NOTA 8,0 Segunda aventura do pequenino e inventivo garoto francês mantém a graça e a leveza, mas erra levemente ao dar espaço maior aos adultos |
Depois de muitas viagens para o
campo, o patriarca decide que no próximo verão o passeio em família terá como
destino o litoral. Antes de partir Nicolau se despede de Marie Edwiges (Chann
Aglat), por quem acredita estar completamente apaixonado a ponto de sofrer
antecipadamente pela distância que irá separá-los por um curto espaço de tempo.
Ele promete escrever-lhe uma carta por dia, porém, já na praia, uma outra
garota atravessa o seu caminho, ou melhor, surge feito uma assombração e passa
a persegui-lo. Seu pai reencontra no hotel um velho amigo que tem uma filha,
Isabelle (Erja Malatier), e por um mal entendido o garoto passa a acreditar que
será forçado a se casar com ela. O primeiro encontro entre eles é uma divertida
sequência que remete ao clássico suspense O
Iluminado. Boa parte da narrativa é dedicado aos planos de Nicolau junto aos
novos amigos que faz no resort de impedir o casório. O grupo mais uma vez
reforça estereótipos tendo um representante metido a valentão, outro a
intelectual, um guloso e por aí vai. Todavia, as atenções são divididas com os
dilemas vividos pelo pai do menino. Além de se preocupar com os altos custos da
viagem, ele ainda vive os típicos problemas de relacionamento entre genros e
sogras e tem que driblar o ciúmes que sua esposa sem perceber lhe desperta.
Dona Mémé (Dominique Lavanant) embarca de mala e cuia no passeio para
infernizar o pai de Nicolau com suas manias, intromissões e, principalmente com
seu ronco a noite. Enquanto isso a mãe do garoto cai nas graças de um diretor
de cinema italiano (Luca Zingaretti) que está rodando um filme na região e
infernizando a vida dos turistas com seu jeito exagerado de ser. O flerte entre
eles não convence pela rapidez que é orquestrado, mas serve para evidenciar o
desgaste do casamento dos pais do protagonista cujo universo e perfis ficaram
em segundo plano na fita anterior.
Assinada pelo próprio diretor em
parceria com Jaco Van Dormael e Grégoire Vigneron, a trama é estruturada em
episódios que de certa forma demarcam o início e o fim de certas situações,
sempre preservando a ingenuidade de Nicolau combinada a certa dose de cinismo
em seus comentários, sejam verbais ou em pensamentos, a respeito do mundo dos
adultos. Ele continua levando ao pé da letra tudo que escuta, vide a cena em
que imagina como seria a sua avó enterrando a todos, por exemplo. Não se trata
apenas de uma criança engraçadinha fazendo caras e bocas. O menino tem
necessidade de ser notado e para tanto faz uso de seu carisma e espontaneidade.
Se é possível se derreter com tais características com as crianças de hoje em
dia, imagine então o prazer de se deliciar com o resgate de uma infância perdida
através do universo do protagonista, sempre temeroso quanto ao seu futuro. Com
ação situada em meados da década de 1950, a reconstrução do clima da época
torna-se fundamental. Trilha sonora, cenários e figurinos despertam memórias
afetivas nos espectadores mais maduros e atiçam a curiosidade dos mais jovens e
o colorido marcante da estreia de
Nicolau nos cinemas aqui ganha o reforço do brilho e temperatura das paisagens
praianas, mais especificamente dos belos cenários da Ilha de Noirmoutier. As Férias do Pequeno Nicolau é tão bom quanto
seu precursor, mas como toda sequência não escapa de questionamentos e
comparações. Não devem faltar quem assuma ligeiro desapontamento com esta fita,
muito por assumir de vez o caráter de entretenimento descompromissado,
apostando quase que unicamente em brincadeiras e deixando possíveis reflexões e
críticas de lado. O clima nonsense permeia toda produção e não é a toa que o
clímax ganhe um toque de terror com direito a um casarão abandonado e que some
diante dos nosso olhos como se por magia. Apesar de mais fantasioso e
anárquico, esta é uma excelente e singular opção para um programa em família e
a chance para muitos reverem seus conceitos sobre o cinema europeu. Quem disse
que filme francês é chato?
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