NOTA 1,0 Longa simplesmente não tem conteúdo, sendo apenas um veículo para Ashton Kutcher exibir seu físico |
Às vezes podemos nos perguntar
por onde anda aquele ator ou atriz do passado que fazia tanto sucesso e sumiu
de repente? Em alguns casos é fácil decifrar o enigma. Tal pessoa chamava a
atenção por sua beleza ou talento? Ganhou fama trabalhando em um mesmo tipo de
filme ou se aventurou por diversos gêneros? Seus fãs se concentravam em uma
mesma faixa etária ou ele agradava pessoas dos 8 aos 80 anos? Se a resposta
para todas as perguntas foram a primeira opção dada pode ter certeza que este
profissional teve a elegância de abandonar a carreira antes das críticas o
assolarem ou o próprio mercado tratou de aposentá-lo precocemente. Tais casos acontecem
frequentemente com jovens atores. Só para citar alguns casos recentes, onde
estão Freddie Prinze Jr., Hilary Duff, Julia Stiles, Sarah Michelle Gellar,
Ryan Philipe e tantos outros? Ok, eles podem fazer um ou outro filme de vez em
quando, mas estão longe da fama de outrora e suas carreiras não podem ser
comparadas, por exemplo, a de Jennifer Aniston que envelhece e continua firme
nas comédias românticas e repetindo o mesmo tipo de papel. Existem pessoas que
ficam marcadas por determinado gênero ou tipo de personagem e isso pode
trabalhar contra a sua trajetória profissional ou raramente a seu favor como é
o caso de Ashton Kutcher. Embora o ator tenha protagonizado o cultuado Efeito Borboleta e o bom longa de
aventura Anjos da Vida – Mais Bravos que
o Mar, sua imagem de garotão que só quer saber de aproveitar as coisas boas
da vida e ter o mínimo de compromisso possível com o trabalho ou
relacionamentos pessoais ainda impera. Apesar de alguns projetos em que repete
tal papel serem bacaninhas, como Jogo de
Amor em Las Vegas e Sexo sem
Compromisso, talvez a repetição dê certo pelo carisma do ator que casa bem
com o estilo descompromissado destas comédias. O problema é quando ele quer que
esse Peter Pan de hormônios à flor da pele seja levado a sério como no caso de Jogando
com Prazer. Para quem não gostava de Kutcher, este drama (ou pornô
soft, dependendo do ponto de vista) era o que faltava para odiá-lo
definitivamente.
Kutcher interpreta Nikki, um
rapaz que se acha o máximo, tem sempre uma teoria para tudo e resume a vida em
um jogo muito simples: ou você caça ou será caçado. Logo no início do filme o
protagonista já se define como um bon vivant que foi para a Califórnia com o
objetivo de viver plenamente o sonho da vida fácil. Ele sabe que sua beleza, juventude
e lábia são suas melhores armas para conseguir o que quer. Suas noites ele
passa sempre fora de casa (se é que vive realmente em uma própria) frequentando
as festas mais badaladas de Los Angeles nos melhores clubes e mansões e nunca
sai de uma sem estar acompanhado de uma bela ricaça, isso se ela não for a
própria dona do local do evento. Em busca deste estilo de vida privilegiado e
ao mesmo tempo devasso, Nikki seduz principalmente mulheres maduras que não
resistem a sua auto-confiança, um atributo que somado aos demais transformam o
personagem em alguém tão antipático e desinteressante que fica difícil se
envolver com o enredo a partir de então, ou seja, o filme se resume a nada
desde o primeiro minuto, apenas um veículo para Kutcher desfilar seu charme e
fazer a mulherada delirar com boa parte do seu corpo à mostra. Não é a toa que
o longa foi bancado por sua própria produtora. Mas voltando ao enredo, Nikki
passa a ser sustentado pelas mulheres e todo seu ritual de conquista é
compartilhado com o espectador em tom de confissão, como se fosse um manual de
dicas para se dar bem em vários aspectos de sua vida, principalmente a arte da
pegação, não do amor. Sua última conquista, a advogada quarentona Samantha
(Anne Heche), deu finalmente a vida que ele sempre sonhou sem faltar um item
sequer, porém, ao mesmo tempo o galã oportunista sente pela primeira vez que
está apaixonado de verdade por alguém. O problema é que essa mulher não é a que
lhe banca, mas sim uma garçonete, Heather (Margarita Levieva), esta que também
é adepta de uma vida de mordomias, mas que em troca só pode oferecer o prazer
do sexo. Assim as regras do jogo mudaram
e talvez de forma desfavorável para o Don Juan moderninho. Para estes dois
jovens um momento decisivo chegou em suas vidas. O que vale mais a pena: ter
dinheiro, status e tantos outros prazeres ou viver um amor de verdade com todos
os seus benefícios e predicados?
O roteiro do então estreante
Jason Dean Hall é baseado em um bom argumento, mas seu desenvolvimento
compromete a obra como um todo. Extremamente frágil, a narrativa não consegue
se sustentar sem apelar para cenas e diálogos que beiram o constrangedor,
incluindo trocas de parcerias e vocabulário vulgar, e nem mesmo um clima
sensual a produção carrega, forçando em diversos momentos para um lado mais
erotizado. Os personagens não são nada carismáticos e é possível chegar a um
ponto em que passamos a torcer para que as coisas na vida deles desandem. Eles
passam uma ideia, ou provavelmente a realidade muito distante da maioria da
população mundial, de que a vida de todos os bem nascidos ou endinheirados é
fútil, sem sentido e ostentação e luxúria são as palavras de ordem.
Infelizmente também é duro constatar que tem gente que sonha com esse mundo
frio e não vê limites para conseguir fazer parte dele. Não há como simpatizar
com um personagem como Nikki que pode não fazer mal a alguém tal qual um
criminoso que empunha uma arma, mas de qualquer maneira é um golpista assumido
que na melhor das hipóteses maltrata a si mesmo. O diretor David Mackenzie, de Paixão sem Limites, um drama de época no
qual a sedução também é ingrediente fundamental, mas bem menos latente que em Jogando
com Prazer, fez este trabalho da forma mais superficial possível, assim
não envolvendo o espectador que passa a acompanhar uma narrativa arrastada e
desinteressante de forma passiva. A história só melhora um pouco quando o tal
jogo de sedução do protagonista é invertido e as portas começam a se fechar
para este “michê” não assumido, mas isso não é o bastante para compensar os
outros tantos minutos de cenas chatas e apelativas. Até na concepção de
cenários, escolha de locações, tipo de iluminação, enquadramentos, enfim parece
que até a parte técnica contribui para dar a esta obra um tom extremamente
impessoal. É difícil criticar de forma tão árdua um filme, pois fazer um
produto do tipo é complicado e envolve o trabalho de muitas pessoas, mas tem
casos que não dá para aliviar. Tentando dar uns toques dramáticos e de
maturidade ao velho enredo das comédias adolescentes do garanhão do colégio que
só toma jeito quando se apaixona de verdade, no fundo esta produção só é
recomendada mesmo às fãs incondicionais de Kutcher que não está mal no filme,
mas interpreta um tipo que não acrescenta nada de bom ao seu currículo, assim
como perder tempo com tal bobagem não trará benefício algum para a vida de
ninguém.
Drama - 97 min - 2009
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Este espaço está aberto para você colocar suas críticas ao filme em questão do post. Por favor, escreva o que achou, conte detalhes, quero saber sua opinião. E não esqueça de colocar a sua avaliação do filme no final (Ruim, Regular, Bom ou Excelente).