NOTA 9,0 Produção francesa é uma excelente e delicada opção para agradar a todas as idades resgatando o humor ingênuo |
Já faz algum tempo que os filmes infantis deixaram de ser bobinhos para agradar também aos pais das crianças. A indústria de cinema americana cada vez mais capricha na produção de animações com piadas e situações que conquistem também os adultos, mas ainda não consegue as mesmas proezas quando quer contar uma história infantil com elenco e cenários reais. Hollywood poderia mirar então no exemplo do diretor Laurent Tirard e sua produção francesa O Pequeno Nicolau, uma fita simples, ingênua e divertida como há muito tempo não se via. A história se passa na França da década de 1950 e gira em torno do tal garoto do título. Interpretado com muita desenvoltura pelo estreante Maxime Godart, excepcional e muito cativante, o menino leva uma vida tranquila, é muito amado por sua mãe (Valérie Lamercier) e por seu pai (Kad Merad) e tem diversos amigos, com os quais se diverte um bocado. Tudo vai bem até que um dia ele houve uma história sobre irmãos mais novos que o assusta. A partir de então, o menino passa a prestar atenção no comportamento de seus pais e se surpreende. Ele acredita que sua mãe está grávida e logo entra em pânico, pois acha que assim que o bebê nascer ele não receberá mais atenção. A paranóia aumenta quando sua mãe o convida para um passeio, pois tem certeza que será abandonado na floresta. Para escapar desse terrível destino, Nicolau faz de tudo para mostrar aos pais o quanto é indispensável e, por tentar agradá-los demais, acaba cometendo vários tropeços o que faz com que eles fiquem enfurecidos. Desesperado, ele muda de tática e, com a ajuda de seus amigos desastrados, bola diversos planos para achar uma solução para seu problema. É essa ingenuidade em lidar com um medo tão comum entre as crianças que faz a fita prender a atenção.
Filmes que abordam a maneira ingênua com que as crianças percebem os acontecimentos do mundo adulto geralmente tocam fundo e conquistam de imediato a atenção do público. Esta produção francesa é baseada na obra "Le Petit Nicolas", uma série de livros escrita por René Goscinny e ilustrada por Jean-Jacques Sempé. Foram apenas cinco publicações lançadas entre 1956 e 1964, mas o suficiente para colocarem o personagem-título na lista dos mais famosos e influentes da literatura da França. A adaptação cinematográfica é extremamente agradável e simpática, muito graças à simpatia do elenco infantil que atua com graça e naturalidade. A opção pelo caminho do humor até difere este título de tantos outros que lançam crianças em um turbilhão de dramas adultos e por isso se torna uma excelente opção para assistir com toda a família. Tirard fez uma obra que nos deixa com um sorriso no rosto do início ao fim, provoca algumas boas gargalhadas, nos emociona e de quebra levou para o cinema memórias que certamente fizeram parte de sua infância usando talvez como alter ego o garoto Nicolau. Os anseios, temores, sonhos e inocência de um menino da ainda recatada metade do século 20 ganharam uma perfeita encarnação. É interessante também a boa construção dos demais personagens. O pai de Nicolau adora contar vantagens, a mãe é superprotetora e o mima demais e seus amigos formam um panorama da camada infantil daquela época que não difere muito de hoje em dia, salvo o apreço por tecnologias e novidades obviamente. Tem um que estuda demais, outro que não gosta de pegar no caderno, o que é comilão e o briguento da turma. Existem coisas que o tempo não muda. E o protagonista, por sua vez, fica em cima do muro entre a infantilidade e o amadurecimento a partir do momento que desconfia da chegada de um irmãozinho. Ele tem a vontade de um adulto para impor sua presença, mas seus planos para tanto são dignos de um ser que ainda tem muito a aprender nesta vida.
O grande trunfo do longa é não cair na armadilha de fazer um filme adulto sobre o universo infantil, mas se concentrar em passar a percepção de todos os acontecimentos pelos olhos dos pequenos, como se o roteiro fosse escrito por eles mesmos, mas ao mesmo tempo as mesmas situações são apresentadas pela ótica dos mais velhos, assim são duas histórias que caminham paralelamente criando interessantes contrapontos. É bom enfatizar que o cinema europeu trata as crianças de forma peculiar. Hollywood, salvo algumas exceções, se preocupa em fazê-las ficarem tão engraçadinhas e fofinhas que o resultado fica artificial e em alguns casos beira o ridículo. Já os europeus tratam os personagens infantis com mais complexidade e os encaixam de forma mais verossímil nos enredos, inclusive com maior carga dramática. Tirard não investe em chororô, mas aposta um humor levemente crítico para tentar passar a percepção infantil quanto ao universo dos adultos. Existe até o cuidado em posicionar a câmera geralmente de baixo para cima para evidenciar a visão de uma criança, assim tudo parece maior do que realmente é, inclusive os problemas. E também há de se destacar o colorido dos cenários e figurinos, tudo perfeitamente encaixado na proposta e sem ser extravagante. Para quem se aventurar nesta comédia sem saber de suas origens, provavelmente pensará que ela é americana devido ao capricho de produção e ritmo perfeito da história. Se você é um daqueles que nem deseja ouvir falar em um filme oriundo da França, está na hora de rever seus conceitos e ver que o cinema de lá não é feito apenas de lamentações, contemplações ou histórias românticas e dramáticas. A distribuidora Imovision, especializada em trazer ao Brasil produções de todos os cantos do mundo preservando seu áudio original, teve o cuidado de dublar O Pequeno Nicolau para atingir o público infantil, com o qual ela ainda não tem intimidade, mas a obra também pode ser apreciada com legendas e idioma francês. Excelente programa para uma sessão da tarde com toda a família.
Comédia - 91 min - 2009
Adorei o roteiro, saboroso e na medida certa entre inocência e malícia. Humor, drama e até sarcasmo.kkk
ResponderExcluirBela opção para quem não assistiu.
Realmente a maneira ingênua das crianças perceberem o mundo real, como você comenta na sinopse, é bonito. Recentemente assisti ao filme "o garoto do pijama listrado". história diferente mas me parece ser o mesmo contexto em relação à esse filme.
ResponderExcluirValeu pela dica.
Abraço e bom feriado.
Adorei o filme, achei divertido, charmoso e encantador! Renato Cinema ai de cima, nos apresentou o Blog! Estamos seguindo!
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