NOTA 3,0 Comédia romântica italiana oferece três histórias que pouco refletem a essência do título nacional, além de usar Robert De Niro como chamariz |
Arrependido de ter traído a
noiva, Roberto passa a adiar a sua volta para refletir se deseja a impulsividade
e os riscos de se envolver com Micol ou o amor e a calmaria do relacionamento
com Sara. Para enrolar o espectador e espichar o fiapo de história o enredo
cria personagens secundários, boêmios que tentam ajudar o rapaz nesta decisão,
mas as conversas são desinteressantes e as únicas lembranças que ficam na
memória deste bloco é a participação de um policial metido a brincalhão e o
apuro do protagonista quando descoberto pela sogra da amante, diga-se de
passagem, piadinhas típicas de filmes hollywoodianos. Tal trama que deveria ser
o carro-chefe da produção, aquela que aguçaria a curiosidade de assistirmos as
demais, simplesmente faz o serviço ao contrário. Em essência ela reúne
ingredientes que poderiam dar liga, mas o que vemos na tela é um produto
encruado, faltou ou sobraram ingredientes na mesma proporção. Só mesmo quem
gostou do filme original pode ter a esperança de que as coisas vão melhorar e
seguir adiante. A segunda unidade refere-se à maturidade e nos apresenta à
Fabio (Carlo Verdone), um famoso jornalista de TV que possui um casamento
aparentemente estável e é um pai dedicado, mas mesmo assim acaba se envolvendo
com a sedutora Eliana (Donatella Finocchiaro), uma mulher que o leva à loucura
a medida que seus transtornos psicológicos vêm à tona. Quando se cansa da
brincadeira de levar uma vida dupla, o santinho como perfil público e o devasso
entre quatro paredes, a amante se sente ameaçada e começa a chantageá-lo com um
vídeo comprometedor que pode destruir tanto sua vida pessoal quanto profissional.
O episódio é puro humor pastelão, com direito ao casal algemado em lugar
público e dependendo da chave escondida em um lugar muito suspeito, mas não
cativa. Escancaradamente é uma tentativa forçada de conquistar atenção
recorrendo a piadas comuns de produções americanas e a falta de sutileza acaba
se transformando em constrangimento para o espectador. Os personagens da fase
jovem e madura têm em comum o fato da pulada de cerca os alertar sobre a
importância de seus relacionamentos sérios, mas depois destas aventuras será
que o amor que sentem por suas respectivas companheiras continuará o mesmo?
Por fim, representando a idade
mais experiente, a “mais além” anunciada como intertítulo, temos Adrian (De
Niro), um historiador norte-americano já sessentão que está vivendo na Itália
desde seu divórcio. Ele é muito amigo de Augusto (Michele Placido), cuja filha
Viola (Monica Bellucci) está de volta depois de uma longa temporada fora do
país, entretanto, um segredo seu é descoberto e ela acaba sendo expulsa de
casa. Adivinhem a quem ela vai pedir abrigo? O problema é que Augusto é zelador
no prédio de Adrian e o pai amargurado não vai gostar nada da relação que
nascerá entre o amigo e a filha. Outrora um renomado ator, De Niro parece
disposto a terminar sua carreira na linha do retrocesso. Praticamente desde o
início envolvido com projetos cultuados e de importância, já faz alguns anos
que o astro tem participado de projetos fracos e deve ter se arrependido de
fazer a fita italiana. Embora seu bloco dure cerca de 40 minutos, é perceptível
seu desconforto com a produção, a mesma sensação que deve ser vivida pelo
espectador. De qualquer forma, das três tramas esta última é a mais bem
desenvolvida, muito por conta do empenho dos atores que emprestam credibilidade
às suas criações e às situações que vivenciam, mas não é o suficiente para
salvar o longa. Primeira parte fraca, a segunda constrangedora e a terceira é
razoável, porém, a essa altura já estamos saturados e fica difícil se
concentrar em uma fração do filme quando mais da metade dele revelou-se um
tremendo engodo. Para completar, entre uma história e outra, o ator Vittorio
Propizio surge como um taxista metido a cupido, com direito a arco e flecha,
que encara a câmera para declamar frases melosas e clichês a respeito da
paixão, mas sua participação é totalmente descartável. Apesar de a ideia
central apontar para múltiplos caminhos, As Idades do Amor falha por abordar
três fases do sentimento sob a ótica de personagens que não cativam e o
desequilíbrio entre comédia e romance torna-se uma provocação ao espectador.
Até existem alguns poucos momentos bons, mas eles funcionam de forma isolada,
no conjunto apenas ajudam a assinalar o grande equívoco que é esta obra que
ainda tem o agravante do machismo rebaixando as personagens femininas
principais a figuras dissimuladas, psicopatas e despudoradas. Pelo menos não é
necessário assistir ao primeiro filme para compreender este, são produtos
independentes. Aliás, o terceiro filme da série Manual do Amor ganhou até outro nome no Brasil já que o segundo
capítulo não foi lançado por aqui, mas provavelmente deve ser tão ruim quanto
seu sucessor.
Comédia romântica - 125 min - 2011
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