longa aborda o sentido da verdadeira amizade


Amizades sinceras não são construídas de uma hora para a outra. A partir da empatia inicial sua existência depende de uma conjugação de elementos tais como carinho, predileções, confiança e sinceridade. É quase impossível sair por aí com o objetivo de se fazer novos amigos, mas quando menos se espera alguém pode surgir em seu caminho aberto a estreitar laços. Essa relação para ser benéfica deve deixar de lado quaisquer intenções de proveitos, materiais ou não, e primar pela compreensão e honestidade. É essa relação que sentimos transparecer no grupo feminino principal de O Jogo da Verdade, um drama romântico leve e com pitadas de humor. Certo dia, Rebecca Trager Lott (Elizabeth Perkins) preparava-se para ir trabalhar enquanto seu marido havia saído para correr como fazia em todas as manhãs, mas desta vez estava demorando para voltar. Algumas horas depois ela descobre que ele sofreu um acidente e veio a falecer. Agora viúva, ela se recusa a ser tratada como tal e precisa reorganizar sua vida para se habituar a rotina sem o companheiro e vai contar com o apoio de outras mulheres que, para o bem ou para o mal, sempre estiveram próximas e ela.

Lucy (Gwyneth Paltrow), sua irmã caçula e solteira, é um tipo estranho que, ao seu modo, é puro carinho. Já Sylvie (Whoopi Goldberg), a amiga para o que der e vier, tem lá os seus problemas pessoais a resolver com o marido, mas não desampara Rebecca neste momento difícil. Por fim, Alberta (Kathleen Turner), sua antiga madrasta, uma executiva de modos determinados, ainda se dedica a se entender com à ex-enteada com quem nunca teve uma boa relação. Curiosamente, cada uma delas tem um estado civil diferente, mas em comum todas estão insatisfeitas e, embora não confessem, procuram um sentido mais profundo às suas vidas. Um ano se passa e no dia de seu aniversário Rebecca recebe um estranho presente de Alberta. Ela financia a pintura de sua casa, porém, a intenção é que a jovem viúva se interesse pelo empreiteiro bonitão, curiosamente sem nome, vivido por Jon Bon Jovi. Os dois acabam se envolvendo de fato, mas o novo romance coloca Rebecca em um momento de crise e então é hora das mulheres que querem seu bem mais uma vez entrarem em ação para ajudá-la a se desvencilhar das amarras que a impedem de viver um novo amor.


O enredo é uma adaptação da roteirista Ellen Simon a partir de seus próprios originais para uma peça de teatro semiautobiográfica. O diretor David Anspaugh também indiretamente trabalhou com um material no qual se viu representado. Rebecca é professora assim como ele também foi por quatro anos antes de enveredar pelo ramo da televisão e posteriormente do cinema. Logo em sua estreia nas telonas, com Momentos Decisivos, foi bastante elogiado e levou Dennis Hopper a ser indicado ao Oscar como Melhor Ator Coadjuvante. O longa tinha uma temática tipicamente masculina, uma produção movida a testosterona. Quase uma década depois, ele escolheria vertente completamente oposta para contar uma história que exala feminilidade e delicadeza. Para tanto se cercou de um grupo seleto de atrizes e em evidência ou ascensão na época. Perkins já tinha um currículo relativamente extenso e conquistado seu primeiro papel em um blockbuster um ano antes em Os Flintstones – O Filme, ao passo que Goldberg dispensava portifólio com um Oscar de coadjuvante por Ghost – Do Outro Lado da Vida e muitos dólares e publicidade pelo sucesso de Mudança de Hábito e sua continuação. 

Já Paltrow dava seus primeiros passos na carreira, mas desde o início já sofria preconceitos que só se acentuaram poucos anos depois com os vários prêmios recebidos por Shakespeare Apaixonado em competição com performances bem mais intensas de outras atrizes. Por fim, Turner, símbolo sexual e uma das atrizes mais requisitadas da década de 1980, tendo estrelado sucessos como Crimes de Paixão e Peggy Sue - Seu Passado a Espera, então já enfrentava a fase de declínio de sua carreira em termos de repercussão, porque seu talento permanecia, só não era bem aproveitado ao ser recrutada para produções medíocres. Em uma obra modesta como esta, que claramente não almejava arrecadar milhões, mas simplesmente entreter e emocionar seu público-alvo, o quarteto de atrizes tão talentosas e ao mesmo tempo com estilos tão díspares encontrou uma excelente oportunidade de mostrarem seus valores e, melhor de tudo, conseguiram um equilíbrio de interpretação que nos faz acreditar na união do quarteto, na amizade que transparente por Rebecca, sem segundas intenções.


Assumidamente açucarado, O Jogo da Verdade transborda ternura e bucolismo parecendo uma obra pinçada de um tempo em que para ser feliz não era preciso muita coisa. Bastava estar de alma aberta para novas experiências e emoções. Com o passar dos anos, o longa ainda ganhou um gostinho nostálgico irresistível principalmente pelo prazer em ver um grupo de atrizes tão talentosas em cena, nomes que outrora realizaram grandes trabalhos e hoje são pouco requisitadas. Estariam elas interessadas em aproveitar mais a vida e colher os frutos que plantaram ao longo de suas carreiras ou é a indústria de cinema que menospreza a experiência em prol de corpos e rostos perfeitos, mas com talentos limitados ou valores resumidos a quantidade de seguidores nas redes sociais? Torcemos para que a primeira alternativa seja verdadeira.

Drama - 105 min - 1995

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