NOTA 1,0 Sem ritmo, confuso e carente de identidade própria, suspense brasileiro só é digno de nota por se arriscar em gênero que não dominamos |
Jovem casal decide passar uns
tempos em uma casa isolada no meio do mato e começa a ser perturbado por
estranhos sons e ruídos. Nas redondezas estranhos fatos tem acontecido, mais
especificamente assassinatos de mulheres, e seja de dia ou de noite sente-se a
presença de algo estranho circundando a residência perturbando ainda mais a
moça que foi para lá como alternativa para seus transtornos psicológicos. Tais
argumentos certamente não devem soar estranhos a ninguém com o mínimo de bagagem
cinematográfica. Todos eles já foram usados e abusados pelo cinema americano e
reaproveitados pela cinematografia latino e oriental. Tentando se cercar de
tudo que já foi testado e deu certo lá fora, o suspense Isolados
buscava um novo caminho para a produção brasileira, enveredar por um gênero
praticamente inexistente em nossa cultura, mas o resultado é sofrível. Forçando
conexões com sucessos como O Iluminado,
Os Outros, Ilha do Medo e até referenciando o polêmico Anticristo de Lars von Trier, o cineasta Tomás Portella mostra-se
cheio de boas intenções, mas sabemos que delas o inferno está cheio.
Responsável pela comédia de sucesso Qualquer
Gato Vira-Lata, ele fez um minucioso estudo sobre os elementos mais
característicos em fitas de suspense e terror, porém, esqueceu de fazer uma
triagem daqueles que caberiam melhor à história que desejava contar. Escuridão
total, ruídos, água misteriosamente vermelha, bonecas sinistras, uma paranoia
no ar, assassinos a solta, dúvidas quanto a presença de alguma entidade
maligna, cortes abruptos de cena, sons estridentes para evidenciar momentos
sustos e um final com reviravolta para tentar surpreender. Atirando para tudo
quanto é lado de imediato ficamos com o pé atrás com a produção e quanto mais
ela avança mais nos decepcionamos. Não estamos nem na metade do filme e já
pouco nos importamos com os protagonistas. Lauro (Bruno Gagliasso) e Renata
(Regiane Alves) formam um casal de namorados passando por um momento conturbado
em suas vidas e resolvem passar uma temporada em uma região interiorana do Rio
de Janeiro. Ele e um médico psiquiatra e acredita que o retiro pode ajudar a
moça que está abalada psicologicamente por conta de alguns episódios negativos
que vivenciou, contudo, o local escolhido tem sido palco de violentos
assassinatos de mulheres, mas não conta nada para ela.
Uma trama que se sustenta sob o
argumento de que uma pessoa precisa de um lugar sossegado para se restabelecer
e vai parar justamente no olho do furacão não por acaso é impossível levar a
sério. Tanto na posição de namorado quanto de médico, esperava-se outra atitude
de Lauro, mas ele segue viagem mesmo sabendo dos perigos que cercam a região,
caso contrário não haveria filme. As desculpas esfarrapadas incluem até a
providencial falta de um celular para que o casal fique totalmente
impossibilitado de se comunicar com a civilização. De fato, a trama escrita
pelo próprio Portella em parceria com Mariana Vielmond do início ao fim soa
involuntariamente cômica. Embora conte com elementos narrativos que remetam,
além das já citadas fitas, também a Violência
Gratuita, Temos Vagas, Os Estranhos e até mesmo O Sexto Sentido, o resultado é muito bizarro. Poderia ser apenas um
estranhamento quanto ao gênero quase ausente na filmografia brasileira, mas
infelizmente não é isso. Contudo, é louvável que os produtores, entre eles o
próprio Gagliasso, tenham aceitado arriscar dinheiro com um filme que foge de
temáticas envolvendo favelas, violência urbana ou sertão, embora até o BOPE
(sim o grupo de policiais cariocas protagonista do mega sucesso Tropa de Elite) bata cartão aqui sem
mais nem menos. Augusto (Silvio Guindane) e Clóvis (Orã Figueiredo) são
policiais que praticamente fazem figuração na trama e dizem uma meia dúzia de
frases prontas e descaradamente decoradas. Aliás, o roteiro lança mão de
personagens secundários sem muito critério e da mesma forma some com eles sem
mais nem menos. Isso serve até para o Dr. Fausto, derradeiro papel no cinema do
ator José Wilker cuja participação mínima só encontra justificativa por ser o
pai da roteirista. Um flashback revela uma conversa entre Lauro e o psiquiatra
a respeito de uma paciente que acredita estar morta e mais adiante uma
curtíssima cena também do túnel do tempo tenta justificar a instabilidade de
Renata, tudo isso em paralelo a uma fria investigação policial quanto aos tais
assassinatos do presente e o drama dos protagonistas também levado no
banho-maria. Deveriam ter sido dispensados os coadjuvantes e ter concentrado a
atenção no casal que poderia ter rendido mais confinado em um ambiente
claustrofóbico e caso as ameaças do lado de fora permanecessem uma incógnita.
Gagliasso e Regiane se esforçam para dar credibilidade a seus personagens, mas
roteiro e direção não ajudam. A certa altura, da figura petulante do início ele
se transforma em um homem obsessivo e descontrolado enquanto a companheira
vulnerável chega ao nível de uma mórbida serenidade. Em alguns pontos também
podemos ver o rapaz como alguém irritantemente passivo e ela adotando uma
personalidade agressiva e provocativa. Não há realmente cadência no
desenvolvimento dos perfis ou seriam erros grosseiros de edição?
Se em termos narrativos o longa
fica devendo em ritmo e coesão dos fatos, ao menos tecnicamente ele representa
um bom avanço de nossa indústria. Desde a introdução Portella busca apresentar
algo diferenciado, ao menos para nossos padrões. Uma jovem está caminhando em
meio a casas e quintais perdidos em meio a densa floresta e o clima soturno é
intensificado pela fotografia e iluminação que passam a nítida sensação de um
dia nublado. Os efeitos sonoros também colaboram com o estalar de galhos e
folhas. Sabemos o que vai acontecer com ela sem surpresas, afinal a câmera
seguindo-a passa a passo é um truque da escola de Halloween - A Noite do Terror, porém, a sutileza do prólogo é
trocada pelos vícios de Sexta-Feira 13
e companhia bela, não necessariamente quanto a violência gráfica, mas sim na
forma como tenta catapultar o espectador com sustos fajutos, não faltando nem
mesmo a espiadela pelo buraco da fechadura e o ambiente tomado por um breu
exagerado. Closes nos rostos perturbados dos protagonistas e suas respirações
não raramente ofegantes de imediato nos trazem lembranças de fitas como A Casa Silenciosa e a inserção de uma
boneca com aura sinistra força uma desnecessária conexão com Annabelle. Recorrer a clichês do gênero
não é o problema, senão Hollywood já estaria falida. O que incomoda é a forma
desorganizada em que eles são dispostos em uma trama chata e que só chama a
atenção em seu prólogo. Buscou-se a
fácil identificação do espectador com elementos típicos do gênero, mas não suas
justificativas dentro do enredo. A direção de arte, de longe, parece ser a
única coisa que se mantém em um bom nível do início ao fim. Além da mata
fechada com clima sombrio, o interior da casa de campo também merece atenção.
Com luzes coloridas provenientes de blocos de vidros estrategicamente
posicionados, com os personagens avisados que até no banheiro seus atos
poderiam ser observados, o diretor faz um bom uso de uma paleta de cores opacas
que intensificam o clima apático da trama (pode-se interpretar isso tanto como
um elogio quanto uma crítica negativa). Curto
e rasteiro, Isolados mal se inicia e já
estamos sentindo o gosto amargo decepção. Valeu a tentativa, mas o resultado
mostra que o Brasil ainda está longe de brigar por bilheteria e repercussão em
gêneros dominados pelos americanos. Falta identidade própria para se meter
nestas searas.
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