NOTA 4,0 Apesar de literalmente ser uma grandiosa produção, épico espanhol é tedioso e peca por condensar muitos eventos e excesso de personagens |
Filmes épicos costumam ter
público cativo e consomem orçamentos generosos, assim é de se estranhar quando
produções do tipo não chegam a ter lançamentos nos cinemas, ainda mais quando
se tem um nome de peso encabeçando o elenco. Apesar de ser uma produção
espanhola, Alatriste tem como protagonista Viggo Mortensen, na época ainda
se aproveitando da fama da trilogia O
Senhor dos Anéis, talvez por isso mesmo tenha sido recrutado para este
trabalho. Aqui ela dá vida ao capitão
Diego Alatriste, um soldado veterano do exército espanhol famoso por seus
heroicos atos, mas isso não o torna diferente. É apenas um homem sem aspirações
que sobrevive aos desafios que a vida lhe impõe. A trama se passa no século 17,
época em que a Espanha dominava boa parte do mundo e as áreas que não eram suas
subordinadas automaticamente passavam a ser consideradas inimigas. Reinava
então Felipe IV (Simon Cohen) e seus territórios eram governados com mãos de
ferro por seu ministro, o inescrupuloso conde-duque de Olivares (Javier
Cámara). Muitos países resistiram a dominação espanhola, mas foi Flandres
através de uma longa e cruel batalha que colocou a força do império em jogo.
Para contra-atacar, foram formados exércitos profissionais cujos principais
representantes eram veteranos da infantaria espanhola e Alatriste era um destes
homens. Em 1622, durante um ataque justamente em Flandres, Lope de Balboa (Alex
O’Dogherty), seu fiel companheiro de batalhas, acaba falecendo e confia ao
soldado seu filho para que ele tome conta. Um ano depois, regressando a Madri,
o capitão recebe uma carta da filha do falecido reiterando o pedido para que
acolha o irmão Iñigo (Unax Ugalde), jovem inteligente que desejava seguir
carreira como soldado, mesmo sem o consentimento da moça. Então porque fazer
questão que ele seja criado por um membro do exército? Os problemas financeiros
forçaram a situação e Alatriste o aceita em sua casa cumprindo sua promessa.
Nas guerras, o capitão geralmente era chamado para atuar como espadachim, mas
também costumava aceitar fazer saques e serviços de mercenários para nobres,
porém, sempre fazia questão de tomar alguns cuidados para não ferir sua própria
honra. Certa vez, lhe é encomendado pelo inquisidor Emilio Bocanegra (Blanca
Portillo – sim, uma mulher interpretando um homem), o assassinato de dois
hereges, estrangeiros desconhecidos que estariam em Madri sob atitudes
suspeitas.
Anos antes, já havia o desejo de
transformar a trajetória de Alatriste em filme e Antonio Banderas estava
interessado no papel principal e até em assumir o cargo de diretor, mas
provavelmente os direitos não foram cedidos na época devido a saga ainda não
estar praticamente completa. No entanto, a espera revela-se frustrante, sendo
que uma adaptação em formato de minissérie para a TV ou para consumo direto em
DVD poderiam ser opções mais interessantes e de respeito com o material
original. A obra poderia se encaixar perfeitamente aos propósitos do autor dos
livros, servindo como um registro intelectual de um período desconhecido da
História espanhola, uma época sombria em que o império começava a desmoronar
pelo comodismo de um rei fajuto que se fazia de cego diante de intrigas
palacianas e ações corruptas de mercenários. A partir das aventuras, dramas e
paixões do protagonista e também de Iñigo que vive uma conturbada relação
amorosa com Angélica, Yanes buscou traçar um panorama de cerca de duas décadas,
mas não conseguiu transitar por essa viagem no tempo com naturalidade. Os
constantes saltos temporais e mudanças geográficas das ações tornam tudo muito
confuso para o espectador e não colaboram para agilizar a trama, ao contrário,
a tornam ainda mais arrastada. Nem mesmo os personagens ajudam a prender a
atenção. Fora Alatriste que identificamos por conta do rosto conhecido de seu
intérprete, mas que também não desperta empatia, todos os demais personagens
surgem, somem, reaparecem ou simplesmente fazem uma ponta, mas não conseguimos
identificar por completo suas funções na trama, inclusive algumas passagens
chegam a parecer incoerentes diante do comportamento destas figuras. As cenas
de batalha não empolgam e o gancho romântico também não consegue trazer brilho
algum à uma produção literalmente escurecida. Apesar do visual obscuro, ele é
condizente com o período negro que a Espanha vivia. Cenografia e figurinos
ricos em detalhes e fotografia e iluminação privilegiando a penumbra fazem com
que pensemos duas vezes antes de tecer comentários negativos à obra, mas
infelizmente ela se resume a uma bela embalagem com conteúdo equivocado.
Desculpe o trocadilho, mas Alatriste realmente é triste de
aguentar. Em tempo: Reverte já havia tido outra obra sua mal adaptada para as
telonas, “O Nono Portal”, que virou O
Último Portal, com direção furada de Roman Polanski.
Aventura - 144 min - 2006
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