Nota 1,0 Título indica uma grande obra acerca do espiritismo, mas longa revela-se um pastiche
Há títulos que enganam
facilmente.
Quando os Mortos Falam é um bom exemplo. Ele desperta a
curiosidade para temas espíritas e aparentemente promete esclarecimentos a
respeito dos mistérios que rondam as supostas comunicações entre vivos e
mortos. Contudo, não é preciso nem dez minutos de filme para nossas
expectativas irem por água abaixo. Com direção de Stephen Kay, do sonolento
O Pesadelo que também promete bem mais
do que cumpre, o longa é daqueles perfeitos para quem sofre de insônia e busca
qualquer coisa nas sessões coruja da TV. Totalmente esquecível. Emily Parker
(Anne Heche) é uma bela advogada de sucesso que conhece Billy Hytner (Jonathan
LaPaglia) em um café. Logo ela descobre que o rapaz é o mais novo sócio do
escritório em que trabalha, um sinal de que seu repentino interesse por ele teria
uma mãozinha do destino. Os roteiristas Jennifer Hoppe, Mark Kruger e Nancy
Fichman levam ao pé da letra a expressão do amor à primeira vista e logo o
casal está dividindo a cama. Nada de anormal para os tempos atuais, mas a
credibilidade do romance se esvai pela rapidez com que tudo acontece. No segundo
dia de namoro Billy já oferece um anel de noivado, uma joia antiga com uma
inscrição no interior. Não era uma herança de família, mas sim um objeto
adquirido em um antiquário e que logo chama a atenção de Jeanie (Eva Longoria),
amiga de Emily que com seu sexto sentido apurado sente uma vibração negativa
vinda do anel. Realmente, depois que ganhou o presente a advogada passou a
presenciar diversos eventos estranhos. Televisores e rádios ligam e desligam
sozinhos, as luzes não funcionam quando preciso e a estranha aparição de uma
mulher torna-se corriqueira. Intrigada, Emily vai até a loja onde seu noivo
comprou o anel e descobre que ele pertenceu à Marie Salinger (Leigh Jones), uma
jovem que em 1969 sumiu misteriosamente. Detalhe, mais tarde ela descobrirá que
o dono do antiquário com quem conversou também já estava morto.
Com a ajuda do detetive Edward
Landry (Gary Grubbs) que investigou o caso na época, Emily chega ao nome do
principal suspeito, Paul Hamlin (Chris Sarandon), o temperamental noivo de Marie
de quem a família da moça tinha repulsa. Como não foi achado o corpo dela,
apenas o dedo com o anel, o episódio não chegou aos tribunais e o possível
assassino ainda estaria a solta, assim a advogada sente-se na obrigação de
chegar à verdade e clamar por justiça, pois acredita que o espírito de Marie
não está em paz. Dizem que as joias preservam parte da essência de seus donos,
assim Emily sabe o porquê de estar tendo as tais visões, mas acredita que o
anel não foi parar em suas mãos por acaso e que alguma coisa no passado da
falecida tem a ver com ela ou com alguém que a cerca. O argumento está dentro
do que se espera do título
Quando os Mortos Falam, mas seu
desenvolvimento está bem aquém. As tentativas de comunicação entre Marie e
Emily soam forçadas, como as instruções em um programa eletrônico veicular
indicando o endereço de Hamlin, e já não causa comoção alguma uma protagonista
que carrega um trauma do passado e que luta contra a dependência de
tranquilizantes. Além disso, a obsessão da jovem em solucionar o mistério
deveria abalar seu romance, mas os intérpretes do casal atuam com tanta vontade
que pouco nos importamos com o que vai acontecer com cada um. Nem mesmo o
surgimento dos pais do rapaz, John (David Andrews) e Beth (Kathleen Quinlan),
com comportamentos estranhos ajudam a injetar algum ânimo em uma trama que logo
na introdução mostra seu pífio potencial. Apesar de o final ter sua lógica, o
clímax é insosso e por incrível que pareça o único personagem que desperta
algum interesse é o suposto vilão mesmo aparecendo pouco. Isso se deve ao seu
intérprete, Sarandon, o eterno mestre dos vampiros da versão original de
A Hora do Espanto, que surge como o
elemento curioso do filme. Como alguém que participou de uma obra marcante do
cinema trilhou uma carreira tão moribunda? Teria sua ex-mulher Susan (sim a
atriz!) levado sua sorte consigo carregando seu sobrenome após a
separação?
Suspense - 90 min - 2004 - Dê sua opinião abaixo.
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