Nota 8,0 Drama de época traz à tona a eterna rixa entre o compromisso religioso e o prazer
Franco Zefirelli é um diretor que divide a crítica. Já foi
muito elogiado pelas transposições para o cinema de peças de Shakespeare e até
de famosas óperas, porém, também é muito execrado por causa do forte
sentimentalismo presente em seus trabalhos. Ao contrário da fama da maioria dos
cineastas europeus o italiano não busca exatamente fazer uma obra de arte com
seus filmes, apesar de que o resultado geralmente seja próximo, mas busca fazer
um cinema explicitamente mais comercial. Partindo de histórias clássicas que
permitam que os personagens transitem em cenários de encher os olhos e vistam
belos figurinos, o diretor procura sempre se cercar de um elenco de fora do
território italiano visando que suas produções obtenham êxito em qualquer lugar
que forem exibidas. Várias delas são de fácil acesso em lojas e locadoras,
desde uma antiguidade como Irmão Sol, Irmã Lua até mais recentes como Chá
com Mussolini, mas, infelizmente, algumas foram esquecidas, como, por exemplo, Sonho
Proibido escrito pelo próprio diretor em parceria com Allan Baker. Baseado no
romance "Storia de una Capinera", escrito por Giovanni Verga e
publicado originalmente em 1870, a história se passa na Sicília, na Itália, em
uma época em que uma epidemia de cólera ameaçava as vidas de todos os
habitantes do local. Por ordem superior, as noviças também eram obrigadas a
abandonar o convento e retornar para as casas de suas famílias até que não
existisse mais o risco de ninguém contrair a doença. Maria (Angela Bettis) é
uma destas jovens. Ela vive com as madres desde quando era criança. Para
Mathilde (Sinead Cusack), sua madrasta, a volta repentina da enteada não é bem
vista, pois ela teme que as tentações do mundo desviem as atenções da moça do
caminho que ela estava seguindo até então. Realmente, é muito difícil alguém
conseguir se manter afastado da rotina de uma região quando não se está
enclausurado, assim, a noviça passa a viver intensamente o cotidiano do
vilarejo onde sua família reside e acaba despertando a atenção de um rapaz,
Nino (Jonathon Schaech).
Com a convivência, os jovens acabam se apaixonando, mas Maria
não se sente feliz. Sabendo que deverá voltar para o convento para honrar seu
compromisso com a religião, ela fica angustiada, pois já não está certa se é
isso que quer de verdade para sua vida ao mesmo tempo em que tenta evitar os
cortejos de Nino. De acordo com a educação que teve, o rapaz deve ser a
tentação colocada em sua vida para testá-la. Ao retornar para o
convento quando o perigo da epidemia cessa, Maria recebe a incumbência de
cuidar da Irmã Agatha, interpretada por Vanessa Redgrave em rápidas aparições,
uma freira que enlouqueceu por causa do amor. Pouco tempo depois, ela presencia
de longe o casamento de Nino com sua meia-irmã Giuditta (Mia Fothergill). Vendo
o homem que ama construindo uma história de amor ao lado de outra e tendo como
exemplo o triste destino da madre idosa, a moça se rebela contra o caminho que
sua família lhe traçou e foge, indo pedir abrigo justamente na moradia do casal
recém-formado. O roteiro um tanto novelesco não foi um problema para
Zeffirelli, já que ele sempre gostou de impor em seus trabalhos uma forte carga
sentimental. Aqui o tema ganha um reforço pelo lado psicológico da história. Apesar
da tônica romântica, há também fortes traços dramáticos ao impor à protagonista
o dilema de escolher entre desonrar seu compromisso com Deus e ser feliz ou
aceitar as imposições da vida na clausura simplesmente para não envergonhar
seus parentes. Além do interessante viés, o roteiro ainda retrata o cotidiano
do povo siciliano, um elemento muito importante na obra que originou o filme. A
reconstituição de época, muito detalhista, prepara o terreno para o drama que é
desenvolvido de forma previsível e ganha reforço com a bela fotografia e trilha
sonora escolhida a dedo para tocar corações. Talvez se tivesse adotado um tom
mais intimista e menos melodramático o diretor alcançaria um resultado mais
interessante e consequentemente mais marcante. Apesar de todo o empenho em seus
trabalhos, Zeffirelli não é um nome muito lembrado atualmente, assim não é de
se estranhar que Sonho Proibido não tenha sobrevivido a ação implacável do
tempo, mas se o amor clássico de uma história como a de Romeu e Julieta nunca
sai de moda, sempre há esperanças de que outros belos romances ganhem
sobrevida.
Drama - 102 min - 1993
Drama - 102 min - 1993
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