Nota 8,0 Fita espanhola prende atenção com trama sobre questionamentos morais, culpa e desejo
Já faz algum tempo que o cinema espanhol é considerado o berço do horror, tanto que Hollywood rapidinho começou a assediar diretores e roteiristas espanhóis que ganharam fama com suas produções de terror e suspense ou até mesmo passou a financiar projetos estrangeiros do estilo. Guillermo Del Toro sem dúvida é o nome de destaque dessa onda graças a seu trabalho não só de direção, mas principalmente como produtor, e assim bons produtos com sotaque latino conseguiram distribuição em outros países. O caminho foi aberto para tantos outros realizadores, entre eles muitos jovens talentos que com orçamentos enxutos e muita criatividade lançam pequenas jóias, como é o caso de O Cadáver de Anna Fritz. Interpretada por Alba Ribas, a mulher do título (fictícia, fique bem claro) foi uma jovem e bela atriz que teve uma carreira curta, porém brilhante e os mais conceituados cineastas do mundo todo desejavam trabalhar com ela, trunfo que poucos tiveram o privilégio. Sua morte prematura e repentina inevitavelmente acabou virando notícia de destaque e aguçou a curiosidade de muita gente. Pau (Albert Carbó) trabalha no hospital em que o corpo dela foi levado para autópsia, mas antes que o médico legista a veja ele não resiste e a fotografa nua para enviar as imagens aos amigos Javi (Bernat Saumell) e Ivan (Christian Valencia). Drogados e inconsequentes, os rapazes correm para a clínica e ficam extasiados com a beleza da atriz. É quando Javi tem a péssima ideia de realizar um mórbido fetiche: transar com o cadáver. Pau, mais sensato e tímido, tenta resistir a tentação, mas acaba também praticando necrofilia e no clímax da relação é surpreendido por algo inimaginável e que vai transformar a noite deles em um verdadeiro pesadelo.
Escrito e dirigido pelo catalão
Hèctor Hernández Vicens, estreando em cinema, não se trata de uma fita de
temática sobrenatural e sim um intrigante e claustrofóbico thriller a respeito
de medo, culpa e desejo reais, instintos primitivos que colaboram para
despertar o que há de pior no ser humano em situações limites. Para quem procura
sustos fáceis o filme deve decepcionar por seguir uma linha mais alternativa
investindo em uma narrativa onde diálogos, olhares e expressões injetam
apreensão ao espectador que fica vidrado para saber como esta noite angustiante
vai acabar. Pelo fato do grande trunfo do roteiro ser revelado antes mesmo da
metade do filme, diga-se de passagem, relativamente curto, Vicens não faz
rodeios e vai direto ao ponto. Apesar de a trama não ser complexa, o diretor a
desenvolve de maneira cadente e a certa altura quem assiste se sente na pele
dos personagens e se perguntando o que faria se vivenciasse a mesmo situação. É
interessante que os protagonistas apresentam visões bastante distintas quanto a
moralidade sobre o episódio, tanto antes quanto depois da violação do cadáver.
Um deixa latente seu caráter imoral e tem poder de persuasão para convencer os
demais a repetirem seus atos. Os outros dois sabem distinguir o que é certo e
errado e demonstram sensibilidade, embora um deles acabe ignorando a razão a
favor de seu próprio desejo, mas mais do que isso como se compactuar com o ato
ilícito fosse a prova necessária para ser aceito pelo líder natural do grupo. O
trio então acaba entrando em um perigoso jogo de ações e intenções onde cada um
tenta fazer valer a sua vontade enquanto o medo da dúvida perturba suas mentes.
Com baixo orçamento, elenco enxuto e basicamente um mesmo cenário e ação
transcorrida em um curto espaço de tempo, por si só fatores já bastante
limitadores para uma narrativa idem, O Cadáver de Anna
Fritz é mais uma prova de que o cinema espanhol é o atual
celeiro das fitas de horror e suspense. Certamente, não vai demorar para
Hollywood correr atrás de Vicens para sugar seu talento e criatividade. Se isso
acontecer tomara que consiga fugir das amarras da indústria ianque e continuar
com seu estilo autoral de fazer filmes: minimalista e reflexivo, mas ainda
assim intrigante e angustiante.
Eu ainda não assisti, mas pretendo procurar. Gostei das impressões sobre a obra. Também concordo sobre a criatividade e a força de algumas fitas de horror e suspense espanhol contemporâneas.
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