Nota 7 Obra pouco causa sustos gratuitos, preferindo sugestionar o medo, mas narrativa é frágil
Filmes sobre casas assombradas existem aos montes, mas poucos resistem a ação do tempo. Terror em Amityville é um dos poucos títulos do tipo que ainda permeiam a memória de alguns fãs de terror. Nos tempos do VHS conhecido como Amityville – A Cidade do Horror, o longa dos anos 1970 ainda exerce certo fascínio devido ao fato de ser inspirado em uma impactante tragédia real envolvendo ocultismo. Localizada em Long Island nos EUA, a história desta casa ficou mundialmente famosa na época e foi perpetuada com o passar dos anos. O roteiro é baseado no best seller homônimo de Jay Arson, que conta relatos supostamente reais de experiências assustadoras vividas por uma família que ousou morar na mesma residência onde um ano antes, em 13 de novembro de 1974, Ronald Defeo Jr. matou a sangue frio os pais e os irmãos alegando ter agido guiado por vozes misteriosas. O roteiro de Sandor Stern capta a essência da obra literária, no entanto, adiciona diversas modificações ou invenções para torná-lo mais aterrorizante. Os créditos iniciais ilustrados pela fachada da casa com duas grandes janelas no alto refletindo luzes vermelhas já enfatizam que o local possui forças demoníacas, algo comprovado logo em seguida mostrando os assassinatos dos Defeo rotulados como um fatídico episódio.
Alguns meses depois, embalados pela felicidade da recente união, Kathy (Margot Kidder) e George Lutz (James Brolin) se entusiasmam em comprar a tal residência oferecida por uma pechincha, mesmo sabendo das mortes que ocorreram por lá. Com três enteados pequenos para criar, o rapaz acredita que outro casarão tão espaçoso como esse e a um preço tão baixo não conseguiriam encontrar e, acima de tudo, construções não tem memória, o que passou entre aquelas paredes em nada iria interferir na rotina dos novos moradores. Ledo engano. A própria corretora mostra-se incomodada com a atmosfera do lugar que parecia já acumular má fama, tanto que o Padre Malone (Rod Steiger) surge para abençoar o recinto. Sem querer atrapalhar um momento de diversão dos Lutz, o religioso, que já era aguardado, entra de mansinho na casa, prepara seu material de benção, mas rapidamente passa a ser afrontado por vozes sinistras que pedem sua saída e é atacado por insetos que o fazem adoecer gravemente. A família nem percebe a visita do padre, mas aos poucos acreditam que a reza fez falta. Enxames de moscas, vultos e ruídos de janelas e portas que se fecham sozinhas começam a perturbar a vida dos moradores, além da irritante ideia de que a caçula mantém contato com uma amiga imaginária possessiva. No entanto, o patriarca é o mais afetado pelos eventos inexplicáveis. Sua disposição para o trabalho braçal para transformar a nova moradia em um aconchegante lar pouco a pouco vai sucumbindo à preguiça e a irritação.
Mesmo assustados, o casal ainda busca explicações racionais para tudo o que está acontecendo, mas tudo leva a crer que forças ocultas estão agindo e talvez até tenham atraído George já que alguns moradores da região se espantam com a semelhança física dele com o assassino dos Defeo. E é assim, entre um susto aqui e outro acolá, que o diretor Stuart Rosenberg tentou guiar sua narrativa por quase duas desnecessárias horas. Talvez tentando manter o realismo, o cineasta acabou criando uma obra limitada que prefere sugerir o horror ao invés de apresentá-lo graficamente e quando o faz derrapa feio. Os poucos efeitos especiais, já pouco críveis para a época, quebram o clima e acabam provocando risos. Por outro lado, a atmosfera soturna alcançada pela cenografia, iluminação e fotografia compensa qualquer escorregão visual, mas não narrativo. O roteiro apresenta algumas situações isoladas que em nada acrescentam à trama, como a visita de uma freira que não consegue ficar nem cinco minutos dentro da casa, fugindo apressadamente e parando no meio da estrada para vomitar. Depois disso simplesmente ela some. O fato é irrelevante, assim como gastar alguns minutos mostrando uma insossa festa, tudo para haver um motivo para os filhos dos Lutz ficarem sozinhos em casa com uma babá que também é vítima de uma trucagem do além, diga-se passagem, cena bem melhor realizada em sua refilmagem Horror em Amityville.
Apesar de toda aura de mistério a seu dispor, Rosenberg parece não saber o que fazer. Uma janela que abre sozinha aqui, uma cruz invertida ali, a bonequinha que parece mudar de lugar por conta própria e assim ele vai conduzindo o espectador até um final anticlimático. Aquela expectativa de um grande susto jamais chega, nem mesmo para arrematar a história. Ainda bem que pelo menos a loucura de George trata de ainda prender a atenção. O gancho lembra muito ao argumento principal do clássico O Iluminado, de Stanley Kubrick lançado um ano depois, mas não é tão bem desenvolvido. O cultuado cineasta era conhecido pelo perfeccionismo, assim suas obras demoravam anos para serem finalizadas e a coincidência do tema de um pai enlouquecido tentando matar a própria família em um casarão isolado poderia caracterizar um episódio de espionagem de bastidores, mas aí seria encher demais a bola de Terror em Amityville que já leva crédito pela nostalgia que oferece, ser o carro-chefe de uma das mais marcantes franquias de terror do cinema e ainda cativar novos fãs curiosos já que a tal casa continua de pé e há anos desabitada. Os Lutz teriam a ocupado por apenas 28 dias, a abandonaram às pressas e seus pertences jamais foram reivindicados, embora boa parte da mobília fosse exatamente a mesma que os Defeo usaram, o que reforça teorias de que os bens materiais captam energias.
Seja a casa amaldiçoada ou apenas uma triste coincidência entre os seus primeiros habitantes, é uma pena que uma proposta tão boa não tenha se tornado um grande filme. Sem a visão de almas penadas ou violência explícita, toda a carga de suspense deveria ser carregada pelos personagens, mas fica um pouco difícil acreditar que pessoas em sã consciência ignorariam tantos eventos misteriosos. Apesar de todos os boatos, a insônia do marido com hora marcada (às 03h15min da manhã, mesmo horário em que a chacina dos Defeo começou) e a própria Kathy que corriqueiramente tinha pesadelos com as tais mortes, a matriarca só vai em busca de informações a respeito dos eventos macabros quando o longa já está na reta final. A correria então entra em cena para envolver o espectador e fazê-lo esquecer de se questionar o porquê da possessão do protagonista. O roteiro apresenta uma desculpa esfarrapada para as energias negativas que impregnam naqueles que ousam colocar os pés lá dentro, mas não explica a razão de outras pessoas ficarem imunes. Mesmo não sendo tão impactante hoje em dia, a obra ainda consegue causar alguns calafrios, principalmente para quem conseguir transportar sua mente para a época do lançamento e tentar compreender o impacto de tudo o que envolve o famoso casarão de Amityville.
Terror - 118 min - 1979
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Esse filme é super legal, uma história bem forte
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