Nota 3,5 Suspense quer ser mais inteligente do que pode e se perde em sua falsa complexidade
O título genérico vende bem o
peixe neste caso. Ou melhor, o engodo. O argumento de Refém do
Medo é até instigante, mas seu desenvolvimento é extremamente
formulaico e não exigiria a presença de uma atriz de peso como Naomi Watts. Ela
interpreta Mary Portman, uma mulher viúva que tem a difícil missão de cuidar do
enteado Stephen (Charlie Heaton), um adolescente em estado vegetativo após
sobreviver ao acidente de carro no qual seu pai falecera. O rapaz apresentava
comportamento bastante arredio e provocativo e uma discussão sobre a ideia de
mandá-lo para um internato teria provocado a colisão. Como psicóloga
especializada em cuidar de crianças e jovens, curiosamente a madrasta não
consegue aplicar seus conhecimentos e técnicas em seu próprio lar. Entre seus
pacientes está o pequeno Tom (Jacob Tremblay), um menino deficiente auditivo e
mudo que desaparece misteriosamente depois de uma visita à casa da médica
durante uma noite de forte nevasca. Considerado morto, mesmo sem o corpo encontrado,
Portman fica profundamente sentida com o episódio e passa a imaginar que seus
constantes pesadelos e os sons estranhos que ouve durante a noite sejam
manifestações do espírito do ex-paciente. Para piorar a situação, uma nova
tempestade de neve está por vir o que a obrigará a ficar isolada em sua casa
tendo como único contato externo o Dr. Wilson (Oliver Platt), seu psiquiatra
que a atende via internet e tenta ajudá-la a manter sua sanidade. À primeira
vista, o longa pode parecer mais uma produção sobre um espírito desencarnado
que precisa da ajuda de um mortal e este, por sua vez, só alcançará a paz que
deseja quando cumprir tal missão. Contudo, o roteiro de Christina Hodson apenas
flerta com a dúvida quanto à criança desaparecida e reúne todos os seus
esforços para contar uma história típica de thriller psicológico, mas perde
oportunidades e sobrecarrega a protagonista que tenta ao máximo entregar uma
atuação digna. Empenho em vão. Watts conquistou sua primeira indicação ao
Framboesa de Ouro, talvez não pela atuação em si, mas pela má escolha de
participar de algo tão insosso.
O grande números de sustos baratos provocados por movimentos bruscos de câmera ou pelos elementos sonoros em tom mais alto servem apenas para impedir que o espectador durma, principalmente nos dois primeiros atos que soam arrastados e investem em acontecimentos aparentemente desconexos. Contudo, o diretor Farren Blackburn não utiliza as pistas falsas corretamente de modo a construir um clima intrigante satisfatório. Seu pior deslize é carregar de clichês os sonhos de Mary e a maioria não agregar nada à trama, apenas ajudar a preencher tempo. Também incomoda o fato de inserir um suposto interesse amoroso à moça, Doug (David Cubitt), o pai de um de seus pacientes, e não desenvolver o gancho. Foge da mesmice do cara surgir no clímax para salvar a mocinha, embora neste caso até sentimos falta de tal pieguice para dar algum sentido à existência do personagem. O roteiro também desperdiça o talento do pequeno Tremblay que havia chamado a atenção em O Quarto de Jack. Sem a possibilidade de uma fala sequer e ausente da tela praticamente por mais da metade do filme, ele entra em cena como desculpa para injetar um pouco de ação ao marasmo, mas sua atuação é semelhante a de um objeto decorativo e, detalhe, na hora do perrengue a surdez de Tom não se manifesta e ele parece compreender perfeitamente o que Mary diz e quando está ameaçado. Seria ele de fato uma assombração? Ou realmente estava desaparecido e o vilão é alguém bem próximo da protagonista? Não é preciso muito esforço para matar a charada ainda nos primeiros vinte minutos de exibição. Refém do Medo sofre do mesmo mal que acomete a maior parte das obras da mesma seara. Procura contabilizar o maior número possíveis de sustos, mesmo que fajutos, desenvolve o mínimo possível o argumento e tenta oferecer um final mais inteligente que suas reais possibilidades. Ainda assim o ato final segura a tensão graças aos esforços de Watts que convence então como uma mulher que acorda para a realidade e deixa falar mais alto seu instinto de sobrevivência... E por que não dizer também materno?
O grande números de sustos baratos provocados por movimentos bruscos de câmera ou pelos elementos sonoros em tom mais alto servem apenas para impedir que o espectador durma, principalmente nos dois primeiros atos que soam arrastados e investem em acontecimentos aparentemente desconexos. Contudo, o diretor Farren Blackburn não utiliza as pistas falsas corretamente de modo a construir um clima intrigante satisfatório. Seu pior deslize é carregar de clichês os sonhos de Mary e a maioria não agregar nada à trama, apenas ajudar a preencher tempo. Também incomoda o fato de inserir um suposto interesse amoroso à moça, Doug (David Cubitt), o pai de um de seus pacientes, e não desenvolver o gancho. Foge da mesmice do cara surgir no clímax para salvar a mocinha, embora neste caso até sentimos falta de tal pieguice para dar algum sentido à existência do personagem. O roteiro também desperdiça o talento do pequeno Tremblay que havia chamado a atenção em O Quarto de Jack. Sem a possibilidade de uma fala sequer e ausente da tela praticamente por mais da metade do filme, ele entra em cena como desculpa para injetar um pouco de ação ao marasmo, mas sua atuação é semelhante a de um objeto decorativo e, detalhe, na hora do perrengue a surdez de Tom não se manifesta e ele parece compreender perfeitamente o que Mary diz e quando está ameaçado. Seria ele de fato uma assombração? Ou realmente estava desaparecido e o vilão é alguém bem próximo da protagonista? Não é preciso muito esforço para matar a charada ainda nos primeiros vinte minutos de exibição. Refém do Medo sofre do mesmo mal que acomete a maior parte das obras da mesma seara. Procura contabilizar o maior número possíveis de sustos, mesmo que fajutos, desenvolve o mínimo possível o argumento e tenta oferecer um final mais inteligente que suas reais possibilidades. Ainda assim o ato final segura a tensão graças aos esforços de Watts que convence então como uma mulher que acorda para a realidade e deixa falar mais alto seu instinto de sobrevivência... E por que não dizer também materno?
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