Nota 7,0 Cinebiografia de pensador enfoca sua infância que de tão triste soa como algo surreal
Se você gosta de deixar a emoção
aflorar e não tem vergonha de cair no choro ou ao menos se permitir sentir um
nó na garganta, Romulus, Meu Pai é um prato
cheio. Baseado nas memórias do filósofo e escritor Raimond Gaita, o longa
resgata sua difícil infância através das lembranças de sua conturbada vida em
família. O ator-prodígio Kodi Smit-McPhee emociona com sua naturalidade,
vivenciando cenas fortes e dramáticas, entretanto, como o título deixa claro,
sempre evidenciando seu amor incondicional pelo pai, Romulus (Eric Bana), um
pobre coitado que vive em um lugar isolado da Austrália e que vez ou outra
recebe a visita de Christina (Franka Potente), a mãe do garoto. Ela abandonou a
família para viver com Mitru (Russell Dykstra), que era ninguém menos que o
melhor amigo de seu ex-marido. Todavia, Hora (Marton Csokas), irmão do pivô da
separação do casal, está sempre por perto para ajudar esses dois vértices
familiares da maneira que pode. Apesar da traição, essas pessoas tentam
conviver pacificamente, passam relativamente bastante tempo juntos, mas as
coisas complicam quando a ex engravida de seu novo companheiro. Para quem acha
que até aqui o roteiro já é suficientemente trágico, saiba que essa é a parte
boa da história. A chegada de uma criança faz com que Christina mude seu
comportamento radicalmente e passe a sofrer de depressão. Mitru também se
desilude com o casamento ao passo que Romulus começa a se interessar pela ideia
de refazer sua vida ao lado de uma nova mulher. Enquanto isso, o pequeno Raimond
precisa conviver com a rígida moral imposta por seu pai e com a negligência por
parte de sua mãe, mas o destino ainda guarda surpresas desagradáveis para essa
família nada convencional para os padrões da década de 1960. Como desgraça
pouca é bobagem, não basta apenas a separação dos pais para o pequeno se
preocupar. Uma overdose de acidentes e tragédias ocorrem durante a narrativa e
impressiona como uma criança conseguiu vivenciar a tudo isso e ainda assim
manter-se bem psicologicamente e ser o único alicerce em bom estado deste
fatigado clã.
Geralmente dramas envolvendo
crianças facilmente levam o espectador as lágrimas, ainda mais quando elas
estão de certa forma sozinhas no mundo. Neste caso o garoto convive com seus
parentes, mas ainda assim é muito solitário ao mesmo tempo em que é o mais
sensato entre seus familiares apesar da pouca idade. O longa tem direção do
ator Richard Roxburgh, mais conhecido como o duque traído de Moulin Rouge - Amor em Vermelho. Foram
sete anos acalentando o projeto, mas de certa forma valeu a pena a
persistência. Ele fez sua estreia atrás das câmeras com o pé direito
demonstrando muita sensibilidade em um trabalho marcado por vários momentos
silenciosos e uma paisagem árida e desoladora, um convite e tanto para a
reflexão, o que talvez tenha ocorrido com Raimond e contribuído para torná-lo
um renomado pensador. Roxburgh baseou-se no livro de memórias homônimo do
escritor para resgatar detalhes de sua infância sofrida e cheia de percalços. A
obra sustenta que aquele franzino garoto criado na roça não chegaria a lugar
nenhum sem o apoio do homem que cuidou dele e acreditou que o futuro do filho
poderia ser diferente e melhor que o seu. Embora não tenha tido uma educação
privilegiada, tudo que Raimond vivenciou de bom ou de ruim o ajudaram a desenvolver-se
intelectualmente e em seu amadurecimento, provando que as experiências de vida
são de suma importância para definir o caráter ou apontar o futuro
profissional. O roteiro do então estreante Nick Drake privilegia a relação
entre pai e filho, mas a figura da mãe é indispensável, afinal é graças a seu
temperamento problemático que começam a ser desenvolvidas as situações
conturbadas que envolvem os homens desta família. Apesar do ritmo arrastado, Romulus, Meu Pai é um drama cujo maior mérito
é enfatizar o quanto uma boa e equilibrada educação pode fazer a diferença no
desenvolvimento de uma criança. Raimond não frequentou renomados colégios, foi
praticamente ignorado pela mãe e cresceu vendo o sofrimento do pai que preferia
ser pacífico diante dos tantos golpes que a vida lhe deu. Essa é a grande lição
que ele deixou a seu filho que tratou de levá-la adiante através de seus
escritos no futuro.
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