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segunda-feira, 1 de novembro de 2021

NÃO É MAIS UM BESTEIROL AMERICANO


Nota 6 Parodiando comédias e romances teens de sua época, longa é datado, mas ainda diverte


Custando uma ninharia e faturando alto, muito alto, Todo Mundo em Pânico nasceu da ideia de tirar sarro de filmes de terror e de quebra parodiar outros sucessos de sua época. Não demorou muito para produtores despertarem interesse por esse tipo de enredo que é um risco visto que a pecha de datado é inevitável e depende do repertório cinematográfico de quem assiste para as piadas fazerem sentido. Não raramente, estar por dentro de fofocas e escândalos de celebridades também é necessário para dar boas risadas. Não é Mais um Besteirol Americano, uma brincadeira em cima de comédias voltadas ao público adolescente, hoje pode não ter o mesmo impacto de humor que prometia, porém, surpreendentemente conta com algumas boas sacadas, como a inserção de um número musical com as entonações e coreografias calcadas no exagero do exagero. 

 A trama principal, parodiando o hoje cult Ela é Demais, tem como protagonista Janey Briggs (Chyler Leigh), uma estudante de um tradicional colégio para riquinhos e metidos, mas quem não segue um padrão estético definido automaticamente é marginalizado. É bem o caso. Mal vestida, com óculos chamativos e um rabinho de cavalo broxante, ela não tem muitos amigos e sonha em se tornar uma famosa artista plástica. Sem querer ela acaba entrando na mira de Jake Wyler (Chris Evans), o bonitão do colégio que aposta com os colegas que conseguirá transformar a garota mais feia do pedaço na rainha do baile de formatura. Enquanto isso, o time de futebol americano dos estudantes, liderado pelo próprio Jack assumindo o lugar do capitão Reggie Ray (Ron Lester), seu melhor amigo que corre risco de vida após um suspeito acidente, está enfrentando problemas no campeonato que estão disputando por despreparo do novo líder, a desculpa perfeita para as líderes de torcida darem aquela forcinha se exibindo em minúsculas roupas e em coreografias sensuais para os rapazes, como a piriguete Priscilla (Jaime Pressly).


Acompanhando de perto os agitos, temos Areola (Cerina Vincent), uma aluna de intercâmbio gostosona que adora andar nua, e Malik (Deon Richmond), o gordinho aloprado que toda turma tem que ter. Assim como eles, muitos outros estereótipos batem ponto. Tem o garoto sensível, a menina perfeita, o loiro metido, o nerd que quer ser descolado, o carinha louco para deixar de ser virgem, o negro que só fala gírias... Para intensificar a brincadeira os roteiristas Mike Bender, Adam Jay Epstein, Andrew Jacobson, Phil Beauman e Buddy Johnson agregam alguns personagens escolhidos a dedo para homenagear fitas da época como Nunca Fui Beijada. Sadie (Beverly Polcyn) é uma repórter digamos um tanto madura que está fazendo uma pesquisa de campo sobre o amor na adolescência e se faz passar por colegial. A velhinha recatada é a dona de uma das melhores piadas quando recria a cena do beijo lésbico que marcou Segundas Intenções. Catherine (Mia Kirshner) se diverte com jogos maliciosos e não se faz de rogada em ensinar a idosa virgem a beijar de língua e também é a responsável por manipular o meio-irmão Jake, por quem é apaixonada, na tal brincadeirinha da conquista do patinho feio. Nem o premiado Beleza Americana escapa da paródia. Les (Riley Smith) é o esquisitão que está sempre na cola da pessoas dando uma de voyeur com sua câmera. 

Oriundo da TV, o diretor Joel Gallen demonstra boa cultura cinematográfica, pena que algumas homenagens certamente não façam sentido algum ao público-alvo, como batizar o nome do colégio de John Hughes, o maior realizador de filmes adolescentes de todos os tempos, e a participação no final da atriz Molly Ringwald, do clássico A Garota de Rosa Shocking, a rainha do gênero na década de 1980.  A nostalgia continua com lembranças à Gatinhas e Gatões e O Clube dos Cinco, mas o foco era zoar com os sucessos fresquinhos da época, como a introdução que evoca American Pie e o personagem de Evans com toda pinta de galã que marcava as interpretações de Freddie Prinze Jr., hoje esquecido, mas que um dia já foi o crush de muitas garotas.  O leque de opções para inspiração era enorme e Não é Mais um Besteirol Americano até que cumpre bem sua proposta e reúne o máximo possível de citações, mas é uma pena que Gallen apele para o escracho e a escatologia para causar risos. Todavia, será que realmente é divertido ver um vaso sanitário explodir e uma pessoa literalmente tomar um banho de excrementos? Cenas como essa automaticamente rotularam a produção como um verdadeiro besteirol e afastou o público que também se sentiu desmotivado pelo título tolo.


Nem no gosto dos americanos o filme caiu, o que limou a possibilidades de continuações, embora material para tirar um sarro nunca fosse faltar. É curioso que mesmo sendo uma criação de cinco roteiristas as piadas e citações passam longe de parecerem desconjuntadas, pelo contrário, tudo é bem amarradinho e com o auxílio de uma boa edição a diversão se torna ainda maior e contribui para classificar como uma obra acima da média dentro do subgênero que se enquadra. O interesse fica mesmo por conta de saber identificar de onde tal cena ou personagem foi garimpado, afinal os temas e clichês já são tão surrados que pouco resta para render uma piada de qualidade. Perder a virgindade, o amor entre perfis completamente opostos, sonhar com o príncipe encantado, mudar a personalidade para ser aceito dentro de um grupo, entre outros tantos temas pertinentes ao universo teen dificilmente poderão vir a surpreender o espectador. Todos eles já ganharam as mais diversas abordagens e até mesmo serviram para paródias antes mesmo deste filme. De qualquer forma, é um exemplar do estilo que merece atenção e que nos faz acreditar nesta vertente. Pena que depois se pesquisarmos mais sobre o estilo vamos relembrar lixos como Os Vampiros Que se Mordam, Espartalhões, A Saga Molusco...

Comédia - 89 min - 2001

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