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domingo, 26 de setembro de 2021

RUTH E ALEX


Nota 3 Sem uma trama com objetivo concreto, longa se apoia no carisma e talento dos atores


Para as novas gerações mudar de endereço dificilmente é um bicho de sete cabeças, a maioria já está acostumada com casas de pais separados, estudar ou trabalhar em outra cidade ou dividir o espaço com amigos ou até mesmo desconhecidos. A tendência é que quando forem idosas continuem não sofrendo com apegos a moradias, uma realidade diferente da terceira idade de agora. Ainda há muitos tradicionalistas que se apegam a lembranças, principalmente quando passaram muitos anos e praticamente construíram suas vidas em uma mesma moradia e esse é o dilema vivido pelos protagonistas do drama com pitadas de humor Ruth e Alex protagonizado pelos veteranos Diane Keaton e Morgan Freeman. Casados há cerca de 40 anos e sem filhos, os Carver sempre viveram no mesmo e pacato edifício no subúrbio de Nova York que nem elevador tem, mas agora não reconhecem mais o bairro em que vivem. 

A abertura da loja de uma poderosa empresa de comunicação na área é a gota d'água para o casal perceber que não se encaixa mais no local, assim decidem vender o apartamento, que mesmo antigo está supervalorizado, e procurar um novo cantinho sossegado. Para tanto contam com a ajuda da corretora imobiliária Lily (Cynthia Nixon), sobrinha de Ruth, que organiza um open house, um evento para apresentar o imóvel para possíveis compradores. Contudo, conforme se aproxima a hora de se despedir da antiga moradia, o casal começa a enfrentar uma série de contratempos, inclusive a própria incerteza se querem mesmo trocar de endereço. Além da disputa de vários interessados no apartamento, cujo valor de venda deve ser ao menos equivalente ao que os Carver desembolsariam para comprar um novo, o casal ainda terá que enfrentar uma inesperada doença da cadelinha de estimação e ainda a presença no bairro de um possível terrorista, fato que pode espantar compradores. 


Uma mistura de temas um tantinho estranha, não é? Baseado na obra de Jill Ciment, o roteiro de Charlie Peters não se define como um drama, romance, comédia ou até mesmo uma crítica social, visto que aborda a pressão exercida pela exploração imobiliária desenfreada. Se observarmos com atenção percebemos que no fundo não há um conflito bem delineado para sustentar a trama e o final vem a confirmar isso. A venda do apartamento surge como uma ação impulsiva e que serve apenas para o casal ponderar o quanto tempo estão juntos e se estão preparados para uma espécie de recomeço. O filme perde muito ao investir em tramas paralelas que pouco ou nada acrescentam ao argumento principal, assim perdendo a oportunidade de desenvolver melhor os perfis dos protagonistas. 

Costumamos dizer que Keaton sempre recicla o mesmo tipo de papel e aqui não é diferente, verborrágica ao extremo e até um pouco neurótica com o problema da cachorrinha, e Freeman em seus últimos trabalhos parece estar seguindo a mesma linha repetindo o perfil do idoso de fala mansa, reflexivo e sábio. Embora nos simpatizamos com seus personagens, muito por conta dos flashbacks que apresentam o início e desenvolvimento do relacionamento, os protagonistas se esforçam, mas a própria narrativa gera limitações. Sabemos que Alex é pintor, especialista em retratos que não vendem como antigamente, mais um sinal que parou no tempo, enquanto Ruth aparentemente se acomodou como dona-de-casa. O casal enxerga na troca de endereço um novo objetivo de vida e até mesmo uma forma de enaltecer a união, visto que a mudança traria um gostinho de recomeço. É pouco para nos envolvermos com o dilema do casal que teria outras frentes a serem trabalhadas como o estado de saúde já abalado de Alex ou o fato de formarem um casal interracial, o que certamente ainda geraria algum tipo de preconceito. 


Ruth e Alex poderia ainda seguir o tom de uma comédia rasgada com os protagonistas fazendo de tudo para lucrarem alto com a venda de seu patrimônio, ao menos o filme teria o objetivo claro de fazer rir. De qualquer forma, o diretor Richard Loncraine, de Wimbledon - O Jogo do Amor, oferece diversas possibilidades ao longo do filme para incentivar o espectador a sentir identificação ou se emocionar com seus protagonistas, mas não fecha nenhuma ideia lançada de maneira satisfatória. A obra acaba se valendo mais pelo carisma e talento de seus astros que nos fazem acreditar em um casal de verdade vivendo um período conturbado de suas vidas. Produção simpática e nada além disso.

Drama - 93 min - 2014

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